João Pessoa, 09 de janeiro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A OMS Organização Mundial da Saúde, tem admitido e relatado em documentos contemporâneos que o uso indevido de drogas lícitas e ilícitas, tem se constituído no maior problema de saúde pública do mundo. Vejam a gravidade desta realidade a que estão expostos de alguma forma todos nós seres humanos, haja vista que, como sabemos, o usuário abusivo de drogas não prejudica só a ele, mas também, mesmo que indiretamente, a muitos que estão à sua volta. E assim, a sociedade como um todo sofre as consequências deste comportamento individual, mas com resultados e sequelas coletivas.
Embora o uso de substâncias psicoativas por parcela significativa da população, tenha registro desde os tempos mais remotos, no passado tal comportamento era adotado apenas com fins religiosos, ritualísticos ou terapêuticos, diferentemente do que ocorre nos dias atuais cuja “tsunami” de consumo é com finalidade puramente recreativa e sem nenhuma ideologia ou crença que a justifique.
Outro aspecto a considerar é que as nações e as pessoas em geral, perdem muito tempo procurando culpados para a causa desse mal, que cresce a cada dia. Países que registram grande consumo, como os EUA, procuram jogar a culpa nos países produtores de drogas, especialmente nos países andinos, produtores de cocaína. Embora seja verdade, que mais de 90% da cocaína produzida no mundo seja originária de países da América do Sul, localizados na Cordilheira dos Andes, essa transferência de responsabilidade feita pelos americanos não se justifica, haja vista que estes são, não apenas os maiores consumidores de drogas do mundo, mas também grandes produtores de maconha e especialmente de drogas sintéticas.
Por outro lado, os países produtores de cocaína, especialmente Colômbia, Bolívia e Peru, alegam que os maiores responsáveis pelo problema são os consumidores, pois sem estes a produção não seria estimulada.
Nessa mesma direção de transferência de responsabilidades é comum assistirmos discussões de casais, que ao descobrirem que o filho está usando drogas, se acusam mutuamente, ou seja, a mãe acha que o culpado é o pai, que é muito rígido, já este alega ser culpa da mãe por ser flexível na educação dos filhos.
Devo dizer que esta estratégia de estarmos sempre procurando culpados para as nossas falhas termina, não só dificultando, como adiando o início das ações para o enfrentamento do problema. Se o mal existe, a única pergunta que deve ser feita é: o que posso fazer para resolver este problema? E assim, unirmos forças e ações para tal.
Vivemos em um país que tem eleições a cada dois anos. Certamente, em nenhum outro país do mundo tais eventos sejam tão frequentes. Todos somos testemunhas que nestes períodos eleitorais, os discursos inflamados e até convincentes, apontando culpados e também indicando soluções para a causa da drogadição, são proferidos em demasia. Isso não é de todo ruim, mas também sabemos que existe uma distância muito grande entre a teoria dos discursos e a prática das prometidas ações.
Concluindo este breve comentário deste tema específico, quero me desculpar pela ilustração de certa forma jocosa, usando um sábio e antigo ditado popular muito citado na região Nordeste do Brasil que reza o seguinte: “Nunca se mente tanto quanto antes de uma eleição, durante uma guerra e depois de uma pescaria”.
Encerro ratificando que, pelo menos em relação às políticas sobre drogas, seja na vertente prevenção, repressão ao tráfico ou tratamento de dependentes, muitos falam, mas poucos fazem. Tenho sido incisivo na seguinte afirmação: o maior problema que a sociedade brasileira enfrenta em relação às drogas não é o grande número de usuários ou de traficantes não, mas sim a multidão de omissos que existe em relação a esta causa.
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OPINIÃO - 22/11/2024