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Kubitschek Pinheiro
Genésio Souza Neto, 22 anos depois do acidente na Avenida Beira Rio, o engrandecido profissional de imprensa, fala em detalhes do tempo em que lhe tirou de cena e da estrada afora com as vitórias – antes e depois do estaleiro.
Jornalista Profissional, formado pela UFPB, com Mestrado em Jornalismo, Genésio é advogado, com especialização no Ministério Público do Estado, concluinte de Especialização em Processo Civil pela Unipê, com specialização em Direito e Proteção de Dados pela PUC de Minas Gerais, além das formações em Proteção de Dados e Privacidade.
Atualmente ela atua como jornalista do Tribunal de Contas do Estado, onde é servidor efetivo. Foi redator, repórter e editor do extinto Jornal O Norte, órgão dos Diário Associados, onde trabalhou por 25 anos. Foi diretor Superintendente da Rádio Tabajara da Paraíba e Secretário Executivo de Comunicação do nosso Estado.
Atuou como Gerente de Comunicação do Tribunal de Justiça da Paraíba nas gestões dos desembargadores Júlio Aurélio Coutinho, Antônio Moura e Abrahan Lincoln. Exerceu também o cargo de Assessor de Comunicação do TRE/PB.
Genésio é um cidadão pacato, fez seu nome, um nome forte, que veio do pai, Genésio Sousa Filho, que também era jornalista.
Ao Espaço K ele conta da oportunidade que seguir sua missão e uma série de assuntos pertinentes.
Espaço K – Vamos voltar no tempo. Uma temporada de sua vida, foi no estaleiro, naquele acidente na avenida Beira Rio. Sã e salvo, conta aí história – resume?
Genésio Souza Neto – Eu me considero um abençoado. E acho que ainda devo a Deus pela segunda oportunidade de viver, e ainda acredito tenho algo a cumprir. Meu acidente, naquela fatídica sexta-feira, 23 de agosto de 2001, foi um delimitador de vidas. Aquilo foi um milagre de Deus. Eu era diretor da Rádio Tabajara e havia saído do expediente, finalzinho da tarde. Me lembro de uma chuvinha fina. Pegamos a Beira Rio, eu e o motorista no corsinha da rádio. Em frente à Granja do Governador fomos atingidos por uma Chevrolet D20, que escorregou na curva e atravessou o canteiro para nos pegar de frente. Ali eu apaguei e só me lembro acordando de um coma de 17 dias. Daí vem uma longa história de viagens e sonhos desacordados. Para alguns amigos religiosos, eu fui, e voltei. Ganhei uma nova chance de vida. Quem eu era? Cheio de ideais, querendo crescer, vencer e ser mais, apesar de nunca ter pensado em passar por cima de ninguém. Quem sabe seja essa uma virtude, mas também uma fonte inibidora de sonhos e realizações. Depois do acidente me tornei uma pessoa medrosa, acomodada e recolhida. Algo que nem eu mesmo sei ou sabia explicar. A verdade é que minha vida mudou e passei a dar valor a pequenas coisas, meus filhos, família, esposa e casa. Acho que até exagerei, porque minha vontade hoje é viver em casa. Me sinto muito bem.
Espaço K – O estaleiro demorou muito tempo? Quando Genésio voltou a ver o sol?
Genésio Souza Neto – O Sol demorou mais, porque quando eu comecei a tornar, senti muito foi o cheiro do café, logo cedo na cozinha do Hospital de Traumas. Aliás, eu fui, talvez, o primeiro paciente mais “ilustre”, após a abertura. E pensar que uma semana antes, no dia inauguração, eu estava lá, vendo as demonstrações de excelência no atendimento do Hospital, e o mais curioso, é que acompanhei no pátio toda a simulação de um acidente, mostrando cada ação de um resgate e os primeiros socorros até à sala de cirurgia. Poucos dias depois estava eu vivendo aquilo como paciente na realidade. Foram 15 dias de coma, um mês na semi-UTI e mais alguns dias na Unimed. Fiquei no estaleiro uns três meses.
Espaço K – Seu pai era jornalista. Vem dele a sua paixão pelo jornalismo, sua carreira profissional?
Genésio Souza Neto – Meu pai era jornalista, Genésio de Sousa, homem dos Diários Associados. Ele era de Conceição, mas viveu maior tempo de sua vida em Campina Grande. Contemporâneo, compadre, de Raimundo Asfora, Ronaldo Cunha Lima, José Bezerra, Rosil Cavalcanti, Evaldo Gonçalves, entre outras personalidades daquela cidade, viveu na juventude os bons tempos do rádio. Foi radio-ator ao lado de Eraldo Cesar, Hilton Mota, Aderson Costa, Silvinha de Alencar, entre outros, que davam voz aos personagens da Escolinha do Professor Nicolau na Rádio Borborema. E falam que essa escolinha foi a inspiração para Chico Anísio criar a Escolinha do Professor Raimundo. Depois disso ele foi colunista do Diário da Borborema, redator, editor e diretor superintendente. Foi Marconi Goes, quando assumiu os Associados na Paraíba em 1970, quem trouxe ele para João Pessoa, passando a integrar o quadro dos diretores do Jornal O Norte. Ainda era na Duque de Caxias. Então passei a conviver naquele espaço. Jornalismo, redação, comercial, circulação, oficinas e etc. Eu gostava muito de ver o jornal rodando nas impressoras. Era um cheiro gostoso da tinta e do papel, aqueles rolos que vinham do Canadá.
Espaço K – Aliás, como tudo começou?
Genésio Souza Neto – Meu ingresso no Jornalismo veio por acaso. Quando deixei o Exército em 1980. Meu pai, por pressão da minha mãe, me arrumou uma vaga no Comercial do Jornal O Norte. Quem me recebeu foi o diretor comercial, Abelardo Jurema, que muito me ensinou e influenciou para ficar no Jornalismo. Ocupei vários cargos no Comercial. Comecei a estudar o curso de Jornalismo, e depois, na metade, iniciei o curso de Direito. Iniciei no Jornalismo como provisionado. Não tinha terminado o curso. Comecei a frequentar a redação pelas mãos de Frutuoso Chaves, que era Editor e fazia a coluna “enfoque”. Passei a contribuir com ele, fazendo as correções dos textos que chegavam da agência de notícias dos Associados, a Sima, por telex. Meu trabalho era copidescar. Depois fui fazendo umas notinhas e ele começou a abrir espaços na redação. Fui repórter, editor de cadernos especiais, redator e Editor de Política por muitos anos. Foram 25 anos de Diários Associados e até hoje não me conformo com o fechamento do Jornal O Norte.
Espaço K – A morte do O Norte mexeu com sua sensibilidade?
Genésio Souza Neto – Essa indignação carrego como um trauma. Sou um filhote do jornalismo impresso, tanto que estive presente na inauguração das instalações do jornal O Norte, quando iniciou as impressões do primeiro jornal em Off-Set do Nordeste, em 1974. Foi um marco e naquela época. O Norte era disparado o líder em circulação no Estado. A incompetência levou o Norte a fechar suas portas. E infelizmente, perdemos quase tudo que existia daquele histórico arquivo da história da Paraíba. Posso dizer que, com o apoio de Fernando Moura e do professor Chico Pereira, tivemos a felicidade de salvar algumas coleções de jornais. A maioria dos meus 25 anos de Jornal O Norte foi como editor de política. Fiz grandes coberturas na Câmara de João Pessoa e Assembleia Legislativa, onde estive nas coberturas durante a Constituinte, que consolidou o período de redemocratização do País. Passei pelos governos de Wilson Braga, Tarcísio Burity e Ronaldo Cunha Lima. Com todos mantive boas relações no exercício da profissão. Alias, esse foi um período de grandes nomes da política paraibana, referindo-se também a senadores, deputados federais, estaduais e vereadores. Existia mais respeito pelas instituições e nossos representantes eram mais comprometidos com a cidadania.
Espaço K – Você passou por outros setores no Jornal O Norte, né?
Genésio Souza Neto – Sim. No Jornal O Norte, além do Comercial, atuei também em outras áreas. Eu gostava muito de automóveis, razão pela qual resolvi criar um caderno de veículos no Jornal O Norte. Foi o primeiro na Paraíba e por muitos anos atuei nessa área também, especialmente, na época da abertura do mercado brasileiro para o exterior, no tempo do Governo Fernando Collor. Criei também, ao lado do saudoso Wills Leal, o Caderno “Carro e Turismo”. Na época fazia um trabalho muito crítico e isso me valeu um certo reconhecimento nacional, tanto que fui convidado para integrar o time de eleitores do “Carro do Ano”, que era promovido pela Revista AutoEsporte. Nesse período foi criada a Associação Nacional de Imprensa Automotiva – Abiauto, e eu fui um dos primeiros associados, representante da região Nordeste. Era uma época que as montadoras queriam mostrar os carros ao Brasil e assim, viajei pelo Brasil e pelo mundo, participando dos grandes lançamentos. Tive de sair do meio por problemas de saúde, mas até hoje mantenho grande amizades nas montadoras e na imprensa nacional.
Espaço K – E na Rádio Tabajara? Como foi sua gestão por lá?
Genésio Souza Neto – Naquela ocasião fomos felizes em trabalhar com grandes nomes do rádio paraibano, a exemplo de Geraldo Cavalcanti, Spencer Hartman, Ivan Bezerra, Airton José (Bolinha), Hermance Poncy, Luiz Rodrigues, Manoel Serafim, entre outras personalidades. Nossa maior conquista foi colocar a FM 105 em primeiro lugar em sua categoria. Na rádio Tabajara trabalhamos muito e lucramos muitas realizações, especialmente na área estrutural. Lembro bem a completa recuperação dos transmissores da AM – que já eram antigos, instalação de uma nova antena, além de várias outras obras no prédio sede, como a instalação de um auditório e galeria dos ex-presidentes. Também nos preocupamos com a preservação histórica da emissora, que me parece ser a quarta mais antiga do Brasil. Nesse sentido, trabalhamos na recuperação do rico acervo de discos de vinil e de fitas. Criamos uma sala para guardar e trabalhar na recuperação dos equipamentos antigos, mesas, microfones e peças históricas com o propósito de criar um museu para o rádio. Incentivamos programas tradicionais e cuidamos dos radialistas que fizeram história e ainda se mantinham no batente. Foi muito gratificante essa realidade. Falo de Geraldo Cavalcante, Big Show do Bolinha, Spencer Hardman e seu programa da noite “E Por Falar em Saudade”. Vejo hoje que a atual direção da rádio tem muita sensibilidade em relação a isso. Foi nesse período que sofri o grave acidente que quase me tirou a vida.
Espaço K – Você foi secretário executivo do Governo, trabalhou com a saudosa jornalista Lena Guimarães – deu pra fazer muita coisa
Genésio Souza Neto – Anos mais tarde, retornei ao Governo, dessa vez tivemos a oportunidade de assumir a secretaria executiva da Secretaria de Comunicação, a convite da jornalista Lena Guimarães, Secretaria de Comunicação. Foi uma gestão muito difícil e num momento conturbado na política. Trabalhamos com correção, imprimindo muita austeridade, até porque, essa já era a marca do então governador José Maranhão. Buscamos trabalhar com credibilidade, administrando um orçamento muito reduzido em relação à gestão anterior, ainda assim, obtivemos bons números para as ações do Governo, que sempre pontuou em patamares positivos nas avaliações dos institutos de pesquisa. Foi um período de muitas experiências e, principalmente, serviu para conhecer o quadro político e avaliar os bastidores de nossa mídia. Quando estamos em um cargo de poder aparecem muitos amigos. Depois, a maioria desaparece e só ficam aqueles que realmente trabalham com respeito e ética. Essa foi uma constatação que pude sentir, quando estamos trabalhando no meio político. É preciso ter muita paciência para conviver com a falsidade daquelas tapinhas nas costas. Eu não me envolvia em política e atuava mais no lado administrativo. Foram muitas dificuldades e desafios, até porque, temos no Governo uma estrutura ineficiente e complicada para gerir um Estado. Os gestores sofrem com essa realidade. O fato é que, apesar dos transtornos e das dificuldades, valeu a pena a experiência.
Espaço K – Tem muitos jornalistas que são formados em Direito, você é um deles e tem especializações na área. Vamos falar sobre isso, você atua nas duas profissões?
Genésio Souza Neto – É muito importante para o jornalista uma formação acadêmica paralela. O Direito me abriu muitas portas. Eu nunca deixei de atuar na área, embora muito discretamente. Me ajudou muito na minha condução de repórter, pois, ao fazer as entrevistas, especialmente com magistrados e operadores do Direito, não temia e sabia falar a língua deles. Essa realidade credencia muito o seu trabalho. Você sabe que, muitos anos depois, já fora da imprensa, trabalhei a seu lado, quando fui convidado pelo desembargador Júlio Aurélio Coutinho para ser Assessor de Comunicação do Tribunal de Justiça.
Espaço K – e sua passagem pelo TJPB?
Genésio Souza Neto – Foi uma passagem importante e hoje tenho orgulho dessa experiência, pois conheci homens e mulheres brilhantes e fiz grandes amizades e cito como exemplos os desembargadores Fred Coutinho e Rafael Carneiro Arnaud (falecido), e juiz Adailton Lacet. Atuei na Comunicação, também, nas gestões de Antônio Moura, Abrahan Lincoln e Fátima Bezerra Maranhão. Posso dizer que, na vida profissional como jornalista, conheci os bastidores e tenho serviços prestados em todos os poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário. Procurei me especializar em vários campos do Direito. Quando fazia concurso para o MP, fiz vários cursos e um dos mais importantes foi especialização pela Escola do Ministério Público da Paraíba. Hoje, com os avanços e inovações no campo do Direito Digital e tecnologia, venho procurando me especializar na área, e acabo de concluir uma pela PUC-Minas, em Direito e Proteção de Dados, tema muito discutido no Brasil, em especial, após a introdução da Lei Geral de Proteção de Dados.
Espaço K – Você tem especializações na área do Direito. Vamos falar sobre isso, você atua nas duas profissões?
Genésio Souza Neto – Fiz Mestrado em Comunicação Social, mas sempre tive simpatia pelo Direito. Meu pai também era bacharel em Direito e eu pensava em seguir seu caminho. Sonhava também em ser Promotor, até porque, o Jornalismo é uma carreira emocionante, mais muito estressante. Você termina o trabalho de hoje e já está começando o de amanhã. E isso me atraia, mas consumia todas as minhas energias. É preciso gostar muito para seguir no trilho da ética e do profissionalismo, além de não ser bem remunerada. Infelizmente você precisa ter outra fonte renda. E eu pensava nisso, tanto que fiz vários concursos e por pouco não entrei no Ministério Público. Desisti na melhor fase de preparação, pensando em seguir carreira dentro do Associados, mas a decepção foi muito grande.´ Hoje sou funcionário efetivo, lotado como jornalista na Assessoria de Imprensa do Tribunal de Contas do Estado, órgão especial do controle externo na Paraíba. Estou lá desde 1984. Ingressei como Assessor de Imprensa, substituindo meu pai, e nesse tempo, já são quase 40 anos. Fui o primeiro Assessor de Comunicação do TCE. Em 2000 a pedido do jornalista Luiz Augusto Crispim, então secretário de comunicação do Governo José Maranhão, fui cedido pelo TCE à Rádio Tabajara, num momento importante que consolidou a implantação da FM 105.5. Ele dizia que minha experiência administrativa, no jornalismo e na rádio O Norte eram credenciais para assumir aquela missão. Então aceitei o desafio.
Espaço K – Chegou a trabalhar com políticos, esses chatos que só pensam em si, enganadores do povo?
Genésio Souza Neto – A maior parte da minha vida profissional no Jornalismo foi trabalhando com políticos. Foram muitos anos de editoria política no Jornal O Norte, com algumas incursões na TV e na rádio FM O Norte, onde tive a oportunidade de compartilhar a mesa em um programa de variedades e debates políticos ao lado de Petrônio Souto e Agnaldo Almeida, duas feras do jornalismo. Acho que foi como repórter político e editor que mais me realizei, pois fui testemunha e até protagonista de vários episódios de nossa política contemporânea, digo até, de momentos que marcaram a nossa história. Vivemos o clima de perplexidade com a morte do Jornalista Paulo Brandão, os embates políticos entre os ex-governadores Wilson Braga, Tarcísio Burity, Antônio Mariz e Ronaldo Cunha Lima. Briga dos Associados com Ronaldo Cunha Lima, Guerra nas campanhas políticas para o Governo e Legislativos. Bastidores na Assembleia Legislativa, em um tempo de políticos melhores preparados e comprometidos.
Espaço K – Era outro tempo, né?
Genésio de Souza Neto – Era uma época de muito respeito com a imprensa e nós mantínhamos canais abertos com essas autoridades. Existiam, como sempre, aqueles chatos, mas ao inverso de hoje, era minoria. Naquele tempo tínhamos políticos que eram exímios oradores e sabiam debater os temas com capacidade. Governo e Oposição. Posso citar nomes como Evaldo Gonçalves, Ramalho Leite, que foi um grande líder no Governo Tarcísio Burity. Deputado Pedro Adelson, dando aula de como fazer oposição com competência e respeito. Entre muitos outros que ainda estão por aí fora da política.
Espaço K – Já hoje…
Genésio de Souza Neto – Hoje considero ruim o nível de nossos representantes, mas há exceções. A política, ao meu ver, como já testemunhamos a nível de Brasil e de Paraíba, cheira a corrupção e interesses eminentemente pessoais. E o pior – como os fatos mostram, sem perspectivas de melhora, pois não temos mais, entre os poderes e as instituições de Estado, em quem acreditar. O que se dizer de uma Justiça que julga, decide e condena réus confessos em todas as instâncias hoje. Amanhã, anula tudo e os julgadores passam a ser os condenados.
Espaço K – Genésio antes de casar, era muito namorador?
Genésio de Souza Neto – Fui um garoto de praia. Nascido em Campina Grande, aos nove anos viemos para João Pessoa, quando meu pai foi chamado pelo então diretor dos Associados, Marconi Goes, para compor a equipe de diretores e jornalistas do Jornal O Norte. Naquele tempo a avenida Franca Filho, no bairro de Manaíra – era a principal do bairro e muito movimentada, era refúgio dos veranistas que vinham de Campina Grande. Era o point. Hoje é Camboinha. Lembro bem do vereador campinense Antônio Pimentel. La moravam o saudoso Luiz Augusto Crispim, Dante Zácara, os advogado Geraldo Beltrão e Yanko Cirilo, o Procurador Nilton Soares, Professor Nacilvo Cardoso, entre outras personalidades daquele meu mundo. Admito que aproveitei muito os bons tempos de criança e jovem nos anos 70, 80 e 90, levados pelos assustados e os embalos de sábado à noite, muita praia, surf e amizades sinceras. Tanto que me casei bem mais tarde, aos 33 anos, ainda achando cedo. Iniciei meus estudos secundários na escola pública, no grupo escolar Seráfico da Nobrega, que era perto de nossa casa, ainda hoje referência no bairro, assim como o Colégio Alice Carneiro em Manaíra. O bairro de Manaíra era cheio de cajueiros, lagoas e areeiros. Muito diferente da metrópole que é hoje.
Espaço K – O ser humano é cheio de falhas, correrias, e aborrecimentos – o que resultam num estresse sem fim. Como você faz para driblar esse mal que está no trânsito, em todo canto?
Genésio de Souza Neto – K, eu sempre fui muito tranquilo e recatado, um menino quieto, que nunca criou desavenças com ninguém. Tenho procurado sim superar esse estresse da vida, mas é difícil nesse tempo em que estamos vivendo. Acho que a paciência é o melhor caminho. Essa personalidade vem de meu pai, que sabia enfrentar os problemas com muita paciência e no final tudo terminava bem. E é assim que procuro levar a vida, mas às vezes isso é ruim. Você perde espaços e é incompreendido. Como já disse, até os 40 anos, antes de meu acidente, tinha muitos desafios pela frente, mas isso deixou de existir. Deus me puxou o freio e a partir daquela nova realidade minha vida mudou. Hoje procuro viver em paz, sem prejudicar ninguém e cumprindo com minhas obrigações e a missão celestial que ainda está por vir. Meu objetivo hoje é buscar ser feliz fazendo o que gosto, coisas simples, e vendo a felicidade de minha esposa Eddy e de meus filhos, torcendo para que sejam bons seres humanos e realizados profissionalmente. Ela médica, Taysa, em São Paulo, e Lucas, concluinte do curso de Direito.
Espaço K – Você está chegando aos 60, né?
Genésio de Souza Neto – Sim. Hoje, já entrando na casa dos 60, estou repensando os próximos dias. Em termos de trabalho, já tenho tempo para aposentadoria, mas não penso nisso. Penso em me aprofunda e ajudar no meu credo espiritual, seguir fazendo o que gosto em outros ramos do Jornalismo – nesse caminho vem o magistério. Em ensinar, transmitir experiências de vida. E é por isso que no momento me especializo em Proteção de Dados. Estou começando a escrever alguns projetos de livros ( um deles sobre o acidente – o coma etc) e traçando matérias jornalísticas com cunho histórico e sobre carros e turismo, temas que me atraem e trazem satisfação.
Espaço K – Como é seu trabalho no TCPB?
Genésio de Souza Neto – Meu trabalho no TCE é gratificante, porque escrevo o que gosto na cobertura das sessões, nas matérias sobre controle externo e que são favoráveis ao interesse público, nessa constante luta do Tribunal em defesa do erário público. Me sinto muito familiarizado com todos os temas que ali trafegam. Por outro lado, tenho ótimas relações de trabalho com meus colegas da Assessoria, dirigentes, membros e funcionários, e me sinto parte de uma família que já vem junta há muitos anos.
Espaço K – Se quase morreu uma vez, tem medo da morte?
Genésio de Souza Neto – Sobre a morte, não sei se tenho medo de morrer e procuro não pensar muito nisso, mas sei quais são as maneiras mais rápidas para chegar ao encontro dela, afora uma fatalidade. Por isso, nessa idade, fase início do idoso, tento ter uma vida mais saudável, preservar a saúde, fazendo atividades físicas, correr, andar de bicicleta e insistir no futebol. O que sei é que já estive muito perto da morte, convivi com ela, e sua presença não me surpreende mais. Já tenho essa ideia como natural. Mas converso muito com Deus e ele tem conduzido meus passos na convivência com esse mundo de ilusões, cada vez mais, cheio de pessoas egoístas e vaidosas.
Espaço K – Genésio bebe, já bebeu, já fumou, ou nada disso?
Genésio de Souza Neto – Quando jovem, décadas de 80 e 90, fui um garoto muito equilibrado com bebida e outros vícios da juventude, mas nunca deixei de curtir essas coisas. Fumava porque achava bonito naquela época. Calton e Malboro eram os famosos e que traziam charme. Bebia moderadamente. Vivenciei muitas loucuras da juventude, mas nunca fui influenciado por nada, apesar de ter vivido muitos momentos interessantes nos dacs da UFPB, andado entre sufistas e garotos de praia, numa época que a maconha reinava, mas nunca me atraiu.
OPINIÃO - 22/11/2024