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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

O papel do agronegócio brasileiro no superávit comercial recorde em 2023

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publicado em 10/01/2024 ás 13h12

Sabemos que o comércio exterior envolve a venda (exportação) e a compra (importação) de bens (primários, manufaturados e industrializados) entre duas nações. E sabemos também que o comércio exterior contribui diretamente para a economia do país, gerando mais empregos, mais renda, aumentando as reservas internacionais, e estimulando o desenvolvimento econômico.

Recentemente, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) registrou um superávit comercial recorde em 2023, atingindo US$ 98,8 bilhões FOB (em inglês, Free On Board). Esse resultado excepcional foi impulsionado principalmente pelas exportações brasileiras, que alcançaram US$ 339,6 bilhões FOB, superando as importações que totalizaram US$ 240,8 bilhões FOB (Incoterm de frete marítimo, onde o importador assume todos os riscos e custos com o transporte da mercadoria, até ser colocada a bordo do navio).

O superávit comercial de US$ 98,8 bilhões FOB representou um aumento significativo de 60,6% em relação a 2022, quando o saldo comercial foi de US$ 61,5 bilhões FOB. Com certeza, este é o maior número registrado na série histórica desde 1989.

Os dez principais parceiros comerciais do Brasil em 2023 foram a China (US$ 105,7 bilhões FOB), os Estados Unidos (US$ 36,9 bilhões FOB), a Argentina (US$ 16,7 bilhões FOB), os Países Baixos (US$ 12,1 bilhões FOB), o México (US$ 8,6 bilhões FOB), o Chile (US$ 7,9 bilhões FOB), a Espanha (US$ 7,8 bilhões FOB), a Singapura (US$ 7,4 bilhões FOB), o Japão (US$ 6,6 bilhões FOB), e o Canadá (US$ 5,8 bilhões FOB), segundo os números do MDIC.

Observa-se claramente que no ano de 2023, o Brasil exportou mais bens para os países da Ásia (China, Singapura e Japão), em segundo lugar para a Europa (Países Baixos e Espanha), em seguida, na terceira posição para a América do Norte (Estados Unidos, México e Canadá) e, na quarta colocação para as nações da América do Sul (Argentina e Chile). Mas, é preciso diversificar os destinos das exportações agropecuárias e aumentar a pauta das exportações para África e América Central e Caribe no ano de 2024.

O agronegócio é um dos principais setores da economia brasileira e um dos maiores motores do superávit comercial recorde em 2023. O Brasil é o maior exportador mundial de suco de laranja concentrado e congelado, café, açúcar, carne de frango, carne bovina, soja, milho e celulose. É o segundo maior exportador global de algodão e de etanol oriundo da cana-de-açúcar. É o quarto maior exportador de carne suína do planeta.

O Brasil é um dos principais exportadores globais de produtos agropecuários, e suas exportações desempenham um papel significativo na balança comercial, isto é, a diferença entre o valor das exportações e o valor das importações de bens de um país durante um determinado período, geralmente um ano. E o agronegócio desempenhou um papel crucial no superávit comercial recorde no ano de 2023, com a crescente demanda global por alimentos e a competitividade dos produtos agropecuários brasileiros no mercado internacional.

No acumulado do ano de 2023, as exportações do agronegócio somaram US$ 81,4 bilhões, representando 23,97% das exportações brasileiras. Entre os oito principais produtos do agronegócio exportados, destacam-se a soja (US$ 53,2 bilhões FOB), açúcares e melaços (US$ 15,7 bilhões FOB), milho não moído (US$ 13,6 bilhões FOB), farelo de soja (US$ 12,2 bilhões FOB), carne bovina (US$ 9,4 bilhões FOB), carne de frango (US$ 8,9 milhões FOB), celulose (US$ 7,9 milhões FOB) e café não torrado (US$ 7,3 bilhões FOB), conforme os dados de janeiro a dezembro de 2023 do MDIC.

É preciso destacar que o agronegócio refere-se ao conjunto de atividades econômicas relacionadas à produção, industrialização e comercialização de produtos agropecuários. Ele engloba toda a cadeia produtiva, desde a agropecuária até a venda interna e a exportação dos produtos com maior valor agregado, como carnes processadas, suco de laranja concentrado e congelado e café gourmet, por exemplos.

De acordo com Massilon Araújo (2022, p. 16), “O agronegócio envolve as seguintes funções: suprimento à produção agropecuária, produção agropecuária, beneficiamento, processamento e transformação, acondicionamento e armazenamento, distribuição, e consumo, além de serviços complementares como bolsa de mercadorias”. E o agronegócio gerou 28,5 milhões de empregos diretos nas cinco regiões do país, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o Brasil é o maior produtor mundial de soja em grãos, café, laranja, suco de laranja, cana-de-açúcar, açúcar, etanol e celulose. É o segundo maior produtor global de carne bovina, carne de frango, farelo de soja e óleo de soja. É terceiro maior produtor de milho, algodão, frutas e feijão do planeta. E o quarto maior produtor global de carne suína.

É particularmente interessante que o Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina, com 2,8 milhões de toneladas em 2023, a frente da Austrália, com 1,6 milhão de toneladas, e da Índia, com 1,5 milhão de toneladas. E os Estados Unidos são o maior produtor de carne bovina do planeta (12,3 milhões de toneladas), ao passo que é o quarto maior exportador global, com 1,4 milhão de toneladas.

O Brasil é o maior exportador de milho do mundo, com 55,9 milhões de toneladas, um recorde histórico no ano de 2023. E ao mesmo tempo o terceiro maior produtor mundial de milho, com 118,5 milhões de toneladas, atrás apenas dos Estados Unidos (386,9 milhões de toneladas) e da China (277,0 milhões de toneladas). Para a EMBRAPA, o milho é o segundo cereal mais cultivado no país, atrás apenas da soja.

O agronegócio brasileiro desempenha um papel crucial na economia brasileira, influenciando a produção, a exportação e o saldo comercial. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi de R$ 9,92 trilhões em 2022, e o PIB do agronegócio foi de R$ 2,46 trilhões, ou seja, representando 24,8% do PIB do Brasil no ano de 2022, conforme o CEPEA, da USP, em parceria com a CNA.

Projeções recentes mostram que o PIB do agronegócio deverá alcançar R$ 2,63 bilhões em 2024. (…) Se o número for confirmado, deverá equivaler a 24,4% de toda a riqueza produzida no país” (PLANT PROJECT, 2024, p. 18). Sim, é marcante, em plena Quarta Revolução Industrial, que o agronegócio é o setor mais pujante, mais produtivo, mais tecnológico, do emergente Brasil, e a safra 2022/23 foi recorde com 322,8 milhões de toneladas de grãos. E o continental Brasil continua na quarta posição entre os seis maiores produtores de grãos do mundo, atrás apenas da China, dos Estados Unidos, e da Índia, e, a frente da Argentina e da Rússia.

As empresas que atuam no agronegócio têm que reduzir os custos diretos na produção agrícola brasileira, que incluem fertilizantes, sementes, armazenamento, e seguro agrícola, por exemplos. Este ano, a alternativa é produzir mais, reduzindo significativamente os custos diretos de produção, assim, poderemos exportar mais soja, com 101,3 milhões de toneladas exportadas em 2023, milho (55,9 milhões de toneladas exportadas), açúcar (31,4 milhões de toneladas), e farelo de soja (22,2 milhões de toneladas), por exemplos.

Hoje, praticamente, o Brasil é a nona maior economia do mundo, com um PIB nominal de US$ 2,13 trilhões, ultrapassando o Canadá, com um PIB de US$ 2,12 trilhões, conforme o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas, sua participação no comércio exterior é relativamente pequena, porque a corrente de comércio exterior (exportações mais importações) anual alcançou US$ 580,4 bilhões em 2023, sendo 4,3% abaixo do ano de 2022 (US$ 606,7 bilhões).

Podemos apontar que a modernização e o uso de tecnologias avançadas na agropecuária brasileira aumentam a produtividade, melhoram a eficiência e fortalecem a competitividade no mercado internacional. E os investimentos em tecnologia agropecuária são, de fato, fundamentais para enfrentar diversos desafios, incluindo as mudanças climáticas e os cenários de conflitos armados, além das turbulências internacionais, como a desaceleração econômica da China, por exemplo.

As previsões econômicas do MDIC para 2024 indicam um crescimento nas exportações brasileiras, atingindo US$ 348,2 bilhões FOB, ou seja, uma possibilidade de crescimento anual de 2,5% em relação ao ano de 2023. Logo, o papel do agronegócio brasileiro será decisivo para concretizar uma expectativa de um superávit comercial de US$ 94,4 bilhões FOB, previstos pelo MDIC no ano de 2024.

Por fim, o agronegócio brasileiro é um pilar essencial para o sucesso do comércio exterior, contribuindo significativamente para o superávit comercial. Logo, temos necessidade de estratégias contínuas de investimento em ativos financeiros atrelados ao agronegócio como LCAs, CRAs, FIAGROS, ações ordinárias, preferenciais e units de empresas brasileiras do agrobusiness, ETFs agrícolas e AgTechs, visando aumentar a produção e a produtividade de produtos agropecuários, e consequentemente, as exportações de bens primários (exemplo, café em grãos), manufaturados (exemplo, óleo de soja) e industrializados (exemplo, suco de laranja concentrado e congelado) para o resto do mundo, assim, ultrapassaremos os US$ 100 bilhões FOB em saldo comercial no ano de 2024.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, MASSILON J. Fundamentos de Agronegócios. 6ª ed. Barueri: Atlas, 2022.

MDIC. Comércio exterior brasileiro bate recordes e fecha 2023 com saldo de US$ 98,8 bi. Disponível em: https://www.gov.br/mdic/pt-br/comercio-exterior-brasileiro-bate-recordes-e-fecha-2023-com-saldo-de-us-98-8-bi. Acesso em: 07 jan. 2023.

PLANT PROJECT. Futuro Promissor: As tendências, os desafios e as oportunidades para o agronegócio brasileiro em 2024. Disponível em: https://issuu.com/plantproject/docs/plant40_issu/82. Acesso em: 07 jan. 2024.

(*) Economista brasileiro, professor de Economia no UNIESP, conselheiro efetivo do CORECON-PB, sócio efetivo do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba, apresentador do Podcast Economia em Alta da Rádio Alta Potência, e um dos três autores brasileiros do e-book intitulado Como investir em ativos financeiros do agronegócio brasileiro? E-book disponível por R$ 50,00, pelo PIX, no link: https://pt.bluebisolution.com/ebookagro

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