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Kubitschek Pinheiro – MaisPB
O fluxo migratório do sertão para o mundo, trouxe de Catolé do Rocha, Nara Valusca Miranda Alverga para ser jornalista, João Pessoa. Ela tinha 17 anos. Ganhamos nós.
Dando razão à ideia de Nara Valesca, que expressa nessa entrevista ao Espaço K, o seu reconhecimento, seu espaço, vem da aprendizagem e convivência com profissionais, que foram seu norte no crescimento do jornalismo. “Muita gente boa, muita gente inteligente, pessoas que ajudaram a moldar a jornalista na qual me transformei”
Nara Valusca passou por vários redações – outras escolas que impulsionaram sua carreira. No Jornal O Norte, assou por todas as funções e cargos.
É formada em Comunicação Social, com especialização em Jornalismo, pela Universidade Federal da Paraíba. Tem Pós-graduação em Redação Jornalística pela Universidade Potiguar. Co-autora, ao lado de Jorge Rezende, do livro “Imprensa de Cada Um – 15 anos Depois”. Trabalhou durante três décadas no Jornal O Norte, onde fui de repórter a editora-executiva.
Teve várias passagens pelo Jornal A União, com destaque para área de cultura, além de política e, por fim, a chefia de redação (antiga secretaria de redação). Foi editora-executiva do Jornal da Paraíba.
Nara está no Expresso, seguindo projetos, um nome forte para qualquer empresa de comunicação ou de assessoria de imprensa.
Em conversa com o Espaço K ela fala por onde passou e deixou sua marca.
Espaço K – E por falar em saudade, onde anda Nara Valusca?
Nara Valusca – Saudade é uma palavra da qual gosto muito. Como libriana que sou, sofro sempre de uma certa nostalgia… Mas, é bom sentir saudades. Não viver do passado, mas sentir-se feliz com as lembranças. E até chorar de saudades quando der vontade, porque isso, de certa forma, apazigua a alma… Bom, neste momento, estou fora do mercado. Optei por deixar o jornal A União, há cerca de um ano e meio – meu último trabalho – por questões pessoais, familiares. E aí, mais uma vez, a palavrinha saudade aparece. Porque quem trabalha em redação, se apaixona, fica viciado. Sinto muita falta, realmente!
Espaço K – Menina, lembro que lhe conheci no Jornal O Norte – na prática foi sua primeira escola?
Nara Valusca – Sim. Comecei no Jornal O Norte quando ainda estava iniciando o curso de Comunicação Social na UFPB. Por um acaso, conheci um jornalista, Ademilson José, que hoje tenho o maior orgulho de chamar de amigo, e ele me encaminhou para um teste no jornal. Isso foi lá em finais de 1991. Bom, fiz o teste e permaneci em O Norte até o fim, literalmente.
Espaço K – Me parece que você ficou no extinto Jornal O Norte até o fechamento das portas, pautas, circulação?
Nara Valusca – Exatamente. Tive a oportunidade de passar por praticamente todas as funções e cargos dentro da redação do Jornal O Norte. Trabalhei com tanta gente boa, interessante, inteligente! Profissionais que são referência no jornalismo paraibano até hoje. Por isso, sou muito feliz em dizer que entrei como repórter e terminei como editora-geral do Jornal O Norte, uma empresa quer foi a casa de colegas e amigos da categoria de um Gonzaga Rodrigues. Infelizmente, O Norte já vinha sofrendo todas as consequências de gestões complicadas e, claro, das mudanças no mundo das comunicações que a internet impôs. Tanto é que não apenas O Norte fechou. Outras empresas na Paraíba, no Brasil e no mundo precisaram se adaptar aos novos tempos, em que o impresso perdeu espaço e ficou praticamente inviável.
Espaço K – Do Norte foi convidada para trabalhar noutro impresso?
Nara Valusca – Trabalhei simultaneamente, por algumas vezes, no jornal O Norte e no Jornal A União, onde fiz especialmente a parte de Cultura. Em determinado momento, recebi com muita honra convite do saudoso Walter Galvão para integrar a equipe do Correio da Paraíba. Infelizmente, por motivos diversos, isso não se concretizou. Também dentro do Sistema Correio, fui sondada por Verônica Guerra, por quem também tenho admiração, para a produção de rádio. De novo, decidi permanecer em O Norte. São opções que fazemos na vida e que, no meu caso, foram proveitosas.
E, quando O Norte já estava fechado, tive a sorte e a felicidade de ser chamada, por sugestão do meu amigo e grande profissional Silvio Osias, para editar o Jornal da Paraíba, impresso que integrava o Sistema Paraíba de Comunicação. Fui extremamente feliz durante o período em que lá estive, onde recebi absolutamente todo o respaldo do presidente do grupo, Eduardo Carlos. Infelizmente, os altos custos e a perda de mercado decorrente dos novos hábitos de leitura e veiculação de notícias levaram a empresa a também optar pelo fechamento do jornal.
Espaço K – Você teve várias passagens pelo Jornal A União. Vamos falar sobre isso?
Nara Valusca – Falar sobre o Jornal A União é, especialmente, falar sobre carinho, acolhimento, clima de alegria na redação. Foram tantas vezes que lá estive, que até perdi as contas. Mas, acredito que de 1992 até dois anos atrás, estive por umas cinco ou seis vezes n’A União. E sempre que saí, foi por opção minha, por necessidade, tanto que as portas sempre permaneceram abertas. Foi sempre um prazer trabalhar no Jornal A União. Convivi também com muitos colegas maravilhosos e fiz amigos para a vida inteira.
Espaço K – Nara Valusca nunca trabalhou no Jornal Correio, onde passaram jornalistas como a saudosa Lena Guimarães, Sony, Gisa Veiga, Walquiria Maria, Marly Lúcio, Angélica Lúcio e tantas outras?
Nara Valusca – Verdade. Como mencionei, as circunstâncias da vida e do mercado não me permitiram ter essa experiência.
Espaço K – As redes sociais são velozes e supreendentemente terrenos do bem e do mal. Você as usa com frequência?
Nara Valusca – Uso as redes sociais, até porque elas fazem parte do mundo atual. Não dá para ficar fora. Ou então você fica para trás. Tenho, no entanto, muito cuidado. Não me exponho com relação a questões pessoais. Uso-as para me posicionar politicamente, divulgar trabalhos ou compartilhar coisas das quais gosto, como músicas, filmes, poesias, matérias jornalísticas… Mas, dou prioridade a sites jornalísticos na hora de me informar. Fake news são disseminadas sem controle pelas redes sociais. Por isso, vejo a necessidade urgente da regulamentação do uso da internet.
Espaço K – Me conta aí – nasceu em Catolé do Rocha, antiga praça de guerra da canção de Chico César. Com que idade migrou para capital?
Nara Valusca – Deixei Catolé aos 17 anos, quando entrei para a faculdade. Então, já é mais tempo de vida em João Pessoa do que mesmo em Catolé. Só que tenho uma ligação muito forte com minha terra natal. Minha família continua toda na cidade e eu mesma passo muito tempo por lá. Gosto do clima do interior, das relações humanas mais próximas, da cena bucólica aos domingos… Sou sertaneja de nascimento e de coração; me encanto e me emociono com as paisagens, o povo sertanejo, o cheiro da terra molhada em tempos de chuva…
Espaço K – Você trabalhou com muitos jornalistas – poderia falar dessa junção de talentos?
Nara Valusca – Eu tive o privilégio de trabalhar com muitos profissionais ao longo dessas três décadas de jornal. Seria de certa forma, injusto esquecer de citar algum nome. Mas, como você falou sobre a junção de talentos, de gerações diferentes, não posso deixar de mencionar o prazer de ter trabalhado ao lado de Gonzaga Rodrigues, meu mestre, meu amigo, e ao mesmo tempo dividir o espaço da redação com pessoas mais jovens, cheias de energia e ideias, como Clóvis Roberto, Socorro Silva, Marcus Antonius, Sueoni Souto Maior, Jorge Rezende, Wagner Lima, Girlan Idalino, Sandra Vieira, Glaudenice Nunes. E, claro, aprendendo muito ao lado de José Carlos dos Anjos, Sílvio Osias, Walter Galvão, Rubens Nóbrega, Joanildo Mendes, Nonato Bandeira, Roelof Sá, Carol Torres, Gisa Veiga, Agnaldo Almeida, Naná Garcez, Wellington Farias, William Costa, Ricardo Anísio… Muita gente boa, muita gente inteligente, pessoas que ajudaram a moldar a jornalista na qual me transformei.
Espaço K – Nara Valusca tem um grande amor, tem filhos?
Nara Valusca – Tenho um grande amor, claro. Mas, optei por não ter filhos.
Espaço K – O que gente pode fazer para engrossar a luta contra os homens que continuam matando suas mulheres – esse rolo de feminicídio sem fim?
Honestamente, não sei lhe indicar caminhos certeiros, mas sei que passa por educação, conscientização, empoderamento feminino, construção de políticas dirigidas ao fortalecimento financeiro, da independência emocional da mulher. E isso depende muito de gestões públicas. Então, o que temos que fazer, no mínimo, é cobrar dos agentes políticos a aplicação de políticas nesse sentido. E cobrar também mais segurança e punição aos culpados.
Espaço K – Você acredita em Deus?
Nara Valusca – É uma pergunta tão profunda! O que posso lhe dizer é que gostaria muito de ter uma fé mais forte. Acho que a fé em um ser superior, uma energia maior, facilita a nossa vida, permite que enfrentemos com um pouco mais de tranquilidade as agruras, os problemas, as dificuldades. Creio nesse ser, mas não consigo de apegar a religiões. Então, é preciso ficar sempre lembrando a mim mesma que há alguém ou alguma força capaz de me ajudar nas horas mais difíceis.
Espaço K – Tem medo da morte?
Nara Valusca – Não tenho medo da morte. Tenho medo da forma como isso vai acontecer. Porque, certamente, vai, né?
OPINIÃO - 22/11/2024