João Pessoa, 29 de janeiro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Todos os dias ele chegava em casa do trabalho, pegava a correspondência, finalmente tirava os sapatos e a gravata – não necessariamente nesta ordem – e ia pro banho, nem quente, nem frio, revigorante. Era a melhor hora do dia. O pijama já o aguardava em cima da cama. Era macio e cheiroso, feito de um algodão que parecia acariciar sua pele.
O jantar semi-pronto, quase sempre feito por ele, iria para o microondas. Às vezes surgia aquela vontade de comer algo diferente, um tempero de outra mão, ou uma comida exótica, ou simplesmente a falta de vontade de cozinhar. O delivery era uma opção. Mas eram dias excepcionais esses. Ele realmente gostava de preparar suas refeições. Nada elaborado demais que lhe roubasse muito tempo, mas reconfortante. Quase sempre se alimentava frente à TV.
A TV. A poltrona. A sala. Os quadros. O sofá. Como era aconchegante aquele cômodo! Sua sala de estar. O cheiro dela, a temperatura, a iluminação. Tantas possibilidades… um filme, um livro, uma conversa, até um cochilo. Vez por outra, lembrava-se dela enquanto trabalhava, desejando que o relógio ignorasse os ponteiros e corresse. Inútil. Mas a hora chegaria. À noite estaria na sua sala. Fecharia a porta do escritório e tudo ficaria fechado, aguardando para o dia seguinte. O importante agora, seriam os momentos em sua sala de estar.
Sexta-feira era ainda melhor. Antecedia o final de semana. Ele chegou fez tudo como sempre fazia. Era seu algoritmo. Era confortável, mas melhor, seria tudo duplicado. Talvez um passeio, um barzinho, uma corrida no parque, cinema… depois… a sala de estar.
Ele chegou, pegou a correspondência, colocou a chave na fechadura, virou, abriu a porta com um alívio no corpo e na mente. Qual não foi a sua surpresa…! Haviam roubado todos os móveis da sua sala de estar.
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VÍDEO - 14/11/2024