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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Tonha tem câncer

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publicado em 02/12/2023 ás 07h00
atualizado em 02/12/2023 ás 08h21

Pessoa adorável, nossa vizinha Tonha está na luta contra o câncer. Tonha está careca. Ela não se importa. Sem cabelo, não usa lenço, sem choro nem vela.

Não sei se os anos anteriores foram, possivelmente, os anos felizes da vida dela. Se foram felizes, já passaram. E o que passou, passou. Se foram felizes, já valeu ter vivido.

Não é estranho, dado que ao fim das contas, dos tempos vividos, somos todos vulneráveis. As pessoas com câncer são vítimas de uma hecatombe. Haverá uma saída?  Acho que sim, acho que não. Mas não deve ser fácil receber o diagnóstico.

Quando soube que ela estava com essa doença, nunca quis saber onde. O que normalmente se pergunta: onde é o tumor? O câncer é um bicho, alguns agressivos, outros se espalham e matam.

Já perdi tantas pessoas com câncer, pai, irmão e amigos. Uns bem depressa, outros alucinados tomando morfina.

O câncer é uma brutalidade em adultos, idosos e crianças. Muitos dão depoimentos fantásticos dizendo que estão curados – a probabilidade anda em círculo.

O câncer chega e desorganiza à vida de qualquer um. Tonha tem câncer. Casada com Seu Ulisses, tiveram dois filhos: David e Joninha – um foi embora para o Canadá, e o outro ainda mora com os pais.

Tonha nunca foi arrogante, é uma pessoa do bem, capaz de se multiplicar para ver o sol, tomar banho de sol, banho de sol.

Tonha anda de bicicleta, nunca mais a vi pedalando…

A vida e suas sementeiras –  as flores do bem e do mau, tardes longas e olhares celestes.

Ficamos pálidos, quando não vemos o sol.

O meu amor por Tonha vem de longe, das correntezas do Rio Jaguaribe, que passa atrás de nossas casas.

A vida é uma consequência, é uma sobrevivência. Ela nunca reclamou da doença.

Com Tonha não existe medo, nem desespero, sequer algo confuso, nessa irrealidade dos dias demasiados sofridos.

Com Tonha a guerra está apenas começando, para outros, já acabou.

Salve, Tonha!

Kapetadas

1 – Se não for pra ser inesquecível, eu nem entro na sua vida.

2 – Certezas dão sono, incertezas tiram.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB