João Pessoa, 29 de fevereiro de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O ex-governador Mitt Romney venceu com folga a primária do Partido Republicano no Arizona, mas o triunfo apertado em relação ao ex-senador Rick Santorum em Michigan, seu estado natal, despertou temores de que o processo de escolha do candidato republicano à Presidência se prolongue demais.
Uma sequência de resultados magros retardaria a definição do nome que enfrentará o presidente Barack Obama, nas urnas, em novembro. Isso porque, nos próximos 15 estados a realizarem prévias, os delegados que votarão na convenção partidária de agosto serão divididos proporcionalmente, de acordo com a posição de chegada dos concorrentes.
Já às 22h, as redes de TV CNN, ABC e NBC deram projeções confirmando a vitória de Romney no Arizona — o que lhe rende todos os 29 delegados em jogo. Com 100% das urnas apuradas, ele obteve 47% dos votos do estado, enquanto Santorum aparece com 27%.
— Estou pronto para liderar meu partido e meu país, e para começar o caminho rumo a recuperação econômica. São tempos duros, mas esta vez não podemos nos permitir a errar. O que disse antes, eu reafirmo: esta campanha quer salvar a alma da América. Esta eleição apresenta duas opções. Deixar a nação nas mãos de Washington ou deixá-la nas mãos de pessoas, como nós, que podem gerir o país de maneira eficiente — disse Romney em seu discurso, em Detroit.
A contagem, porém, foi apertada em Michigan, onde os 30 delegados do estado são distribuídos segundo o critério de proporcionalidade. Com 99% das urnas apuradas, Romney tem 41% dos votos, seguido de perto por Santorum, com 38%.
Os dois estados são fundamentais para determinar os rumos da chamada Super Terça, no dia 6, quando vão às urnas republicanos de 11 estados para disputar 419 delegados. Antes, no próximo sábado, os eleitores do partido no estado de Washington fazem sua escolha. São necessários 1.144 delegados para garantir a nomeação republicana. Romney tinha, até ontem, 123, contra 72 de Santorum.
— Independentemente dos resultados, são precisos ajustes na campanha para que Romney mantenha-se o candidato mais viável. É preciso menos currículo e mais inspiração — disse ao GLOBO o ex-deputado federal pelo Arizona e consultor republicano John Shadegg.
Ele explica que quanto mais apertados os confrontos, mais longa a campanha pela nomeação final — e mais chances para que Obama e os adversários democratas explorem a divisão interna.
Ohio, uma das próximas paradas decisivas
A corrida é particularmente preocupante para Romney, favorito dos caciques republicanos e ainda percebido como aquele com mais chances de bater Obama — mas sem conseguir vitórias expressivas após quase dois anos em campanha. O cenário é nebuloso: dos cinco principais colégios que serão disputados, três dão vantagem a Santorum, que vence o ex-governador nas pesquisas por 38% a 27% em Washington; 36% a 29% em Ohio e 38% a 20% no Tennessee.
A expectativa maior é pelo impacto do duelo entre Romney e Santorum em Ohio, um estado industrial de perfil semelhante ao de Michigan, mas decisivo nas eleições de novembro. Ao contrário de Michigan, onde os candidatos democratas a presidente venceram todas as eleições desde 1988, Ohio é um swing state, que tende a mudar de lado — foi decisivo para as vitórias de George W. Bush em 2000 e de Obama em 2008.
Romney mantém liderança isolada apenas em Massachusetts, onde foi governador, com 64% das intenções de voto, contra 16% de Santorum. Ainda assim, ele não se mostra disposto a dar uma guinada conservadora na campanha para brigar com Santorum, que tem se consolidado como o candidato mais à direita.
Na terça-feira, o ex-governador acusou o rival de usar "truques sujos" para atrair democratas em Michigan (a primária no estado é aberta) e de se exceder na retórica incendiária. Advertindo para o risco de "sequestro do processo de seleção republicano", ele denunciou o uso de chamadas telefônicas gravadas para eleitores democratas. A mensagem deflagrada pela campanha de Santorum apela à economia. E diz: "Romney apoiou o socorro a seus amigos bilionários de Wall Street, mas se opôs ao resgate da indústria automobilística. Isso foi um tapa na cara de cada trabalhador de Michigan, e não podemos deixá-lo escapar".
— É revoltante que Santorum convide democratas a participar das primárias republicanas — reclamou Romney.
Santorum rebateu afirmando que, em New Hampshire, onde Romney venceu, as primárias também eram abertas: cerca de 53% do eleitorado não eram republicanos:
— Não ouvi Romney reclamar naquela ocasião.
Nos últimos dias, Santorum também atacou o partido adversário. Chamou Obama de "esnobe" por defender o direito de todos os americanos frequentarem uma universidade e disse que, em 1960, a defesa do então candidato a presidente John Kennedy da separação entre Igreja e Estado lhe dera "vontade de vomitar".
— Temos visto nesta campanha que, se você se dispuser a dizer coisas ultrajantes contra o presidente Obama, vai disparar nas pesquisas. Não vou atear fogo às vestes para tentar ganhar apoio. Eu sou quem sou. Se não for escolhido como candidato, eu posso viver com isso — reagiu Romney, em uma declaração surpreendentemente forte para um candidato com fama de adaptar o discurso para agradar às plateias.
O Globo
OPINIÃO - 22/11/2024