João Pessoa, 12 de dezembro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A humanidade vive atualmente sob o comando da tecnologia, inclusive em relação às comunicações entre as pessoas. O que predomina é a telecomunicação. O ritmo das informações é alucinante, e isto proporciona aos seres humanos a capacidade e o privilégio de informarem-se e comunicarem-se de forma instantânea. Mas será que esta facilidade tecnológica se constitui realmente num bem para a humanidade? Ou estamos apenas mais informados e menos integrados socialmente?
Certamente todo este avanço tecnológico traz grandes facilidades em muitos aspectos, a exemplo do acesso às informações e até mesmo no “encurtamento das distâncias”, haja vista o incremento dos meios de transporte. Mas, no que se refere às relações humanas, esta marcha acelerada dos acontecimentos tem sido certamente a geradora de prejuízos significativos aos relacionamentos familiares e humanos. Como bem afirma a neuropsicóloga Morgana Andrade: “…O diálogo familiar está em crise. A comunicação virtual entrou nos lares emudecendo as pessoas, e enclausurando pais e filhos em quartos separados…”.
É sábio o adágio popular quando afirma que: “a pressa é inimiga da perfeição”. A comunicação virtual é muito rápida, mas também volátil. Com a mesma instantaneidade que chega também se evapora. Acontece geralmente sem calor humano, sem um contato físico entre os comunicadores, e comumente de forma estanque, desumana e, portanto, incompleta. É o que se pode chamar de “quase” comunicação.
Esta volatilidade não é restrita apenas à vertente informação. O mundo contemporâneo está vivendo sob o modismo dos descartáveis Desde um utensílio doméstico simples, como um copo para beber água, a uma relação humana tão importante como o casamento, e até mesmo o valor da vida das pessoas, tudo se tornou volátil e extremamente descartável. Os seres humanos perderam a capacidade de lutar pela durabilidade das coisas, pela longevidade das relações e, por vezes, repito, até da vida. A pressa imposta pela tecnologia desenfreada que tem sempre como fim principal e único o consumismo, castrou da humanidade a completude das suas ações. Vive-se atualmente a ditadura do “quase”, em que muito é idealizado, comentado e até iniciado, mas quase nunca finalizado. É um emprego que quase consegui; é um amigo que quase fui visitar; é um “eu te amo” que quase falei para o meu filho ou para a minha esposa etc., mas tudo ficou no meio do caminho.
Os seres humanos precisam parar um pouco. Fazerem-se mais presentes nas suas relações, persistirem nos seus sonhos e, consequentemente, concretizarem suas ações. Não se pode continuar estacionados na incompletude do quase.
Assim afirma sabiamente o escritor Luís Fernando Veríssimo: “… Ainda pior que a convicção no não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi”. E complementa: “Embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu”.
Neste final de ano que se aproxima, desejo às pessoas não a quase felicidade, mas a felicidade plena, não o quase amor entre os membros das famílias, mas sim o amor de forma abundante e completa entre todos os seres humanos, e que a harmonia, a fraternidade e a justiça sejam inteiras e transbordem em todos os corações humanos.
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OPINIÃO - 22/11/2024