João Pessoa, 19 de março de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Há algum tempo li um texto, que depois vim a descobrir ser de autoria do escritor Içami Tiba, que comparava filhos a navios, cujo lugar mais seguro para estes é o porto e, certamente, para os filhos, tal porto é a casa dos pais.
E, nesta semana, passei por uma experiência deste tipo: um neto muito amado, recém saído da adolescência, de nome Pedro Henrique, viajou para fora do Brasil onde deverá ficar uma temporada de alguns meses, na busca de novos aprendizados e vivências. Apesar da experiência dos meus quase 65 anos de vida, e dos conhecimentos profissionais de psicólogo que sou, inclusive atuando muitas vezes como conselheiro de pais e mães acerca da importância de estimularmos a independência dos filhos, confesso que fiquei muito abalado com esta ausência, mesmo que temporária do meu amado neto. Fui invadido por uma sensação de vazio, preocupação e muita saudade, numa prova inconteste que, aconselharmos outras famílias a agirem mais com a razão e menos com o coração em relação à educação dos seus filhos e netos, é mais fácil do que praticarmos nós mesmos tais conselhos e diretrizes.
Mas, deixando um pouco de lado o que sente o coração de avô, e seguindo as orientações para uma boa educação de filhos e netos, segundo os preceitos da razão, socializo partes do texto acima referido, para reflexão de todos nós que somos pais:
“Filhos são como navios. Ao olhar um navio no porto, imaginamos que ele esteja no seu lugar mais seguro, protegido por forte âncora. Mal sabemos que ali está em preparação, abastecimento e provisão para se lançar ao mar, ao destino para o qual foi criado, indo ao encontro das próprias aventuras e riscos. Dependendo do que a força da natureza lhes reserva, poderá ter que desviar da rota, traçar outros caminhos ou procurar outros portos. Certamente voltará fortalecido pelo aprendizado adquirido, pelas diferentes culturas percorridas. E haverá muita gente no porto, feliz à sua espera”.
Certamente, assim são os filhos. Estes geralmente têm nos pais o seu porto seguro até que se tornem independentes.
Contudo, eles nasceram para singrar os mares da vida, correr seus próprios riscos e viver suas próprias aventuras.
Todos nós que somos pais, além da obrigação de prover nossos filhos com educação escolar, social, bens materiais etc., também almejamos que estes sejam resilientes, e que tenham um futuro de felicidades. Apesar de sermos conscientes que não existe felicidade pronta, algo que se guarda num esconderijo para ser doada, transmitida a alguém.
O lugar mais seguro que o navio pode estar é o porto. Mas ele não foi feito para permanecer ali.
Os pais também pensam ser o porto mais seguro para os filhos, e devem ser. Mas, não podem se esquecer do dever de prepará-los para navegar mar a dentro e encontrar o seu próprio lugar, onde se sintam seguros, certos de que deverão continuar sendo, em outro tempo, este porto seguro para outros seres.
Filhos nascem dos pais, mas devem se tornar “cidadãos do mundo”. Os pais podem querer o sorriso dos filhos, mas não podem sorrir por eles. Podem e devem contribuir para a felicidade dos filhos, mas não podem ser felizes por eles.
Embora muitos pais resistam a isso é preciso que tenham consciência que não devem seguir os passos dos filhos e nem devem estes descansar no que os pais conquistaram. Devem os filhos seguir de onde os pais chegaram. Do seu porto, e, como os navios, partirem para as próprias conquistas.
Mas, para que realmente estes novos navios estejam prontos para zarpar, precisam estar preparados e abastecidos para essa longa viagem que é a vida. E esta preparação cuja responsabilidade é dos pais, deve ser alicerçada em bases sólidas regadas com amor e limites. Pois só assim, poderemos ter a tranquilidade de “soltar as amarras” as suas amarras, na certeza que estes navegarão em águas serenas.
Boa sorte meu amado neto Pedro Henrique!
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TURISMO - 19/12/2024