João Pessoa, 12 de fevereiro de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A disputa de territórios entre traficantes e milicianos estaria por trás do assassinato dos jovens Isac da Silva Gonçalves, de 18 anos, e Leandro dos Santos Cunha, de 23, mortos a tiros na madrugada do último dia 23 em frente a um quiosque na Praia do Pontal, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio. Essas é uma das principais linhas de investigação da Divisão de Homicídios (DH), responsável pelo caso.
Outros dois homens ficaram feridos no ataque na Praça Tim Maia, mas a polícia acredita que o alvo do crime era Isac, que morava na comunidade do Terreirão, também no Recreio.
Pelas investigações, a DH já confirmou que os autores dos disparos contra o grupo foram dois homens — ainda não identificados — que estavam numa motocicleta preta. Eles atiraram primeiro de longe e, em seguida, um deles saltou, abrindo fogo principalmente contra Isac. Ele e Leandro chegaram a correr, tentando fugir, mas morreram na areia.
As investigações da DH apontam que Isac pode ter ligação com a milícia ou o tráfico de drogas. No Terreirão, onde o jovem vivia, há atuação de milicianos, com os quais ele poderia ter algum tipo de ligação.
A outra hipótese, de disputa de territórios pelo tráfico, foi levantada pelo fato de os jovens estarem num ponto da Praia do Recreio, o Posto 12, onde há venda de entorpecentes. Além disso, de acordo com informações da DH, Isac já foi apreendido, quando ainda era menor, por envolvimento com o tráfico de drogas.
Há ainda um terceiro fato sendo investigado: a polícia recebeu a informação de que Isac teria roubado uma moto dentro da próprio Terreirão, o que teria causado um desentendimento com pessoas da favela, fazendo com que ele ficasse mal visto por lá.
Em depoimento à polícia, o pai de Isac, o vendedor de salgadinhos Paulo Fernandes Roldão da Silva, disse que o filho era tranquilo, e que saía “como garotos da sua idade”. E assumiu que Isac era usuário de drogas. Em entrevista ao EXTRA, Paulo negou.
— Ele não usava nada, nem tinha envolvimento com coisa errada. Não sei de nada — desconversou, acrescentando que o filho trabalhava ajudando ele, mas não estudava.
Paulo, pai de Isac, também alegou desconhecer a autoria do crime que tirou a vida de seu filho.
— Não sei o que pode ter acontecido. Ninguém comenta nada, ninguém fala nada. E quem sabe não quer falar. Abafaram o caso mesmo — opinou.
A maior dificuldade da polícia para solucionar o crime tem sido justamente conseguir testemunhas que contem o que aconteceu naquela madrugada. De acordo com a DH, o problema é que há grande probabilidade de a maioria das pessoas que estavam no local do crime terem envolvimento com o tráfico ou a milícia.
Além disso, há ainda o medo das testemunhas de contarem o que sabem. A delegacia faz um apelo para aqueles que tiverem informações sobre o caso liguem para o Disque-Denúncia (2253-1177).
Apesar do temor de possíveis testemunhas, Paulo, diz que ele, a mulher, e seus outros cinco filhos não estão com medo. A família também nem cogita deixar o local onde vive.
— Já está todo mundo superando. Não estamos assustados.Temos que viver, né? — conforma-se.
Na Praia do Pontal, comerciantes reclamam que o local virou ponto de venda e consumo de drogas. X., que preferiu o anonimato, diz que as famílias da região não conseguem mais frequentar a Praça Tim Maia.
— Famílias inteiras que vêm de outros lugares sa cidade ficam aí por uns três dias, depois vão embora. Muitos usam drogas. Ninguém mais fica com os filhos aqui. É impossível ficar nesse ambiente — relata.
X. reclama ainda da falta de policiamento no local:
— Depois das seis da tarde, não tem mais guarda ou policial aqui. E aí a praça vira terra de ninguém. Isso aqui era uma maravilha, agora está assim, desse jeito. É triste.
Outro comerciante da Praça Tim Maia, Z. revela que muitas vezes já pensou em abandonar o ponto onde vende bebidas , por causa da insegurança no local:
— Não fico aqui de jeito nenum depois que escurece. Dá medo do clima que fica aqui.
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