João Pessoa, 26 de fevereiro de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O problema não é físico. O problema não é mais financeiro. Então, por que Ronaldinho não consegue manter a regularidade e o alto nível com a camisa do Flamengo, pouco mais de ano depois de deixar a Europa sonhando em disputar a Copa do Mundo de 2014 no Brasil?
Já que essa pergunta o craque provavelmente se esquivaria da resposta, como de praxe em momentos adversos, seu retrospecto traduzido em números nos jogos em que atuou no Carioca acusam um poder de decisão baixo e atuações cada vez mais burocráticas.
No primeiro turno do Estadual, foram apenas cinco partidas, com um gol, uma assistência e somente treze finalizações, entre certas e erradas. Se contar os dois meses de salário recebido esse ano, Ronaldinho soma um ganho de R$ 2,5 milhões, o que daria a cada drible certo, sua grande marca no futebol, o valor astronômico de R$ 500 mil, já que foram apenas cinco em cinco jogos.
Depois de ter o impasse sobre seus salários atrasados resolvido, acabaram de vez as desculpas para a omissão em campo, que costuma andar em paralelo com notícias sobre festas varando a madrugada e maratona de show de pagode.
— Se o atleta fizer tudo certinho não tem como dar errado. Nunca deu. Tem que conscientizar o atleta, não importa quem seja, do que ele tem que fazer. Se ele não fizer é pouco inteligente da parte dele. O repouso é essencial em tudo. Se você ficar duas noites sem dormir o sistema imunológico diminui. O atleta quando é muito jovem sente, mas nem tanto, mas quando chega uma idade avançada vai diminuindo a capacidade de recuperação — explica o preparador físico rubro-negro, Ronaldo Torres, que foi jogador e acredita 100% no método para garantir a forma dos seus atletas.
Se não está em má forma física, Ronaldinho apresenta um sintoma também explicado nos números: a preguiça. A cena do jogador recebendo uma bola de frente com um último marcador, pela esquerda, vem se repetindo, e a reação do camisa 10, do mesmo modo, tem sido tocar para o lado.
O passe é certo 83,2% das vezes, as viradas de jogo 81,2%, mas aquele jogador das arrancadas desapareceu. De bom, ficaram os cruzamentos, com aproveitamento de 44,4% em 12 oportunidades. O jogo em que Ronaldinho entrou mais motivado foi o último do técnico Vanderlei Luxemburgo, contra o Real Potosí.
Ronaldo Torres: ‘potência não é a mesma’
Com anos no mercado e uma carreira vitoriosa, o preparador físico Ronaldo Torres não entra em rodeios, e confessa que o desempenho de Ronaldinho não será o mesmo que o visto no Barcelona ou até no Milan, mas pode evoluir com trabalho.
O profissional explicou que a fibra muscular responsável pela potência precisa ser melhor trabalhada para que o craque volte a dar aquelas famosas arrancadas.
— Quando a fibra de resistência fica cansada e pede ajuda para a de potência, mas se ela tiver mal trabalhada se rompe. A potência que ele tinha antes nao é a mesma de agora, mas fazendo esse trabalho vai melhorar muita coisa — garante.
Sem explosão, Ronaldinho é ultrapassado na corrida, e ao tentar se recuperar acaba fazendo faltas. Foram oito, contra sete recebidas só na Taça Guanabara, quando o jogador perdeu mais de 30 bolas por partida.
Com posse de bola de 1min22s por jogo, a fração de segundos genial começa a ser mais rara, como na enfiada de bola para Vagner Love contra o Nova Iguaçu, na estreia do atacante. Aos 32 anos, Ronaldinho parece que viverá de lampejos.
Apagado em decisões
O lance mais destacado de Ronaldinho no clássico contra o Vasco, pela semifinal da Taça Guanabara, foi puxar a marcação para Vagner Love ter liberdade e marcar o primeiro gol. Em clássicos regionais, o camisa 10 do Flamengo perdeu a invencibilidade com a eliminação na última semana, mas nunca se apresentou bem contra os rivais cariocas desde que chegou, ano passado. No total, foram onze clássicos, sem balançar as redes, entre Estadual e Brasileiro.
Sem cobranças
O técnico Joel Santana chegou dando apoio ao seu astro e deixando bem claro que dificilmente o tirará de campo na partidas. Mesmo Vanderlei Luxemburgo, treinador que o antecedeu, fez isso poucas vezes. Ambos citaram com o poder decisão de Ronaldinho, que não tem aparecido.
O show previsto por Joel na véspera do jogo contra o Vasco ficou esperando, mas o comandante segue dando suporte ao craque, evitando bater de frente sem necessidade. Mesmo após um pênalto perdido contra o Madureira, no primeiro turno.
— Ele é nosso coringa — disse Joel Santana.
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