João Pessoa, 16 de março de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A Igreja São Francisco iluminada e pouquíssimas pessoas nos bancos. Às 18h em ponto, surge o tenor Lucas Bojikian no púlpito interpretando Ave Maria de Gounod/Bach. Outro jovem, Vinícius Sales, tocava o piano. No desenho da cena um círculo de muitas vidas.
Outros caminhos nos servem para dias nunca sozinhos, quando entra em nossa vida a música – a distância se encurta e nossas ocupações descansam.
Dias tão ocupados, quentes, nublados – o absurdo à coisa seguinte, uns emocionais, outros pancadarias. Torcidas se atacam nos estádios e assaltantes se multiplicam, enquanto ouvimos música. Pelo menos.
Li que os presos, de si mesmos, quando se veem presos ficam cegos e moucos entre 4 paredes nos restos de abandono e escondem coisas que não existem. Nunca escutaram Ave Maria de Gounod.
Uns se contorcem e outros são esmagados pelo olhar de quem guarda um segredo espantoso. Não existe segredo. Aquela senhora insiste em fazer fotos comigo. É um horror, ela nunca escutou Ave Maria de de Gounod.
Uma médica que chegou ontem aos 82 anos, me disse a filha, que é jornalista, que sua mãe fez um parto há mais 40 anos, numa mulher morta. Salvou o bebê que não se perdeu das ventanias sonoras, ruas, escolas, riachos, do céu e da terra, da música humana música.
Na vida trocamos favores, beijos, sequencias de civilidade, fazemos caridades, para os que não brilham em espaço lúgubres fantasias, queixas e fome, e sequer escutam a Ave Maria de Augusto Calheiros – “Cai a tarde tristonha e serena, em macio e suave langor…”
De longe os aconchegos melodiosos, alguém que mais tarde irá compor uma canção e, desde então, uma pauta para minha crônica sobre uma Ave Maria, que surgiu numa cena muda, no chão da igreja.
A última música, o último arrepio fez-se muito reservado e do tom se fez o baile.
O filho de Gal Costa, Gabriel, pede que façam a exumação do corpo da mãe, para saber mais sobre a sua morte. A morte não estica mais os abraços, mas causam encalços. mas cuidado, o nome dela é Gal – e seu nome não morre nunca. O que dizer da nona, a última sinfonia de Beethoven que foi composta e apresentada quando o músico já estava surdo?
A Igreja São Francisco nunca esteve tão bonita, silenciosa, só minha, quando da última quinta-feira – silencio que ficou na parede, nessa memória e rastro que serve de chão.
Voltei para casa pelas raízes, no clarão da lua, ouvindo o latido do cão na Praça do Bispo e o assobio do menino que tantos séculos depois, ainda vão ouvirá Ave Maria de Gounod
Kapetadas
1 – Tem muita gente por aí que já morreu, só falta receber a notificação.
2 – Como seria a inteligência artificial brasileira?
3 – Salve o Projeto Corredor Turistico João Pessoa.
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OPINIÃO - 22/11/2024