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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O blefe do jogador

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publicado em 31/03/2024 ás 08h21

O inimigo da moral. Quem é o inimigo da moral? Milhares. Um artigo de 2011, do professor de Filosofia da USP, Vladimir Pinheiro Safatle, publicado na Folha de São Paulo, tratava desse assunto da moral, de que o maior inimigo da moralidade não é a imoralidade, mas a parcialidade. Nunca vi tão atual. Sempre gostei dos textos de Safatle.

Crivada a inquietação de muitos quando perdem a moral, perdem a vergonha, o julgamento de si mesmo e a coisa toda; a coisa simétrica, ou que pelo menos fosse simétrica, mas perder a moral ficou banal. É melhor não perder. Se tornar inimigo da moral deve ser bem cruel. Uma borboleta e uma folha apresentam simetria.

 Onde está a moral de um jogador de futebol que participa de um estrupo coletivo, numa boate em Milão? Sem moral. Esse cara, de pensamentos inúteis, quando falou sobre o assunto, disse rindo que a “mina” estava embriagada e ela nem sabia quem ele era. Sem caráter. Insignificante.

Homens sem moral não valem nada. Nero, o homem que não sonhava, elevado ao domínio de uma nação tão grande como Roma, tocou fogo em tudo que quis. O imperador era exatamente isso, um homem sem moral, embora ele próprio não passasse de uma criança.  Foi ele quem ordenou o assassinato da própria mãe, cinco anos após chegar ao poder.

Nero não sabia jogar bola, não sabia da igualdade das inteligências, um senhor da emancipação de si mesmo, dentro ou fora do poder. Robinho nunca soube da igualdade entre homens e mulheres, não poderia jamais ter participado de um estupro coletivo, confundir com  uma goleada. É um blefe esse jogador.

No clímax do estupro o jogador Robinho logo descobriu que ele participara de um esquema que gerou o escândalo fora do campo, fugiu para o Brasil e hoje preso, não tem moral para mais nada.  Montado pela sua péssima atuação como cidadão, envergonhou o Brasil, que já vive sem vergonha na cara, há muito tempo. Cara lisa, o jogador jogou merda no ventilador de um campo minado de estupradores chamado Brasil.

Quando tal simetria se quebra, se podemos pensar assim, então, discursos de moralizadores começam a soar como astúcia estratégica submetida à lógica do “para os amigos, tudo, para os inimigos, a lei”. É foda, né?

Um rapaz que adora futebol, disse a mim que achou justo a prisão do jogador Robinho, que não teria sentido ele ser preso na Itália, apesar de já ser condenado no país em que o crime aconteceu. Robinho não pôde ser preso lá. “Foi o certo”, disse o torcedor do Flamengo. As autoridades italianas até tentaram um pedido de extradição, mas não obtiveram sucesso. A Constituição Federal proíbe essa prática para cidadãos brasileiros.

Tantos “direitos” do cidadão na Constituição…mas essa coisa do homem estuprar a mulher, sempre à margem, um homem que tem sua mulher e filhos, pesou, viu?

Onde estão os pilares da construção do homem, isso sem questionar a ordem dominante em todos os lados, bandidos, policiais, milícias, bicheiros, “jogadores” da arte de fazer gol. O que isso tem a ver com Nero? Nada, só a distância.

No Brasil,  esse assunto é batido, de compadres, são centenas de estupros envolvendo poderosos ou simplesmente omitindo, mentindo, os fora da lei, mas como está na canção do compositor baiano,  – troque o Pará pelo Brasil. “O império da lei há de chegar no coração do Pará”.

E o jogador Daniel Alves? É o parceiro, né?

Kapetadas

 

1 – Pra fazer harmonização facial é essencial um desses dois pré-requisitos, ou ambos: ter cara de pau e/ou cara de mau.

2 – Travesseiros sempre nos aconselham a manter a cabeça no lugar. Neles.

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