João Pessoa, 05 de janeiro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A primeira brincadeira de amigo secreto que participei foi um sufoco. Ainda estudávamos no sítio e sei lá por que alguém levou para a sala de aula tamanha modernidade, totalmente inoportuna.
Mas porque as novidades são convincentes por si mesmas, logo fomos embrulhados na brincadeira. No outro dia, acordamos com um problema muito grande. Como éramos três, três seriam os presentes a serem comprados, sabe-se lá como, afinal brincadeira chic da cidade não haveria de se satisfazer com a singeleza dos três filhos de Neném de Pedro Leite.
Mas lembrando bem, minto, afinal a sorte sempre sorri para aqueles de boa vontade. Bicho matreiro, atirou-se sobre nós e nos presentou: no sorteio dos nomes, eu tirei Bia, a minha irmã. Um presente a menos, menos uma preocupação para mãe que haveria de engendrar um jeito inteligente de sair daquela situação, mesmo que Bia fosse a sacrificada.
Estava tudo certo. Mãe compraria dois presentes e o que eu deveria entregar a Bia, a gente daria um jeito. Embrulharíamos em um papel bonito algo qualquer. Lá em casa havia muitas formas da época em que papai fora sapateiro e algo haveria de servir como disfarce.
Mas todos sabem que as mães são anjos disfarçados de gente. Em um sábado amarelo e silencioso, mãe, após vender um capão de sobrecu arrastando na terra, foi à feira de Uiraúna. Condoeu-se de Bia, comprou um creme dental colinhos e dois sabonetes alma de flores e ficou em paz com a sua consciência.
Foi uma festa tão bonita. Bia, acostumada a escovar os dentes com raspa de Juá, ganhou o creme dentifrício do seu irmão. Tive pena de Flaviana e de mim mesmo. Quem tirou nossos nomes, envergonhados, sequer compareceu, deve ter se perdido dentro das suas necessidades que decerto eram bem maiores do que as nossas.
@professorchicoleite
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TURISMO - 19/12/2024