João Pessoa, 17 de fevereiro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Minha avó Joana Batista ensinou-me algo mágico; gostar de ler. Tão importante (ou até mais, no dizer de Ziraldo) quanto aprender a ler, gostar de ler definiu minha vida. Criança ainda, era a avó que me contava histórias fantásticas. Eu pedia a ela que repetisse as mesmas histórias várias vezes seguidas, “até cansar a boca”. Porém não imaginem que eram histórias comuns, tipo “João e Maria” ou “Cinderela”. Nada disso; do que me lembro havia a história de um certo Justiniano que depois de mil trapalhadas encontrava-se com Deus e São Pedro disfarçados de mendigos ao longo de uma estrada. Durante três Dias Justiniano dividiu a sua pouca comida com os dois. Ao final, Deus identificou-se e concedeu a Justiniano três desejos. Resumidamente Justiniano não pediu a salvação e quando morreu foi parar no inferno, mas jogou baralho com o diabo e ganhou todas as almas penadas, conseguindo depois não só entrar no céu como levar consigo as almas que ganhara no jogo. Tinha muito mais. Não vou cansar vocês, porém não posso deixar de referir a história da mulher teimosa que acompanhou o marido numa viagem e insistiu em levar a porta da casa. Tanto encheu o saco que o marido concordou e finalmente a porta salvou a vida de ambos. Essa eram as histórias que eu ouvia.
Quando aprendi a ler minha avó começou a me dar livros enquanto descansava a boca. Lembro que aos dez anos comecei a ler Jorge Amado. “Dona Flor e seus dois maridos” foi uma revelação. Já deu para perceber o calibre de dona Joana Batista, hem?
Leio, leio muito, leio em todos os lugares. E gosto de ler dois ou três livros ao memo tempo. Gosto tanto que quando viajo levo muitos livros comigo. Eu os escolho com o mesmo interesse com o qual mãe Leca escolhe as roupas para pôr em sua mala. Uma das maiores decepções que tive foi quando descobri que nos Shoppings de Miami não havia uma livraria sequer. Jamais voltei lá. Quando chego em outro país procuro comprar livros que já tenha lido em português para treinar o idioma local.
É muito triste constatar que a maioria dos mais novos não gosta de ler. Temo pelo futuro de uma geração que não tem esse saldável vício da leitura.
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TURISMO - 19/12/2024