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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Escravizados 

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publicado em 10/12/2023 às 08h44
atualizado em 10/12/2023 às 05h45

Tenho visto muitos escravizados brancos nas ruas, mas dizem que ainda há fazendas escondidas no Brasil com escravos negros, não acorrentados imagino, mas escravos. Ser escravizado já é uma corrente.

Somos todos da mesma Caverna de Platão (foto), cujas “sombras projetadas em seu interior representam a falsidade dos sentidos, enquanto as correntes significam os preconceitos e a opinião que aprisionam os seres humanos à ignorância e ao senso comum”.

Os brancos sempre maltrataram os negros – ainda o fazem, desde quando os escravizados eram suas mercadorias. Hoje, eles matam publicamente, são filmados e me parece que isso enuncia um desejo de nitidez infeliz do homem mau.

A evidência das cenas é visível, pois, configura-se o escravizado branco, como um ser escorregadio, medíocre, que tenta sobreviver, não estuda e vira escravo por escolha, mas sequer, ascende na profissão. Eu disse profissão? Ficam escravizados até serem substituídos, digo descartados, por outros escravos… brancos. Escravizado é escravizado, né?

Percebo que os escravizados brancos usam bons perfumes,  não são inteligentes, elegantes, sobreviventes de uma imposição, uma ordem na desordem do enquadramento social, através do qual eles são submetidos. Chegam a rastejar em público.

Claro que esse viés se excede, mas não capota – geralmente eles entram para o mercado de trabalho quando jovens – e não capotam. Nesse sentido, eles mantêm um olhar domesticado, e não contestam a soberania daquele que o escraviza, pelo contrário: são muito atenciosos, mas ficam mal na fita o tempo todo.

Eu gostaria de ter sido um espião, sem a escravidão que oficio exige. Eu escuto e vejo as palavras e as pancadas. O escravo branco cumpre sua tarefa, extrapola, janta com os patrões, mas ele e o patrão são símbolos, uma referência que se perde de vista, e nunca serão iguais, jamais.

O escravo branco, esse ser constituído pela multiplicidade dos gestos e não pela unidade de fidelidade que a história poderá lhe conferir, quando é convocado para assumir o cargo de escravo mor do pedaço.

Tem pessoas que querem me escravizar, mas não conseguem. Sim, existem os agraciados do nada, de ser uma presa fácil ou muito cara, mas caro mesmo é permanecer escravo, que não tem sindicato, não tem aumento de salário etc. O mais difícil é ver um escravo se impondo, sequer, na tentação que deriva do olhar. Nunca, eles não conseguem.

Minha mãe dizia que eu pedisse até penico, eu peço, mas não sou escravo de nada, de ninguém e não tenho escravos.

Conheço um cidadão branco da cidade, que há tempos perdeu o juízo final, mas que trata alguns conhecidos ou “amigos”, como seus escravizados. Usa e abusa de seus escravos cultivados. Existe isso, escravo cultivado?

Nada mais, nada além. Sim, eu também sou escravo – dos livros. A poesia, a prosa, é o suporte onde me inscrevo para viver livre. Escravos brancos não leem. Não é só por não gostar, mas porque são escravos 24 horas.

Escravizados brancos? Existe isso mesmo? Ou será que serão substituidos por robôs?

Kapetadas

1 – Toda sociedade tem os influencers que merece.

2 – Se usássemos bem o espelho, 90% das idiotices seriam evitadas.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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