João Pessoa, 17 de fevereiro de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O presidente alemão, Christian Wulff, renunciou nesta sexta-feira em meio a acusações de tráfico de influência por tentar impedir a publicação de uma reportagem desfavorável à sua imagem. A saída do presidente é uma grande perda para a chanceler Angela Merkel, que cancelou uma viagem a Roma e deve fazer um pronunciamento nacional ainda nesta manhã.
Em transmissão nacional, Wulff disse que “o desenvolvimento recente dos acontecimentos deterioraram a confiança dos cidadãos” em sua pessoa. O anúncio acontece poucas horas após a Promotoria de Hannover pedir a suspensão da imunidade de Wulff. Os promotores garantem ter “indícios concretos e suficientes” para provar que o presidente cometeu um crime ao aceitar convites do empresário de cinema David Groenewold. Enquanto Wulff aproveitava férias às custas de Groenewold, o executivo recebeu um aval público do governo da Baixa Saxônia, então chefiado pela ex-presidente. Se o pedido for aceito, será a primeira vez que um chefe de Estado alemão é investigado formalmente pela justiça.
Merkel devia se reunir com o premier italiano, Mario Monti, mas cancelou a viagem. A chanceler disse que aceita a demissão “com respeito, mas também com pesar” e que vai procurar um substituto de consenso junto com a oposição socialdemocrata e verde.
— Ele se dedicou aos interesses da Alemanha — disse ela em um breve pronunciamento.
Aliado importante da chanceler, Wulff se viu no centro de uma série de escândalos em meados de dezembro. Na época, a imprensa revelou que ele teria recebido um empréstimo nebuloso de 500 mil da mulher de um importante executivo do país para comprar uma casa, em 2008 — quando ainda era primeiro-ministro da região da Baixa Saxônia.
Wulff demorou duas semanas para fazer qualquer comentário público sobre o caso. Mas, um dia antes de a matéria ser publicada, Wulff, sem conseguir falar com o editor do tabloide "Bild", Kai Diekmann, deixou um recado em sua secretária eletrônica em tom de ameaça, afirmando que haveria guerra entre eles, e que a reportagem teria consequências judiciais se fosse estampada no jornal. Ele teria ligado ainda para a companhia que edita o tabloide — a Springer.
O episódio foi encarado no país como uma grave violação da liberdade de imprensa. Irritada, a própria chanceler alemã teria pedido a cabeça de Wulff.
O Globo
OPINIÃO - 06/11/2024