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Educador físico, psicólogo e dvogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Ex-agente Especial da Polícia Federal Brasileira, sócio da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. Autor de livros sobre drogas.

A FALTA DE ÉTICA E MORAL, É GENÉTICA OU ADQUIRIDA?

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publicado em 28/11/2023 ás 07h00
atualizado em 27/11/2023 ás 19h26

 

O comportamento humano sempre foi um dos temas mais pesquisados pelas ciências, especialmente pela psicologia, e as dúvidas e falta de previsibilidade das ações deste complexo animal que se diz racional, continuam intermináveis.

Muitas teses psicológicas tentam explicar as ações e motivações do comportamento humano que, por vezes, se manifesta de forma inesperada, imprevisível e até inimaginável.          Dentre as inúmeras teses psicológicas que tentam explicar o comportamento dos seres humanos, algumas destas são embasadas, principalmente, no pensamento do filósofo e médico, protagonista do empirismo, John Locke (1632-1704), que defendia a tese que “a mente do recém-nascido é uma tábula rasa – uma folha em branco, e que todo o conhecimento e aprendizagem decorrem da experiência, que é a tinta que preenche as páginas da vida”. E, assim sendo, com o passar dos anos, dependendo do meio ambiente em que este ser habite, a cultura dominante e as relações familiares e sociais vivenciadas, será então tal indivíduo bom ou mau. Seria assim, o comportamento, segundo esta tese, forjado pelo meio social em que habita.

Uma outra tese defendida originalmente pelo filósofo inglês Thomas Hobbes, afirma que “o homem já nasce mau, ele não sabe viver em sociedade, e precisa de um estado autoritário que dite as regras, as normas de convivência”, sendo assim, o ser humano é essencialmente mau. A maldade, portanto, seria uma característica nata da pessoa, e, dependendo dos freios impostos pela sociedade, partilhada por este e das oportunidades educativas a que for submetido, poderá aprender a conviver pacificamente no meio social.

Já uma terceira corrente de estudiosos defende a tese que o comportamento humano é forjado a partir de uma articulação entre a genética e o meio ambiente. Ou seja, tanto os genes como o ambiente social têm influência na formação do comportamento dos seres humanos. Atualmente, ao que parece, esta é a teoria predominante. Confesso que também me acosto mais às afirmações desta.

Não há dúvidas em relação à importância da ciência psicologia, que é a principal responsável pelo estudo do comportamento humano, em parceria com a sociologia, a filosofia etc. Contudo, independente do que rezam estas teorias, pode-se afirmar que há muito mais a ser descoberto em relação à mente humana do que o que já se sabe. Ou seja, ainda há um vácuo imenso em relação às motivações que levam o ser humano a agir desta ou daquela maneira.

Muitas vezes nos surpreendemos com o comportamento de cidadãos ou cidadãs do nosso próprio convívio, e que sempre demonstraram ser pessoas ordeiras, se envolverem na prática de ações antissociais abomináveis e até criminosas, como agressões violentas, atos de corrupção, furtos, roubos etc. E ficamos a nos perguntar: o que levou tal indivíduo, ou grupo, a tal fato reprovável socialmente?

O povo brasileiro culturalmente é tido como uma sociedade pacata, sorridente e ordeira, mas tem sido cada vez mais frequente assistirmos nos noticiários diários e até mesmo presenciarmos nas nossas ruas e espaços de convivência, cenas que retratam o caos ético, moral e também criminoso que crescentemente está invadindo o nosso país, em que a conduta de muitas pessoas parece depender cada vez mais da maior ou menor repressão estatal.

Tem sido comum que indivíduos aparentemente ordeiros e cumpridores da lei, mas que por um descuido de alguém ou mesmo pela ausência da fiscalização policial se achem no direito de saquear cargas quando um caminhão tomba em uma estrada, ou se apropriarem indevidamente do dinheiro a mais que a caixa do supermercado lhe passou por engano, por exemplo. E, na minha visão, pessoas que agem desta forma, não passam de bandidos camuflados de cidadãos ou cidadãs. Como bem disse o teólogo Sérgio Oliveira: “Se precisamos de polícia para sermos honestos, somos uma sociedade de bandidos soltos”.

Tais desvios de comportamento e falta de ética, muitas vezes, é atribuído ao reflexo da criação de algumas famílias, e até gerações, que foram educadas sem os limites e o amor, necessários, tendo como objetivo apenas o prazer do consumismo.

A permissividade exagerada, aparentemente inofensiva, e às vezes até ilegal de pais tolerantes, que, por exemplo, permitem que o filho menor dirija veículos nas ruas e estradas sem a devida habilitação legal, presenteiam o adolescente com veículos, permitem que este consuma bebidas alcoólicas sob o olhar omisso dos pais, dentro da própria residência destes etc., passando a estes jovens a mensagem que, quebrar regras e leis é permitido. E com este modelo deseducativo, alguns destes desvios de comportamento, se aprimoram com o tempo e vão para as ruas, na forma de outras ilicitudes mais graves e violências.

         Portanto, se faz necessário e urgente que o poder público nacional pelas suas diversas intituições busque minimizar a impunidade reinante no país, e a sociedade como um todo, começando pelas famílias, adotem os freios e limites legais e éticos necessários à boa e fraterna convivência social, pois, do contrário,  a continuar como está, iremos soçobrar inevitavelmente numa catástrofe que cada vez mais assola o “país do jeitinho”.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB