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Kubitschek Pinheiro
Vieira como é conhecido, também José Vieira, nunca por Neto, o jornalista José Vieira Neto é dos destacados jornalistas paraibanos, de elevando talento – nem precisava, mas concluiu o curso de Comunicação Social em abril de 1985 na Universidade Federal da Paraíba. Tá na cara dele, o repórter indomável, que nunca deixou de ser, embora esteja aposentado – jornalista não se aposenta, né José?
Ele é sertanejo, nasceu em Pombal, mas é cidadão cosmopolita – conhece o mundo, conduzido pelo Canal VidaArretada, dele e da mulher Roberta. Bem cedo começou na Rádio Universitária, onde já atuava como estagiário. Com menos de um ano de formado, veio o o sinal – ser correspondente da TV Globo Nordeste na Paraíba. Eram mais de 30 candidatos para uma única vaga. Ele ganhou.
Em 1986 foi correspondente na Paraíba no primeiro projeto nacional de cobertura das eleições. Emplacou reportagens nacionais no Globo Esporte, Jornal Hoje e Jornal Nacional. Tá vendo, Zé Vieira é um danado. E isso aconteceu na época do chamado padrão globo de qualidade e um nordestino dificilmente entrava “no ar” em ‘rede nacional’, mas Vieira driblou e fez gol.
Ainda na década de 80 integrou a equipe da TV Cabo Branco, afiliada da Globo na Paraíba que estava sendo inaugurada. Depois trabalhou na TV Tambaú e na TV Correio. Foi ele quem cobriu o sequestro de um diretor da Penitenciária Máximo – coisa de cinema.
Por mais de três décadas seu nome cresceu noutro segmento – assessor de comunicação no Poder Judiciário: Tribunal de Justiça, Ministério Público Estadual, Assembleia Legislativa, Tribunal Regional Eleitoral e Tribunal do Trabalho, e sempre como gestor.
O jornalista José Vieira Neto, encerra o projeto do Espaço K 2023 – que daremos sequencia já, já, em 2024. Leiam a entrevista e saibam mais desse cara, que não para, nunca se achou o máximo, o eterno Vieira.
Espaço K – Vamos começar por aqui – quem é o jornalista José Vieira Neto?
José Vieira Neto – Sou o eterno filho de seu Dedé e de Dona Odaci, o menino que ainda hoje corre pelas ruas da cidade natal, Pombal, no sertão da Paraíba, tentando entender a dinâmica do tempo, que passa tão rápido. Por isso mesmo, para não me perder em nenhuma esquina, recito, vez por outra, o grande Mário Quintana: “A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são 6 horas: há tempo… Quando se vê, já é 6ª-feira…Quando se vê, passaram 60 anos!” Este ano completei 60 anos e já adianto para a vida e para o poeta: vivi intensamente, fui aprovado com louvor, embora ainda queira fazer inúmeras ‘provas’.
Espaço K – Quando aconteceu a travessia de Pombal para João Pessoa?
José Vieira Neto – É incrível como me lembro dessa travessia, do dia e até da hora em que cheguei a João Pessoa, uma imagem incrivelmente viva. Era 18 de janeiro do já longínquo 1981, às 19h, quando desci do táxi na rua Vicente Jardim, 136, Tambiá. Vim para cursar o 3º ano científico, para fazer o vestibular para jornalismo, minha paixão e única profissão que exerci e exerço. Jornalista não se aposenta. Morei com meus tios queridos Odon e Dorinha. Só saí de lá para casar.
Espaço K – E o projeto Vida Arretada, seu e de sua mulher Roberta, uma viagem fantástica em torno do mundo. Tem ideia de quantas descobertas?
José Vieira Neto – Eu e Roberta decidimos, desde que começamos a namorar, que investiríamos em viagens, em conhecer novos lugares, pessoas e culturas. Quando tínhamos muito pouco dinheiro colocávamos a barraca e íamos acampar em qualquer praia. Coqueirinho era a nossa preferida, quando praticamente não era explorada. Como jornalista, sempre fotografávamos as nossas aventuras e virou uma espécie de rotina reunir os amigos para mostrar as fotos e falar das nossas aventuras. Depois, com uma câmera VHS, Roberta filmava e eu, já repórter, editava o vídeo para exibir no nosso videocassete. Fomos aprimorando e trouxe Roberta para a frente das câmeras. Hoje é melhor repórter do que eu. O canal, youtube.com/vidarrretada foi criando em 2008. E se eu tenho ideia de quantas descobertas já fiz?! Todos os dias são várias!
Espaço K – Tem algum fato curioso que foi além das imagens do Vida Arretada, encontraram alguém dentro das imagens?
José Vieira Neto – Temos histórias incríveis, de testemunhos, de milagres vivos, de muitos perrengues hilários. Tem uma história incrível, dessas que você acha que só acontecem no mundo imaginário. Estávamos vindo de uma viagem de Porto Seguro, na Bahia, quando, no sertão de Pernambuco, perto de Ibó, uma região que a polícia denominou de polígono da maconha, o carro quebrou. E quebrou feio. Já estava chegando a noite quando parou um caminhão carregado. Desceu um homem calmo, de voz suave dizendo que nos rebocaria até Petrolina, longe de onde estávamos. Disse que ali era perigoso e precisávamos ir para uma cidade. Não acreditei que seríamos rebocado por um caminhão e em um percurso tão grande. Cordas amarradas seguimos lentos até a cidade. Eu só pensava no alto valor que seria cobrado. O motorista não quis nenhum valor, mesmo com a minha insistência. Ele contou que um dia estava na estrada em um carro de passeio com a mulher e um filho pequeno. Chovia muito e o pneu furou. Um caminhoneiro parou retirou o pneu, levou à cidade, providenciou o conserto, trouxe de volta e não cobrou nada, disse apenas que ele passasse adiante. Quis o destino que eu fosse esse ‘adiante”. Adotei esse ‘adiante’ também. O que mais me surpreendeu foi quando perguntei o nome do homem que nos salvou: Jeová (que significa Deus em hebraico).
Espaço K – Se não me engano você fez a cobertura do sequestro do diretor do presídio. Conta pra gente aí?
José Vieira Neto – Sim, foi uma reportagem marcante para a época. Fiz algo inédito, e que hoje que é comum em TV, a narração direta do que estava acontecendo, da saída com os reféns, a perseguição na estrada, entrevista com o sequestrado e com um dos bandidos. O fato aconteceu já quase no final da manhã e ao meio-dia o vídeo estava no ar, no JPB1, da TV Cabo Branco. Essa velocidade era impensável para aquela época. O ‘ao vivo’ ainda era um sonho distante. Foi impactante para os telespectadores. Tempos depois fui o primeiro repórter de TV na Paraíba a fazer um ao vivo externo.
Espaço K – Quanto tempo José Vieira passou na telinha fazendo reportagens?
José Vieira Neto – Comecei na Rede Globo, Recife, em 1986, quando a emissora decidiu que teria um repórter exclusivo em cada estado do Brasil. Em 1987, com a TV Cabo Branco já funcionando voltei à Paraíba. Fui convidado para permanecer em Recife, mas decidi voltar. Esse retorno teve um fato marcante. O repórter Francisco José veio comigo a João Pessoa, me levou à direção da TVCB e disse ao inesquecível Aluísio Moura: “José Vieira não quis ficar em Recife e eu o trouxe aqui, é o meu afilhado”. Emocionante, né não? Até hoje mantemos uma grande amizade com Chico José. Fiquei mais de 20 anos na TV, em muitos períodos trabalhando paralelamente também em assessorias. Vida pesada!
Espaço K- Trabalhamos juntos em algumas gestões do TJPB e de cara ficamos amigos, você sempre paciente e ensinando e aprendendo. Depois você foi embora para o TRT. Qual sua impressão de ter trabalhado tanto tempo com chefe de assessorias desses poderes?
José Vieira Neto – Sempre digo que na essência sou e sempre serei um repórter. Um pouco de conforto financeiro me levou para as assessorias. Primeiro o TJ, depois a AL, O MPE, o TRE e, finalmente, o TRT. Tenho a alegria de dizer que imprimi profissionalismo por onde passei, em alguns órgãos fundei a assessoria. Zelar pela instituição, promover a atividade fim e dar retorno sempre aos colegas jornalistas eram prioridade absoluta, sem escamotear verdades e administrando com força e coragem todas as crises. E foram muitas! Passei a admirar o ‘mundo’ das assessorias e hoje, muita gente me conhece muito mais como assessor do que como repórter. Tive a alegria de conviver com profissionais gigantes na inteligência e no caráter e deixei muitos, muitos amigos verdadeiros. Você é um deles.
Espaço K – Eu me lembro quando não tínhamos filho, você dizia “se não tiver logo eu vou botar um na sua porta”. Realmente aconteceu isso?
José Vieira Neto – Essas histórias talvez tenham sido as mais lindas da minha vida. Nunca foram contadas publicamente. São histórias de alegria, de profunda alegria. E muito mais pela coragem e determinação de Roberta do que minha. Mais de duas décadas atrás fazíamos parte do ECC e sempre que sabíamos que uma criança havia sido abandonada providenciávamos a adoção para um casal sem filhos. Foram oito ou dez crianças. Hoje vejo essas crianças, que pareciam fadadas aos sofrimentos e à pobreza extrema, com um lar, ao lado de pais e irmãos dedicados e já médicas, advogadas e outros profissionais de grande valor. Ainda vamos contar essas histórias incríveis publicamente.
Espaço K – Falando em filhos, o segundo de vocês me parece foi adotado e logo vieram os outros. Poderia falar sobre essa alegria?
José Vieira Neto – É um amor sem fim, onde não existe comparação e nem diferença entre um e outro filho. É emoção completa, algo mágico, divino. Senti Deus falando comigo, aquele era o meu filho. E é! É bênção sem fim.
Espaço K – Vamos voltar no tempo – você fez o percurso da casa de seu avô, no meio da mata, quando o asfalto passou. Foi incrível aquilo, né?
José Vieira Neto – Respondendo às suas perguntas vejo como minha vida é completa de bênçãos. Tive uma infância livre, leve e recheadas de boas histórias. Do lado paterno minha avó, Inácia, era contadora de histórias e me inspirou a seguir o caminho do jornalismo. Sou um contador de histórias. Do lado materno tinha o meu avô, Sebastião, um negro lindo, cheio de amor. Ao lado da casa dele havia uma árvore que ele dizia que era minha e da minha irmã, Salete, e era onde ele armava um balanço sempre que chegávamos lá. Cinco anos atrás, quando completei 55 anos decidi procurar essa árvore. Parecia uma tarefa difícil, já que a casa do meu avô havia sido demolida. Mas eu encontrei a árvore e, muito mais do que isso, encontrei um pedaço emocionante do meu passado. Quem quiser saber mais convido a assistir ao vídeo no meu canal no youtube no link (https://youtu.be/VHJ4rizDJ-c?si=Pz6kkPS75WumJgak). Depois, Kubi, você me emocionou, escrevendo um belo texto sobre o vídeo.
Espaço K – O que José Vieira anda fazendo da vida?
José Vieira Neto – Mais elétrico do que nunca. Você já viu um aposentado sem tempo pra nada? Sou eu! Além da minha paixão, que é transformar em vídeo para o Vidarretada as nossas aventuras, estou em um projeto apaixonante, assessorando um amigo que tem a maior metalúrgica do nordeste. Tenho convites e propostas de parcerias para voltar a imprensa e muito mais. Uma das maiores vantagens da carreira de jornalista é que nunca nos aposentamos. Uma caminhada despretensiosa pela cidade já rende uma reportagem arretada. Você é mestre nisso.
Espaço K – É bom ser avó?
José Vieira Neto – Como minha ferramenta de trabalho é o texto, é escrever, jamais digo que algo é indescritível ou que estou sem palavras. Ser avô quebrou essa regra, só sabe quem tem o privilégio de ser. Por mais que eu escreva, não consigo expressar esse sentimento, por mais que eu diga, não consigo transmitir o tamanho da emoção. Ser avô é amar profundamente sem compromisso e isso é sensacional.
Espaço K – José Vieira tem paciência?
José Vieira Neto -Pense em um pergunta difícil de responder! Procuro ter calma, tranquilidade e serenidade, mas não é fácil. Percebi que ‘segurar’ tantas tranqueiras ao longo da vida não faz bem para o organismo. Na vida profissional, lidar com questões que não tinham nenhuma relação com a atividade fim da instituição, muitas vezes por pura vitrine, não me fizeram bem. Hoje, respondo à sua pergunta parafraseando os nossos hermanos argentinos: sim, pero no mucho!
Espaço K – O que você não gosta no ser humano?
José Vieira Neto – Hoje o que mais me irrita nos seres humanos é a falta de escuta. Ninguém mais tem paciência para ouvir a sua conversa, a sua história. As frases que você está construindo são cortadas ‘na tora’ por outra pessoa que está na roda de conversa. E muitas vezes com assuntos totalmente diferentes. As interações estão minguando. Poucas pessoas têm tempo para ouvir, daí a demanda alucinante por psicólogos, psiquiatras e ‘remedinhos’. Lembra de quando ligávamos para um amigo e dizíamos que precisávamos conversar, de um ombro? Tenho a impressão de que isso acabou, a tecnologia roubou a escuta e muito mais sentimentos dos seres humanos. E vai piorar, infelizmente!
OPINIÃO - 22/11/2024