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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]
COLUNA DOMINGUEIRA

Até o lirismo morreu

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publicado em 26/11/2023 ás 08h04
atualizado em 26/11/2023 ás 08h16

Não existe mais o “Itinerário Lírico da Cidade de João Pessoa”, escrito por Jomar Morais Souto, publicado em 1962, um livro que é um desenho amoroso. Sequer, sequelas. Talvez, acácias, nunca mais carícias. É muito triste olhar o centro da cidade que já esteve em ruínas, agora despencando.

Eu não estou fazendo a minha parte, porque quem disso usa, cuida, mas não sou gestor e eu não nasci pra ser prefeito dissimulado. O que está acontecendo, estou mostrando no Instagram e não ficará pedra sobre pedra.

Ando pela cidade e vou filmando prédios, casas, coretos, que com o passar dos anos, estão destruídos e todos passam indiferentes. Eu digo todos, porque quem habita o Centro da cidade são os inquilinos de Jesus, e eles não dão nenhuma importância, nem sabem onde estão. Os políticos, os gestores, festejam as glórias em seus apartamentos de luxo.

Ainda agora tinha pensado há quanto tempo o Centro de João Pessoa vem sendo desprezado pelos prefeitos, há quanto tempo? Eu que todos dias estou na cidade pela manhã, onde trabalho no Tribunal de Justiça, tiro uma horinha de descuido e saio para filmar e posto no Instagram. Tem surtido efeito? Tem sim, gente de todos lugares solidárias, outras, detonam o poder público no que é mostrado.

O Ponto de Cem Réis, que não tem mais esse nome, é uma lamúria. Virou o ganha pão de ambulantes que, vez em quando são expulsos, mas voltam, pois cada um se vira como pode, né Petrônio Souto? Mas como pode o poder público deixar aquele edifício onde foi o antigo IPASE (foto) virar uma favela, o retrato da vingança de uma aldeia onde sopra o vento quente que seca os panos de bunda estendidos nas janelas, e o demo faz a curva.

A primeira postagem que fiz em vídeo foi do Edifício Régis, (foto) onde morei nos anos 70, que deu até agora 8.968 curtidas, 848 comentários e pasmem 228655 visualizações. Eu fiquei assustado, não sou blogueiro, nem influenciador, sou só jornalista, mas vi nunca tanta gente indignada com os gestores de braços cruzados. Aí você encontra um cara na rua e diz tudo bem? Ele responde tudo bem – ora, isso é uma de canção de Chico Anysio e Arnaud Rodrigues. Claro que não está tudo bem, né?

Anates da pandemia algum “comércio” ainda funcionava, hoje bulhufas. Tudo parece deserto.

Na movimentação de flanelinhas, mendigos, pingados de funcionários públicos, pedintes em portas de farmácias todos enfatizam ainda mais o abandono. O Centro de João Pessoa não dorme, nem acorda. Não sei como as putas do Pavilhão do Chá ainda consegue alguém para gozar dentro delas.

O Centro da cidade chegou ao êxtase da miséria, com golos e festanças de quentinhas, depois jogadas aos pés do monumento da Praça João Pessoa. Na cidade ninguém morre de aperreio, nem desespero, sequer de uma bala que falha o alvo. Nada. A cidade está morta. Às vezes penso quer eu já morri também.

Ninguém faz nada. Sinais de vertigem e logo a necessidade camuflar ou se camuflar, não passa da esquina.

Outro dia passei na Praça da Pedra e ouvi no rádio “Sambando na lama de sapato branco” da canção chico Buarque. Era eu?

Kapatedas

1 – Bem dizia minha tia Sinhá, “quando chegar o inverno vocês verão”

2 – Acho que vou fazer luzes no cabelo pra ver se clareia um pouco as ideias

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB