Certas ruas do Bairro do Miramar têm nomes bonitos. Vale dizer que, se dependesse de mim, pouquíssimos logradouros, praças , ruas e avenidas teriam nomes de pessoas. No máximo, poetas, escritores, músicos, cientistas, poderiam ter seus nomes imortalizados dessa forma. Adotando-se essa prática, seriam evitados vários riscos estéticos , históricos, e restariam preservados o bom senso e o interesse público.
Invariavelmente, o interesse pessoal prevalece: o contraparente de alguém , que mérito algum teve, é homenageado com nome de rua. Não precisa qualquer justificativa , bastam os contatos certos, e pronto: toma lá o nome da rua . Assim, pais, tios , primos , avôs , absolutamente irrelevantes para a história da cidade, do bairro, ou mesmo da rua, ganham reluzentes placas, fincadas nas esquinas.
As famílias dos ilustres finados homenageados, ficam agradecidas com a atenção , se orgulham por algum tempo, comunicam aos amigos, e , em pouco tempo esquecem. Deixam para lá. Os moradores que , doravante, convivam com o nome, por mais inadequado que seja. Tal detalhe é recorrente: dificilmente a família que cavou a homenagem mora no local.
Há casos de bajulação explícita, batizando-se o logradouro com o nome de quem está em evidência, ou de seus parentes próximos. Até mãe de Presidente da República pode virar bairro ou parque. O problema é que a História, sempre revisitada , por vezes, passa a execrar quem antes era exaltado. Tudo depende da direção dos ventos do poder, para que lado sopram naquele momento. E lá fica aquele nome, de gosto e conveniência duvidosos, pregado no lugar.
Pior ainda é quando alguém decide trocar o nome, já secularmente fixado no cotidiano dos habitantes, por outro, homenageando autoridade , política, eclesiástica, judiciária, militar. São tantos os exemplos, que listá-los seria enfadonho. Tristemente enfadonho. Contam-se nos dedos os casos de reversão do nome historicamente consagrado . São Petesburgo, na Rússia, é um deles. Livrou-se do peso de ser Leningrado até o fim dos tempos.
Voltando ao Miramar, ouvi dizer que a Rua do Capim já sofreu um solavanco. Houve tentativa de atribuir-lhe nome de pessoa. Espero que não vingue. Torço para que sua antiga e poética denominação seja preservada. Espero, mais ainda, que os responsáveis por dar nome às ruas, deixem quietas as Ruas da Palha, do Sol , das Acácias e da Aurora.
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