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Educador físico, psicólogo e dvogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Ex-agente Especial da Polícia Federal Brasileira, sócio da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. Autor de livros sobre drogas.

Viciados em medicamentos – Farmacodependência

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publicado em 05/12/2023 ás 07h00
atualizado em 04/12/2023 ás 20h07

O consumo indiscriminado e crescente de medicamentos no Brasil é alarmante e extremamente perigoso. Isto deve-se principalmente a fatores como a voracidade comercial dos grandes laboratórios, a máquina da propaganda da indústria farmacêutica, a cultura de automedicação de muito(a)s usuário(a)s aliada a conhecida “empurroterapia” do(a)s balconistas das farmácias e drogarias que recebem prêmios dos laboratórios para atingirem as metas de venda, e também à ação de alguns médicos, que prescrevem medicamentos de forma pouco criteriosa.

Estes fatores juntos têm contribuído para o surgimento de um número cada vez maior de dependentes de drogas legais – terapêuticas. É a chamada farmacodependência. Você é um(a) deste(a)s?

É comum nos lares brasileiros a presença de uma pequena farmácia particular em cuja gaveta são guardados inúmeros medicamentos com os quais tentamos remediar as dores do corpo e até mesmo da alma. São analgésicos para sanar a dor, ansiolíticos para a ansiedade ou mesmo relaxar, anti-inflamatórios, anfetaminas para conter o apetite etc.

E assim, este consumo desenfreado e abusivo de drogas terapêuticas, tem acarretado cada vez mais prejuízos à saúde do(a)s usuário(a)s, podendo ser até mais danosos que aqueles provocados por aquela “maconha” que você encontrou na gaveta do seu filho adolescente, e que te deixou apavorado(a).

Como afirma o psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo, Dr, Dartiu Xavier da Silveira: “…do ponto de vista científico, não há diferença entre um dependente de cocaína e um viciado em remédios que contêm anfetamina”.

O Brasil, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, OMS, tem dezenas de milhares de rótulos de medicamentos com variações de milhares de substâncias. Certamente um exagero, considerando a lista de medicamentos essenciais para o bem-estar da OMS, que é de apenas 300 itens. No nosso país há uma farmácia ou drogaria para cada três mil habitantes,  aproximadamente. Isto é mais que o dobro do recomendado pela OMS. Há mais pontos de venda de remédios no Brasil  que de pão. Imagine o de livrarias…

Por tudo isto, os laboratórios farmacêuticos, se constituem na atualidade, num dos negócios mais lucrativos do planeta. A contradição é que enquanto os laboratórios estão cada vez mais saudáveis do ponto de vista financeiro, a imensa maioria dos habitantes do mundo permanece doente.

Neste sentido, comungo com o pensamento de uma médica amiga, que disse o seguinte: “…a indústria farmacêutica não deseja a sua morte, mas também não tem interesse que você fique bom”.

É comum que esta indústria lucrativa invista principalmente em medicamentos para doenças crônicas, como a diabetes e problemas cardíacos, por exemplo, pois são drogas que o paciente vai precisar consumir até o fim da vida. E não ficam por aí os investimentos. Com o fim de induzir os médicos a prescreverem seus medicamentos, os laboratórios têm sido cada vez mais generosos com estes profissionais. Tal mimo não fica restrito às amostras grátis, mas incluem, muitas vezes, jantares em restaurantes de luxo, viagens internacionais e participação em congressos, com tudo pago.

Num passado recente, o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, CREMESP, Pedro Paulo Monteleone, acusou os laboratórios de intervirem de forma abusiva no setor médico. Segundo ele, estes patrocínios dos laboratórios teriam criado uma situação de dependência, que em alguns casos, praticamente havia transformado os congressos médicos em encontros propagandísticos dos laboratórios.

Segundo alguns especialistas, os casos mais comuns de farmacodependência estão relacionados aos benzodiazepínicos (calmantes) e as metanfetaminas (usadas como moderadores de apetite). Contudo, estes estudiosos reconhecem, que há uma classe de pessoas que está mais propensa a desenvolver esta dependência, os hipocondríacos, pois estes estão sempre ingerindo medicamentos e, assim sendo, se tornam mais vulneráveis à dependência.

Enfim, precisamos ter consciência que, a maior parte das doenças do ser humano, podem ser curadas pela ação do próprio organismo. Segundo o Dr. Daniel Sigulem, professor da UNIFESP, “…o que precisa ficar claro é que a ausência de remédios na vida de uma pessoa é uma garantia e quase sempre um sinal maior de saúde do que a presença deles”. E esta informação jamais encontraremos na bula de qualquer medicamento.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB