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O senhor Manoel Soares Londres, mais conhecido como seu Nôzinho, farmacêutico diplomado pela vetusta Faculdade de Medicina e Pharmacia da Bahia nos idos de 1897, instalou seu estabelecimento de manipulação e dispensação de medicamentos na Rua Maciel Pinheiro, uma das artérias comerciais mais importantes da capital do estado, Parahyba do Norte, que à época contava com pouco menos de 29 mil habitantes.
Homem muito bondoso, casado em segundas núpcias com Dona Nathália Cunha Londres, de tradicional família do Jardim do Seridó, município das entranhas do Rio Grande do Norte, cursara a graduação com muito denodo e entusiasmo naquela afamada instituição de ensino, e não hesitara em se alistar voluntariamente para ajudar a tratar os feridos da Guerra dos Canudos, de Antônio Conselheiro, episódio sangrento que motivou a suspensão das aulas, por motivos óbvios.
Retornando à Parahyba do Norte, acostou-se a seu padrinho Luiz Batista, e fundaram a Farmácia Londres nos idos de 1900, estabelecimento que atuou no ramo por mais de quarenta anos.
Costumava, aos domingos, visitar o presídio e o hospital Santa Isabel da Santa Casa de Misericórdia – da qual era um dos dedicados colaboradores -, no intuito de oferecer seus préstimos e, de alguma maneira, ajudar os apenados e os pacientes, que não dispunham de recursos financeiros, quase sempre analfabetos, e, não raro, desprezados pela família e pelo poder público. À época, a assistência médica pública era muito precária, e os pobres, os chamados indigentes, ficavam à mercê das instituições de caridade, a exemplo das Santas Casas e das pessoas de bom coração. Seu Nôzinho conversava com muita empatia, com cada um deles, procurando inteirar-se de seus problemas e de suas necessidades e, com muita frequência, se dispunha a redigir cartas, em seu nome, para os familiares que sequer os visitavam, porque residiam em cidades mais distantes.
Desde logo, o farmacêutico passou o gozar de grande conceito perante a sociedade, não apenas pela sua competência profissional, mas pela sua bondade e dedicação aos pobres. Não é sem razão que foi eleito vereador da capital, com votação expressiva, numa época em que era um cargo honorífico e, portanto, não remunerado. Além disso, presidiu a Associação Comercial da Paraíba e era Sócio Benemérito da Santa Cada de Misericórdia.
Sua farmácia era muito movimentada e também passou a ser um ponto de encontro, nos finais da tarde, para um bate-papo amistoso de figuras representativas da sociedade. Numa ocasião de grande movimento, quando várias personalidades, sempre muito bem-vestidas de paletó e gravata, como era o costume da época, confabulavam sobre assuntos diversos, quando, à porta do estabelecimento, um conhecido e desafortunado cidadão portador de distúrbios mentais, bradou em alto e bom som: “Seu Nôzinho, como vai aquela sua rapariga da Silva Jardim (uma rua do baixo meretrício)? “. Ao que ele, de imediato, e calmamente respondeu: “Vai bem, obrigado “. Seguiu-se um silêncio sepulcral, as pessoas se entreolharam, e uma delas interpelou: “Mas Seu Nôzinho, que estória é essa, por que o senhor não rebateu essa insinuação infame? “De que adiantaria, retrucou seu Nôzinho, prolongar uma discussão com um pobre doente mental”. Ele tinha razão: o cidadão irreverente, tão logo recebeu a resposta salomônica, evadiu-se, e o bate-papo na farmácia continuou com o mesmo entusiasmo, permeado de boas gargalhadas.
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TURISMO - 19/12/2024