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A maior prevalência da dependência química, especialmente o alcoolismo, acomete o público masculino, mas este mal vem crescendo cada vez mais entre as mulheres, seja no Brasil, seja em outros países, principalmente àqueles que compõem o chamado mundo ocidental.
A dependência química em mulheres, não pode ser entendido sem uma clara referência a certas características fisiológicas e psicossociais femininas, responsáveis pela maior vulnerabilidade deste sexo ao álcool e a outras substâncias, e que precisam ser levadas em consideração ao se tratar essa população.
A ciência atesta que as mulheres desenvolvem concentrações mais elevadas de álcool no sangue, quando ingerem a mesma quantidade de bebida alcoólica devidamente ajustada para peso e altura que os homens, por exemplo. Isso acontece porque estas apresentam menor porcentagem de água corporal, o que diminui o continente em que o álcool ingerido será diluído. Outro aspecto a considerar, é que naturalmente as mulheres têm uma quantidade menor da enzima desidrogenase alcoólica (enzima responsável pela metabolização do álcool), na mucosa gástrica. Para piorar, o consumo crônico de álcool provoca uma diminuição ainda maior dessa enzima, que como já citado, faz o metabolismo de primeira passagem da bebida ingerida. Dessa forma, o álcool ingerido deixa de ser metabolizado em nível gástrico e é absorvido para a corrente sanguínea, aumentando a concentração plasmática nas mulheres. Já nos homens, a quantidade da desidrogenase alcoólica no estômago não é afetada pelo consumo de álcool. Esse desenvolvimento acelerado, chamado pelos cientistas de “efeito telescópio”, também é observado com o uso de outras drogas e até mesmo em relação ao jogo patológico. Isso sugere que outros fatores além dos farmacológicos estão envolvidos nesse processo.
O consumo de drogas também pode trazer prejuízos ao feto de uma mulher grávida. Tais danos vão desde a redução do crescimento e peso do bebê ao nascer até a ocorrência da síndrome fetal alcoólica. Tal risco é maior ainda com o aumento da idade materna. Essa é também a terceira causa de retardo mental, após a síndrome de Down e a espinha bífida.
Certas categorias diagnósticas apresentam, em mulheres, uma taxa maior de comorbidades com o alcoolismo do que em homens, como, por exemplo, os transtornos de humor (depressão, mania etc), e a dependência e uso abusivo de outras substâncias, particularmente os tranquilizantes e as anfetaminas. Enquanto entre os homens, transtornos como depressão e ansiedade são, na maioria das vezes, secundários ao próprio uso da droga, nas mulheres acontece o contrário. Em dois terços dos casos, problemas depressivos e ansiosos nas mulheres, antecedem o início do consumo de álcool e outras drogas.
Outras comorbidades que costumam ser frequentes em mulheres com dependência química são os transtornos alimentares, como a bulimia e a anorexia nervosa. A pressão social quanto a padrões de beleza em relação ao público feminino por vezes influencia neste comportamento de uso indevido de drogas. E assim, muitas aderem ao uso de tabaco e estimulantes (moderadores de apetite), como estratégia de contenção de peso. Também as tentativas de suicídio são desproporcionalmente comuns em mulheres dependentes químicas.
Um dado importante a registrar é que, homens que não têm problemas com o uso de álcool têm maior probabilidade de abandonar suas companheiras dependentes do que as mulheres nas mesmas circunstâncias.
Já em relação ao aspecto familiar, quando a dependência química atinge as mulheres os danos são maiores ainda, pois, em geral, são estas que assumem a responsabilidade primária e cuidados com os filhos e parentes idosos. Assim, embora essa doença tenha efeitos devastadores sobre toda a família, quando este membro é uma mulher, estes efeitos são ainda maiores.
Alguns estudos afirmam ainda, que, o abuso de drogas por mulheres, também compromete aspectos como: a infertilidade, menopausa precoce e risco aumentado de osteoporose.
Portanto, podemos afirmar que, como o aumento da dependência química em mulheres, é uma realidade da sociedade contemporânea, e que há diferentes aspectos a serem considerados ao tratarmos deste público, temos o desafio de desenvolvermos programas de tratamento que sejam sensíveis às particularidades das mulheres portadoras deste mal. E estas estratégias de tratamento precisam também levar em consideração os diferentes estágios do ciclo de vida deste público, tais como, gestação, amamentação, menopausa, envelhecimento etc.
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OPINIÃO - 22/11/2024