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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Esse mundão de meu Deus…

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publicado em 22/12/2023 ás 07h00
atualizado em 22/12/2023 ás 00h13

Esse mundão que se espraia dentro de nós e para além de nós é um ser muito escroto. Escroto é forma de dizer, mas esse mundão não está nem aí. É cego, mudo, neutro. Talvez seja o nada ou apenas um estado dele, sem teleologia, um porra-louca andando em velocidade estupenda pelos espaços vazios dele mesmo.

Pensar assim é libertador. Saber que você, como parte desse mundo, acompanha a loucura dele, o sem sentido dele, muito embora esse negócio de sentido não faça sentido algum para uma formiguinha pisoteada por um humano, que acreditava (a formiguinha) piamente em um Deus a sua imagem e semelhança.

Mas isso traz o desconforto. Todo sem-sentido remete à morte e a morte é o ponto cego da razão humana, porque inexplicada. Que sentido tem a morte se a vida não a compreende? A morte é isso: uma condição  epistemológica negativa do conhecimento, ou, para quem acredita no paradoxo da vida após a morte, a morte é a própria vida que se esgarça nas andanças do universo, muito embora, como já se disse, o universo esteja desembestado em seu deslumbre.

Mas eu já sou adulto, neófito nas dores, uma flor retorcida em suas revoluções contumazes, por isso sacudo as asas e com elas dobro o meu futuro sobre ele mesmo. E se nascem outras asas, digo que é sonho novo; e se outras luzes se acendem no horizonte, digo que é um novo traje; e se o peito palpita outras vontades, digo que são arroubos da juventude tardia; e se há a prescrição de boa nova, fecho os olhos e quando os abro, sou carregado nos braços de um bicho feio e frio…Mas eu monto nele!

Assim, abrimos as asas, ainda que sejam de outras ceras derretidas. Eu vos digo: vou lutar, dançar com um pé só; rir do riso; e chorar e ser o que puder ser, não-ser, me permitir os contraditórios. Ir-em-mim, como esses riachos velhos fedidos que ainda assim se permitem florescer! Sim, eu sou essa formiguinha besta perdida nesse mundão de meu Deus.

São assim, as nossas andanças.

@Professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB