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Botafogo-PB, Treze, Sousa

Retrospectiva: futebol paraibano surpreende e decepciona em 2023

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publicado em 31/12/2023 ás 18h13
Fotos: Estefinho Francelino/Cristiano Santos/Jefferson Emmanoel

Não é toda vez que o futebol paraibano impressiona, surpreende e movimenta o estado como 2023. O ano que veio para regularizar o calendário brasileiro e dar tranquilidade às federações estaduais trouxe também muitas surpresas no Campeonato Paraibano e nas séries C e D do Campeonato Brasileiro.

Diferente de 2022, a Paraíba não teria duas equipes na Série C, como aconteceu com Botafogo-PB e Campinense ano passado. Mas em contrapartida, teríamos três times na Série D. Além disso, as expectativas seguiam altas para as duas principais do estado: Botafogo-PB e Campinense.

No entanto, nada que era premeditado antes da temporada iniciar surpreenderia mais do que a própria realidade surpreendeu. Mais do que necessariamente o saldo final conquistado pelas equipes, a jornada de cada uma teve muitas novidades e surpresas que mudaram as narrativas previstas.

À exemplo, o Treze retomou ao caminho dos títulos e recuperou sua posição nacional, com vaga na Série D e na Copa do Brasil 2024; regional, com o retorno à Copa do Nordeste 2024; e estadual também, voltando ao topo. Botafogo-PB, na Série C, e Sousa e Nacional de Patos, na Série D, chegaram nas fases finais e estiveram próximos de um acesso tão esperado.

Por outro lado, as surpresas, que nos casos citados foram positivas, também trazem consequências que não foram igualmente boas. Ao estabelecer um nível maior, a cobrança, a dificuldade e os problemas aumentariam. E ao mesmo tempo que a surpresa trouxe alegrias e emoções, a queda foi mais difícil, traumática e complicada para o torcedor.

Botafogo-PB supera expectativas, mas decepciona

Torcida botafoguense no estádio Almeidão (Foto: Cristiano Santos/Botafogo-PB)

Nenhuma equipe paraibana vivenciou a montanha russa que o Belo experimentou no ano de 2023. Por se tratar da principal equipe do estado e que luta há dez anos pelo acesso à Série B, não existe temporada fácil ou com poucas expectativas. É subir ou subir. Esse é o objetivo.

No entanto, os primeiros meses de temporada foram ruins o suficiente para que o planejamento feito na pré-temporada fosse por água abaixo. Moisés Egert, técnico escolhido para iniciar os trabalhos no ano, foi demitido rapidamente, após eliminações na pré-Copa do Nordeste e Copa do Brasil e sequência de jogos sem vitória no estadual.

Por pouco a equipe não ficou de fora das semifinais da competição estadual, dois gols milagrosos nos acréscimos da última partida da primeira fase, contra o Nacional de Patos, colocou a equipe na fase mata-mata. Em compensação, o Sousa aplicou uma goleada de 5 a 1 para eliminar o Xerife do Nordeste na semifinal.

Um estadual abaixo das expectativas aliado à uma renúncia do presidente Alexandre Cavalcanti, início da gestão de Roberto Burity, novo treinador e uma reformulação do elenco fez com que o cenário se tornasse caótico. As expectativas baixas para a Série C trouxeram medos reais para os torcedores botafoguenses.

Apesar de tudo, a equipe se manteve diversas rodadas na liderança da primeira fase, bateu de frente e até venceu clubes que futuramente ganhariam o acesso e o título da competição. Chegou na fase seguinte confiante, ainda mais com uma vitória convincente na primeira rodada do quadrangular.

É justamente nessa parte que a decepção tomou de conta de muitas torcedores, que até chegaram a sonhar com um possível acesso. Mas a realidade foi cruel demais: cinco derrotas seguidas e uma eliminação amarga em casa, no penúltimo duelo. Apesar do saldo positivo no geral, o fracasso deixou a temporada com uma sensação devastadora.

+Fut: ex-auxiliar do Botafogo afirma que derrotas ‘apagaram’ sucesso na Série C

Sousa segue em crescimento e com os problemas de sempre

Jogadores e comissão antes do jogo (Foto: Jefferson Emmanoel/Sousa EC)

Impossível afirmar que a temporada 2023 do Sousa Esporte Clube foi um fracasso. A equipe conseguiu alcançar tudo que almejava esse ano? Não, mas esteve tão perto que a sensação foi de que se repetisse as partidas dez vezes, o Sousa ganharia em sete. Mas como a primeira vez é única e definitiva, nada deu certo.

Diferente do Botafogo-PB e de outras equipes do estado, o Dinossauro se manteve do começo ao fim com o planejamento feito ainda no final do ano passado. Renatinho Potiguar chegou ao clube e conseguiu colocar em prática um estilo de jogo atrativo, muitos gols e vitórias para a equipe da cidade Sorriso.

Apesar do primeiro jogo do ano ter sido uma eliminação na Copa do Nordeste, o clube se manteve firme durante todo o Campeonato Paraibano. Terminou na primeira colocação, com cinco pontos à frente do segundo colocado, e dono do melhor ataque da competição.

Apesar do título do Galo da Borborema, o Sousa fez um Campeonato Paraibano invejável. Eliminou o Botafogo-PB com uma goleada de 5 a 1 depois de ter perdido o jogo de ida. Perdeu também para o Treze no primeiro jogo da final, mas se recuperou com uma vitória no Marizão. Os pênaltis, por outro lado, não foram convidados para uma possível virada histórica.

Fugindo mais uma vez da tradição estadual, perder o título dentro de casa, num Marizão lotado, não atrapalhou em nada o planejamento. Renatinho Potiguar continuou no cargo, os atletas do elenco permaneceram e deram continuidade ao trabalho, que, mais uma vez, tomou proporções gigantes.

Assim como no Paraibano, o Sousa terminou a primeira fase da Série D como líder do Grupo A3, na frente de Campinense, Santa Cruz, Pacajus e outras equipes. Superou o trauma de 2022 e passou pelo Falcon no primeiro duelo de mata-mata, venceu Atlético-CE e caiu para a Ferroviária à beira do acesso inédito.

O fato de a temporada do Dinossauro conseguir ser analisada do início ao fim, como uma unidade, já é uma novidade na Paraíba. Desde 2021, a equipe puxa os limites no estado e mostra que é possível, sim, aliar bom futebol, resultados e poucos recursos com sucesso. Mas ainda esbarra na consistência curta e, neste ano, no desequilíbrio entre as regiões Nordeste e Sudeste.

+Fut: Aldeone anuncia criação de equipe de futebol feminino do Sousa

Os unilaterais: a dicotomia de Campina Grande

A narrativa construída nessa reportagem remete à capacidade das equipes paraibanas de surpreender, mas ao mesmo tempo decepcionar. Pois é, o mesmo vale para a cidade de Campina Grande. Diferente das demais, as duas principais equipes tiveram cada uma resultados que se complementam. Treze teve uma temporada curta e vencedora, enquanto Campinense jogou mais e sofreu muito mais.

Treze, o sucesso

Treze comemora título paraibano (Foto: Mário Aguiar/ge)

Começando pelo campeão paraibano, a temporada surgiu sem muitas expectativas, depois de um 2022 frustrante e sem conseguir no mínimo retornar à Série D. Com o decorrer dos jogos em 2023, a equipe alvinegra ganhou partidas, resistiu aos clássicos e quando Botafogo-PB e Campinense se preocupavam com outras competições, tomou à frente de ambos.

Na fase mata-mata, passou por São Paulo Crystal e consolidou sua força ao mostrar capacidade mental e técnica contra o Sousa, em pleno Marizão lotado. Mas o melhor de tudo isso, foi a demonstração de coerência, trabalho e consistência mostrado na competição. A dose será repetida pelo Treze com a sequência de William de Mattia no comando técnico em 2024.

Campinense, o fracasso

Campinense na disputa da Série D (Foto: Divulgação)

Enquanto isso, o Campinense sofreu as consequências da conquista do Campeonato Paraibano do ano passado e de um planejamento falho. O campeão ganha vaga direta para a fase de grupos da Copa do Nordeste, mas a equipe não tinha capacidade de competir com os outros adversários, e terminou na sétima colocação.

A atenção também se dividiu com o Campeonato Paraibano e Copa do Brasil, este que foi eliminado logo de cara pelo Grêmio. No estadual, não conseguiu segurar o ritmo com os duelos do Nordestão e nem sequer se classificou para as semifinais, ficando na sexta posição.

Para piorar a situação, o fracasso se estendeu por toda a Série D. Apesar da equipe apresentar um bom futebol, os resultados não vieram e, quando a situação apertou, já era tarde demais. Terminou na 5º colocado, vendo Sousa e Nacional passar em primeiro e segundo colocados.

Nacional de Patos decepcionou, deu a volta por cima e orgulhou

Nacional de Patos na disputa da Série D (Foto: Divulgação)

Outra história que chamou atenção foi do Canário do Sertão, que já havia conquistado vaga na Série D deste ano com uma campanha sólida no Campeonato Paraibano do ano passado. A força do time ficou nítida na primeira fase da edição atual do estadual. Apesar de ter ficado de fora das quartas, quando faltava cinco minutos para o apito final do jogo contra o Belo, se classificava em segundo.

O milagre fez com que novidades precisassem chegar para o Campeonato Brasileiro, e a chegada de Rodrigo Fonseca e de jogadores experientes criou uma ligação praticamente instantânea. O elenco clicou, passou a jogar bem e faturou o segundo lugar do Grupo A3, atrás somente do Sousa.

Na segunda fase, eliminou o tradicional Asa de Arapiraca, mesmo jogando em desvantagem no jogo da volta, precisando reverter o 1 a 0 no José Cavalcanti. Venceu por 3 a 1. Contudo, as oitavas de final foram cruéis, porque o adversário da vez foi o invicto e futuro campeão Ferroviário-CE.

O Nacional de Patos deixou a desejar em alguns momentos da temporada, como por exemplo na última rodada do Paraibano, mas conseguiu uma reviravolta surpreendente, sendo uma das melhores equipes da Série D em certos momentos. Apesar da eliminação para o Ferroviário, a equipe bateu de frente com o campeão e mostrou força e coragem durante um campeonato extremamente complicado.

+Fut: Nacional de Patos quer a permanência de 80% do elenco para 2024

Fora de campo: polêmicas do ano

O esporte é muito abrangente. Impossível algum assunto morrer dentro das quatro linhas, até porque o futebol abrange várias vertentes da sociedade, da mídia e do imaginário popular. O assunto é tão grande e complexo que apenas alguns dos principais fatos foram selecionados.

Xenofobia de esposa do jogador do Botafogo-PB

Os torcedores botafoguenses ficaram revoltados quando a esposa do lateral-esquerdo, Léo Campos, caçoou do sotaque paraibano e criticou “o arrastar de chinelos” das pessoas daqui, em janeiro deste ano. Adriana Borba respondeu processo por xenofobia em liberdade. O atleta, que era titular na época, permaneceu no elenco, mas com menos espaço — pouco tempo depois deixou o clube.

+Noiva de jogador pede desculpas, mas MP abre investigação por preconceito

Jornalistas agredidos no Almeidão

Continuando a seção “Conflitos do Botafogo-PB em 2023”, os jornalistas Fábio Hermano (CBN), Pedro Alves (Globo Esporte) e Elialdo Silva (Pop FM) foram agredidos por conselheiros do Belo, nos corredores do estádio Almeidão, depois de confronto pelas semifinais do Paraibano. O conselheiro Breno Morais, envolvido na confusão, foi afastado do cargo.

+Dirigentes do Botafogo-PB agridem jornalistas no Almeidão

Botafogo-PB exclui jornalistas da Cabo Branco de comunicação

Concluindo a saga do Botafogo em 2023, um caso em julho deste ano chamou atenção do público e da imprensa. Jornalistas da TV Cabo Branco foram excluídos do canal de assessoria de comunicação oficial do clube, no WhatsApp. Todos da emissora foram excluídos, enquanto os demais profissionais permaneceram. No dia seguinte, o grupo foi removido, e a comunicação com a imprensa foi alterada.

+Botafogo-PB exclui jornalistas da Globo de grupo oficial do clube

Jogador recebe proposta para sair do time perto do acesso

Imagina que seu time do coração está extremamente próximo de um acesso inédito à Série C, mas na semana do jogo decisivo, o melhor jogador deixa o clube. Quase aconteceu isso em Sousa, quando Luiz Henrique foi aliciado para não jogar contra a Ferroviária-SP. A Polícia Militar foi acionada, o empresário, conhecido do jogador, foi à delegacia. Meses depois, o atleta trocaria o Dinossauro pelo clube paulista.

+Jogador do Sousa depõe na Polícia sobre suspeita de aliciamento de empresário

Jogador é suspeito de assassinato depois de ano de sucesso

No dia 19 de outubro deste ano, muitos torcedores ficaram surpresos com a prisão do atacante Kel Baiano, grande nome do Nacional de Patos no Campeonato Paraibano e Série D do Campeonato Brasileiro 2023 e pelo Esporte de Patos, na segunda divisão estadual. Ele foi acusado de ser um dos seis mandantes de assassinatos no Espirito Santo. Atualmente, está em liberdade, mas segue suspeito.

+Jogador é preso por suspeita de homicídio no Espírito Santo

Leonardo Abrantes – MaisPB