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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Amigo secreto à moda a antiga

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publicado em 05/01/2024 ás 07h00
atualizado em 04/01/2024 ás 22h47

 

A primeira brincadeira de  amigo secreto que participei foi um sufoco. Ainda estudávamos no sítio e sei lá por que alguém levou para a sala de aula tamanha modernidade, totalmente inoportuna.

Mas porque as novidades são convincentes por si mesmas, logo fomos embrulhados na brincadeira. No outro dia, acordamos com um problema muito grande. Como éramos três, três seriam os presentes a serem comprados, sabe-se lá como, afinal brincadeira chic da cidade não haveria de se satisfazer com a singeleza dos três filhos de Neném de Pedro Leite.

Mas lembrando bem, minto, afinal a sorte sempre sorri para aqueles de boa vontade. Bicho matreiro, atirou-se sobre nós e nos presentou: no sorteio dos nomes, eu tirei Bia, a minha irmã. Um presente a menos, menos uma preocupação  para mãe que haveria de engendrar um jeito inteligente de sair daquela situação, mesmo que Bia fosse a sacrificada.

Estava tudo certo. Mãe compraria dois presentes e o que eu deveria entregar a Bia, a gente daria um jeito. Embrulharíamos em um papel bonito algo qualquer. Lá em casa havia muitas formas da época em que papai fora sapateiro e algo haveria de servir como disfarce.

Mas todos sabem que as mães são anjos disfarçados de gente. Em um sábado amarelo e silencioso, mãe, após vender um capão de sobrecu arrastando na terra, foi à feira de Uiraúna. Condoeu-se de Bia, comprou um creme dental colinhos e dois sabonetes alma de flores e ficou em paz com a sua consciência.

Foi uma festa tão bonita. Bia, acostumada a escovar os dentes com raspa de Juá, ganhou o creme dentifrício do seu irmão. Tive pena de Flaviana e de mim mesmo. Quem tirou nossos nomes, envergonhados, sequer compareceu, deve ter se perdido dentro  das suas necessidades que decerto eram bem maiores do que as nossas.

@professorchicoleite

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