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GUERRA

Rebeldes afegãos atacam delegação do governo que investigava massacre

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publicado em 13/03/2012 ás 09h25

CABUL — Insurgentes atacaram nesta terça-feira uma delegação do governo afegão que visitava o local onde no último domingo um soldado americano matou 16 civis. Uma fonte do Exército do Afeganistão disse à BBC britânica que o grupo foi confrontado por membros do Talibã. Ao menos um soldado afegão morreu no incidente.

Dois irmãos do presidente Hamid Karzai e outros importantes membros da equipe de segurança afegã estavam no comboio atacado por insurgentes nesta manhã. Além do soldado morto, outras três pessoas ficaram feridas. Um repórter da agência AFP no local disse que a troca de tiros durou des minutos, já uma outra testemunha descreveu o tiroteio como uma “chuva de balas”.

Um dos irmãos de Karzai, Qayum, contou que a princípio pensou que o ataque não era sério e que a delegação chegou a achar que os tiros tinham partido do próprio Exército e eram disparos para o alto. Em entrevista à agência AP, Qayum disse que a delegação estava salva e no caminho de volta para a cidade de Kandahar. Abdul Rahim, que também estava no comboio oficial, disse que o governador da província, Toryalay Wessa, estava tentando explicar aos moradores que o episódio com o soldado americano era um caso isolado.

— Mas as pessoas estavam gritando e muito bravas. Elas não escutavam o governador. Apenas acusavam ele de defender os americanos ao invés de defender o povo de Kandahar — explicou Rahim.

Cerca de dois mil estudantes participaram nesta terça-feira de um grande protesto no leste do Afeganistão pela matança dos 16 civis. Os manifestantes gritavam indignados lemas contra o soldado americano, na cidade de Jalalabad e exibiam cartazes que pediam um julgamento público do culpado.

No último domingo, um soldado americano invadiu casas em uma pequena cidade de Kahdahar, matando 16 civis, entre eles nove crianças e três mulheres. Segundo militares, o recruta teria tido uma crise nervosa. A Otan e os EUA condenaram o episódio e pediram desculpas ao presidente Karzai, mas a chacina serviu para aumentar ainda mais o sentimento antiamericano no país. Na segunda-feira, o Talibã prometeu vingar as mortes, e nesta manhã o grupo ameaçou decapitar militares americanos em retaliação.

"O Emirado Islâmico mais uma vez adverte os animais americanos que os mujahideen lhes vingará, e com a ajuda do Alá vamos matar e decapitar os sádicos soldados assassinos", disse o porta-voz do Talibã Zabihullah Mujahid em um comunicado enviado por e-mail, usando os termos que o Talibã usa para se descrever.

EUA estariam cogitando acelerar retirada – O presidente americano, Barack Obama, vai se reunir na quarta-feira com o premier britânico, David Cameron para negociar o plano de retirada de suas tropas do Afeganistão. Apesar de a Casa Branca reiterar que vai manter o calendário da desocupação afegã, Washington estaria estudando acelerar a retirada para deixar apenas 20 mil homens no país até o final de 2013.

A aceleração sempre foi uma opção a se considerar para o Exército americano, mas, com a matança de civis por um recruta americano no último domingo e a recente queima de exemplares do Alcorão em uma base militar dos EUA, Washington começou a estudar melhor esta alternativa. Nos últimos meses, tropas estrangeiras viram uma escalada do sentimento antiamericano no Afeganistão, e militares estão sob alerta no país, com medo de retaliações.

Obama, no entanto, garantiu que nenhuma nova decisão foi feita em relação à retirada. Em entrevista a uma rádio, o presidente alertou para as consequências que uma aceleração poderia ter.

— É importante que nós tenhamos certeza que vamos sair de maneira responsável, para que não tenhamos que acabar voltando — disse Obama.

Os EUA têm hoje pouco menos de 90 mil homens no Afeganistão. Até setembro, 22 mil terão voltado para casa. Ainda não há novas datas para o retorno dos 68 mil que vão continuar em Cabul, mas Obama garantiu que a retirada vai continuar “gradualmente” até Washington transferir para forças afegãs a segurança do país.

O Globo