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Especialistas pesquisados concordam que sim, existe a amnésia ou blecaute alcóolico, e está diretamente associado ao consumo abusivo e continuado de bebidas alcoólicas. Comportamento este muito comum, especialmente, em períodos que antecedem grandes festividades, incluído ai o período de final de ano.
Como já atestado por profissionais da saúde, os apagões induzidos pelo consumo abusivo das bebidas alcoólicas, também chamados de “blecautes”, não são uma desculpa esfarrapada do(a)s bebedore(a)s para justificar atos impulsivos e, por vezes, de desvios de comportamento. Eles existem, e podem trazer imenso prejuízo à vida de quem exagerou no álcool e também de outras pessoas.
Mas afinal, o que são apagões alcoólicos e por que estes acontecem?
Os apagões relacionados ao álcool são lacunas na memória de uma pessoa sobre eventos que ocorreram enquanto estava na “bebedeira”. O incrível é que no momento em que a pessoa está embriagada é capaz de lembrar de tudo normalmente, mas depois de um breve período de sono, após o consumo exagerado, surge um blecaute em que fica difícil, e às vezes impossível, lembrar o que fez na noite anterior.
Tais lacunas acontecem quando alguém bebe álcool o suficiente para bloquear temporariamente a transferência de memórias do armazenamento de curto prazo para o de longo prazo, em uma área cerebral chamada hipocampo. Estes blecautes podem ocorrer em qualquer pessoa que consuma álcool, independentemente da idade ou nível de experiência com o consumo.
Segundo os especialistas, existem dois tipos de apagões, e estes são definidos pela gravidade do comprometimento da memória. O tipo mais comum é chamado de “apagão fragmentar” e é caracterizado por lembranças pontuais dos eventos, com “ilhas” de memórias alternadas por períodos de esquecimento entre essas. Neste blecaute fragmentar ou parcial, o(a) bebedor(a) pode passar horas acordado(a), agindo como qualquer outra pessoa alcoolizada agiria, e lembrar de pouca coisa no dia seguinte. Por vezes com muito esforço consegue gradativamente ir conectando as lembranças da “cachaçada”. Já na amnésia completa, que é a forma mais grave do apagão, e que pode durar horas, as memórias de eventos não se formam e normalmente não podem ser recuperadas. É como se os eventos simplesmente nunca tivessem ocorrido.
De acordo com o neurologista Alexandre Marreco, não é só a quantidade de álcool ingerida que está relacionada à amnésia. Na opinião deste especialista, mais importante que a quantidade de bebida ingerida, é a velocidade do consumo. Ou seja, beber mais rápido parece aumentar o risco de blecaute alcoólico. E se o consumo for constante e o blecaute o acompanhar, poderá surgir o quadro clinicamente denominado, demência alcoólica, que se comporta semelhante à doença de Alzheimer.
Muitos estudiosos também afirmam, que o efeito entre homens e mulheres é diferente. Para a psiquiatra Renata Figueiredo, membro da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), tal fato pode ser explicado porque em geral, a mulher pesa menos que o homem, tem menos quantidade de sangue, mais tecido de gordura, e portanto concentra mais o álcool no sangue. Por isso, as mulheres são mais vulneráveis a estes blecautes alcóolicos.
Outro aspecto relativo aos “apagões, é que esses blecautes também podem acometer mesmo aquele(a)s bebedores com baixos teores de álcool no sangue. Isso ocorre geralmente quando este(a)s consumidores de bebidas alcoólicas consorciam a bebida com medicações como: remédios para dormir, ansiolíticos, antidepressivos etc.
É necessário esclarecer ainda que os “apagões alcoólicos ou blecautes” são diferentes de desmaios após o uso de álcool. O desmaio significa adormecer ou perder a consciência devido ao consumo exagerado de álcool. No apagão, a pessoa ainda está acordada, mas seu cérebro não está criando novas memórias, é como se o gravador cerebral ficasse desligado momentaneamente. Contudo, dependendo de quanto a pessoa bebeu, é possível acontecer a transição de um apagão para um desmaio.
Os apagões não são necessariamente um sinal de transtorno do uso de álcool, mas até mesmo a experiência de um blecaute isolado, é motivo de preocupação, e deve levar o(a) consumidor(a) a considerar sua relação com o álcool e conversar com seu profissional de saúde sobre seu consumo de álcool.
A maioria dos pesquisadores concorda, que há diferenças individuais em como o cérebro é afetado pelo álcool. Isso significa que cada um deve conhecer os seus próprios limites e não querer imitar ou fazer comparações com o(a)s colegas da confraria alcoólica.
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OPINIÃO - 22/11/2024