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Eu era menor que o balcão da biblioteca da Escola Industrial Federal da Paraíba, onde me matriculei, em 1968, depois de aprovado no obrigatório Exame de Admissão ao Ginásio. Ainda era Escola Industrial, nome que só mudaria em 1969, para Escola Técnica Federal da Paraíba, um novo mundo para mim, mais do que sedutor. Além da infraestrutura invejável, na parte estritamente educacional – salas amplas, carteiras confortáveis, corredores espaçosos, pátio acolhedor, biblioteca com um acervo excepcional, tudo idealizado para o bem-estar dos estudantes – havia a parte esportiva, com uma quadra, um campo de futebol, pista de corrida, caixas de salto… Poderia haver maior sedução para uma criança de 11 anos, cheia de energia e morando defronte a esse paraíso? Impossível!
Volto a esse tempo por causa do inestimável presente que recebi de meu querido confrade da Academia Paraibana de Letras, meu antigo diretor, o Professor Itapuan Botto Targino: o belo livro 100 anos do ensino industrial brasileiro: 1909-2009 (Ideia, 2009). Não se trata aqui apenas de um livro documental, com o intuito de registrar a importância o ensino industrial e técnico, para a sociedade brasileira. Ensino que atendia a uma classe social menos favorecida, permitindo a ascensão de tantos jovens e adultos que, sem a escola, sem a formação ali adquirida, dificilmente poderiam buscar uma condição melhor para si e para a sociedade em que viviam.
O livro do Professor Itapuan Botto é, antes de tudo, para mim, a celebração da memória afetiva. Eu, o filho de um doublé de açougueiro e carteiro, meu pai, com uma parteira, minha mãe, tendo outros oito irmãos, não teria tido grandes oportunidades na vida se não fosse a formação escolar, industrial, técnica e humana recebida nos 8 anos que passei na Escola Técnica, onde entrei menino e de onde saí um homem, preparado para enfrentar o que viesse. Foram 4 anos de ginásio, 3 de técnico, no curso de Mecânica, e um ano, como estagiário, ministrando aulas de Metrologia, Serralheria e Desenho Mecânico.
Ao passar as páginas do livro, com textos de Ângela Bezerra de Castro, como uma orelha-apresentação, e do eminente filólogo Evanildo Bechara, ambos professores de escolas industriais/técnicas, emocionei-me, relembrando a minha querida segunda casa, revendo pelas fotos as pessoas queridas de professores, que me ajudaram na minha caminhada – não digo ex-professor, porque não existe esta categoria, do mesmo modo não me considero ex-aluno, muito menos em se tratando de uma escola com uma importância inquestionável: professor Jordão, que me encantou com as técnicas da marcenaria e dos trabalhos tipográficos; professora Alaíde Chianca, que me abriu as portas para a Língua Francesa, permitindo futuramente que eu fosse professor em Paris X – Nanterre; professor Levino, mostrando que a Matemática é mais filosofia que números; professor José Maria Fonseca, grande diretor do curso de Mecânica; professora Luzia Bartolini, trazendo a beleza da Música, essencial na formação de jovens; o maestro Pedro Neves, meu doctor, na Banda Marcial; os amigos Jairo de Oliveira Souza, presidente do Grêmio Estudantil, de cuja gestão participei, e João Batista de Oliveira, que chegou a Diretor e Reitor…
Seria impossível não ser tocado intimamente pelo livro de Professor Itapuan Botto, a quem liguei de pronto, para agradecer o belo presente, não pelo fato de ser um livro, o que por si só é um presente incontestável, mas por ver, ali, reconstituída uma parte importante da minha vida. Tão importante que confesso: nem a Universidade Federal da Paraíba me deu o que a Escola me proporcionou: uma formação completa que se abriu à aquisição de novos saberes, complementados, em seguida, com a formação universitária, como estudante e, posteriormente, por 38 anos, como professor.
Resta-me, portanto, agradecer efusiva e emocionadamente ao meu querido Itapuan Botto Targino, pela direção exemplar com que guiou os destinos da Escola e o destino de muitas vidas, dentre tantos, o meu.
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TURISMO - 19/12/2024