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João Suassuna: herói e guerreiro

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publicado em 13/03/2024 ás 07h00
atualizado em 12/03/2024 ás 17h40

Há mais de 90 anos, era assassinado no Rio de Janeiro, numa emboscada, João Suassuna, o ex-presidente da Paraíba, aumentando o mar de sangue que marcou o fatídico ano de 1930, cheio de incompreensões, traições e injustiças.

A Paraíba ainda não olhou com o devido merecimento para João Suassuna, este filho do Sertão, caboclo que trazia tino para as afetividades. Ele carregava o olhar para a natureza semelhante ao homem que cultiva a terra, trazia a sabedoria dos cantadores de viola e a coragem de vaqueiros que recolhem o gado pelos grotões, guardando nas mãos calejadas o perfume da flora da caatinga.

O pai de Ariano Suassuna foi um homem preocupado com a vida no santuário do Sertão. Tinha sede de justiça, buscava incessantemente conhecer a sabedoria do seu povo e melhor explorar a riqueza da caatinga.  Pelos seus atos, interrompidos no florescer dos 44 anos, tornou-se notável no respeito ao próximo, indistintamente.

Tendo vivido sua infância na “terra de luminoso sol”, em cuja paisagem no período da estiagem ficava esturricada e na caatinga os esqueletos de árvores coando o sol abrasador, ele acreditava na transformação desse cenário para melhorar a qualidade de vida do povo.

A Paraíba é pródiga em esquecer os poucos heróis que tem. Mas largueia o leque das lembranças com aqueles construídos à base de acontecimentos nem sempre louváveis.

Quando o homem constrói sua vida com base familiar sólida, seus feitos permanecem. Quando morre, sua lenda continua apesar do silêncio sepulcral imposto. O tempo ajudará a sobreviver aos ataques já defasados e a inveja injustificável.

O sangue é a semente dos mártires. Semente que precisa de águo para florescer, porque precisamos de heróis para reverenciar.

O que mantém viva a memória das pessoas é o modo como construíram sua história, seja o homem do pé-da-serra ou aquele que mora na cidade. No calabouço sobrevivem quem são moldados pelo caráter inabalável e pela fé.

Mesmo que tenham sido ferrenhos adversários, cinquenta anos depois José Américo de Almeida escreveu que João Suassuna “foi vítima inocente no mais monstruoso dos atentados”. Mais do que os outros, sobre ele caiu o silêncio, mas certamente o tempo fará justiça.

Produto da mesma sanha e do gatilho nas tocaias, o autor de “A Bagaceira” talvez tardiamente tenha reconhecido a barbárie que também vitimou outros inocentes.

As pedras colocadas sobre João Suasuna esconderam sua história, seu amor pela Paraíba e sua gente, mas aos poucos vão sendo retiradas. Cavalheiro da esperança, ele foi um homem que não manchou as tradições sertanejas, como recordou a escritora cearense Raquel de Queiroz, que o colocava na lista de políticos desinteresseiros. “Ele viveu como um herói e morreu como um guerreiro”, assim, ela repetia o que ouvia de seu pai ainda na quentura dos fatos de 1930.

Lembrando da passagem deste homem, presto a João Suassuna a minha homenagem. Um dia a Paraíba saberá fazer o sol brilhar para este filho esquecido, e para outros que serão resgatados e constarão na galeria dos cidadãos íntegros.