João Pessoa, 22 de março de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Não há como pensar o passado e esquecer o futuro. É no meio deles que a gente experimenta o viver e o agir. Pretérito e devir estão amalgamados um no outro como condição inevitável da compreensão da existência. O presente é ponte fugidia entre eles. É a coisa mais quântica que existe, vez que sendo algo, algo não o é, pois já morreu; estando, não está, pois já passou. Esse é o paradoxo do agora.
O presente é uma coisa que a gente vivencia. É instante, passado e futuro ao mesmo tempo, apenas o vértice entre dois abismos que não existem: um já decaído; o outro, pelo que será, também inexistente.
O presente é isto: só vale enquanto marcador de uma referência de estado mental. O paradoxal é que não vivemos no passado nem no futuro. Vivemos nesse vazio que ao começar já termina, ou termina antes de começar, como essas maluquices do princípio da incerteza.
Ainda assim é no agora que devemos festejar a vida. Sem o presente não teria a saudade, a marca indelével do que já se foi; nem a esperança, as asas verdes apontadas em riste para algo que há de vir.
Diz-se que, em outra língua, não há a palavra saudade. Como esse povo do estrangeiro vivencia as referências boas que escapam do passado e se estendem ao agora? Decerto que não vivem sem essas referências, mas se é assim porque encalacraram o sentimento das boas recordações dentro uma caixa vazia que sequer nome tem?
A saudade pode até carecer de nome para expressá-la, mas como é condição da existência das lembranças boas, vive, inexoravelmente, dentro de cada cérebro pululando o juízo, dizendo baixinho: eu estou aqui e foi em mim que você foi feliz.
O fato é que não há como se domar o presente. O presente, se é que ele existe, fulgura como essas estrelas candentes que mergulham seus mistérios nas profundezas abissais das ilusões. Isso também é esperança. Quem já não fez um pedido a essas estrelinhas andarilhas? Quem? Quem?
@professorchicoleite
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