João Pessoa, 30 de março de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Páscoa é passagem. Nada sei de hebraico, mas o dicionário judaico me ensina que o termo pessach se refere à comemoração dos judeus pela libertação do Egito e o seu êxodo, a passagem pelo deserto, de que deverá resultar uma transformação. Páscoa é, portanto, não só passagem, mas sobretudo transformação.
A paixão de Jesus Cristo se dá no momento da Páscoa judaica, originando, assim, a Páscoa cristã, uma passagem com o intuito de nos proporcionar a oportunidade de transformação pelo Amor, a essência da sua pregação.
Agora que estamos no período pascal, lembremos que a Páscoa cristã, cuja celebração se instaura aqui, no hemisfério norte, a partir do Concílio de Nicéia (325), é festa que sempre acontece acompanhada de mudanças físicas: o equinócio da primavera, que ocorreu no último dia 20 de março, e da Lua cheia, no último dia 25. Neste dia 31 de março, o Domingo de Páscoa, acontecerá mais uma mudança, com o estabelecimento do horário de verão. Os relógios serão adiantados em uma hora, tendo em vista, por razões astronômicas, uma predominância da luz solar, em relação às sombras noturnas.
Tudo leva à transformação, de que a primavera, o principal motor, não é a outra coisa senão a transformação da Natureza morta em nova Natureza viva. Passagem, mudança, transformação, morte que se torna vida, eis o que significa Páscoa, com os seus sentidos translatos, para além da etimologia de que não discordo, tendo em vista que ela nos dá a natureza verdadeira da palavra.
Às transformações físicas devem vir acompanhadas da transformação espiritual, que não pode ocorrer sem uma preparação para a aceitação das suas consequências. Nada se transforma ou se muda sem que ocorram obstáculos nos forçando à mudança. Cristo é a prova disso. Há quem só tenha entendido o sofrimento da morte dolorosa de Cristo e perpetue esta ideia, sem ter aprendido o seu significado. Mudança e Sofrimento são irmãos xifópagos, não há como separá-los. Torna-se, portanto, necessário a cada um, se quiser mudar, carregar o seu sofrimento e cuidar para aprender com ele. Nesse processo de preparação para a passagem, mais do que a casca, precisamos nos livrar do que temos entranhado, impedindo que nos vejamos e aos nossos semelhantes.
A preparação requer a comunhão e a humildade, simbolizados na Santa Ceia e no lava-pés. Esclareça-se que não precisamos, realmente, de lavar os pés de ninguém, mas precisamos ter a humildade no trato com os nossos semelhantes, vendo-os como iguais aos quais podemos servir, quando a oportunidade se nos apresentar. Além da comunhão, fenômeno que ratifica a minha identificação com o outro e no outro, e da humildade, a preparação exige coragem para o enfrentamento que a mudança reclama. Cristo morre e ressuscita, para mostrar que a morte é apenas uma passagem, ele que veio da espiritualidade para a vida física e retornou à espiritualidade.
Não precisamos morrer a morte física, para dar início à nossa Páscoa particular. A reflexão pode ser um instrumento eficaz para que comecemos a matar a nossa velha maneira de ser, ressuscitando ainda em vida, na irmanação que o Amor pode proporcionar, mas isto não se fará sem sofrimento. A consciência de que todo o itinerário de Cristo na Terra, além da sua inquestionável verdade divina, pode ser visto como uma simbologia, deverá nos guiar a uma aprendizagem inicial e a novos retornos, para mais aprendizagem, até que não necessitemos mais morrer fisicamente, porque, então, seremos espíritos, vivendo na Luz e no Amor Crístico. Reflitamos e busquemos a transformação. É o sofrimento do renascer que nos trará a paz de espírito, e não haverá paz externa, enquanto não a encontrarmos dentro de nós.
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TURISMO - 19/12/2024