João Pessoa, 12 de fevereiro de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O Jornal Correio da Paraíba na edição deste domingo (12) fez uma matéria especial onde constatou que os preços de imóveis em João Pessoa duplicaram em cinco anos. Em alguns casos, chegam a custar até 200% mais que em janeiro de 2007.
A estimativa é do presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de João Pessoa (Sinduscon-JP), Irenaldo Quintans. Ele afirma que, no período, áreas como Bairro dos Estados e Cabo Branco obtiveram uma valorização acima da média. Com a valorização imobiliária, João Pessoa já dispõe de apartamentos que ultrapassam os R$ 3 milhões.
“O parque habitacional da Capital também duplicou de tamanho nos últimos cinco anos. Os bairros de João Pessoa floresceram, ganharam infraestrutura e atraíram investimentos”, diz Irenaldo Quintans. Segundo ele, além da demanda por moradia, a estabilização econômica, o aumento dos índices de empregabilidade e a expansão do crédito imobiliário foram decisivos para o aumento da demanda e consequente valorização.
De acordo com o presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis da Paraíba (Creci-PB), Rômulo Soares, em algumas regiões da cidade, já não é mais possível encontrar imóveis por menos de R$ 300 mil. Para ele, fatores como localização, os acessórios dos edifícios e a qualidade dos materiais empregados na construção influenciam diretamente no preço final dos empreendimentos.
“Prédios com pilotis, várias vagas de garagem, com revestimento em pastilhas ou cerâmica, salão de festas, ou com diversas opções de lazer, demandam um maior investimento e possuem um maior valor agregado. Hoje também não se constróem mais apartamentos sem medidores independentes de água, energia e gás. Tudo isso contribui para a valorização dos empreendimentos, além da localidade onde eles são instalados”, afirma Rômulo Soares.
Segundo ele, é possível encontrar apartamentos na faixa de R$ 100 mil em bairros como Bancários, Mangabeira, Cristo, Jaguaribe, Cruz das Armas, Valentina e Bessa. Já em bairros como Tambauzinho, 13 de Maio e Expedicionários, é preciso mais de R$ 200 mil para a compra de um imóvel novo. “Dependendo da característica do imóvel, também é possível encontrar apartamentos novos na faixa dos R$ 200 mil no Jardim Luna, João Agripino e Brisamar, mas os imóveis são menores”, diz o presidente do Creci.
Rômulo Soares lembra também que, como o valor dos imóveis também varia de acordo com a qualidade e itens oferecidos pelo empreendimento, é possível que bairros capazes de abrigar apartamentos de R$100 e de R$ 200 mil também podem ter empreendimentos de maior valor.
“Bessa e Bancários, apesar de possuírem imóveis a vender na faixa dos R$ 100 mil, também possuem imóveis novos com valores acima de R$ 300 mil, assim como o Bairro dos Estados e outros próximos à Avenida Epitácio Pessoa”. Segundo o presidente do Creci, os bairros mais valorizados da cidade são Tambaú, Cabo Branco e Altiplano.
O consultor imobiliário Ernani Santana afirma que os imóveis na região do Cabo Branco e do Altiplano podem ser encontrados na faixa dos R$ 400 mil reais, mas podem ultrapassar os R$ 3 milhões em alguns empreendimentos. Para o empresário da construção civil, Marcos Ramos, apesar do desejo da maioria das pessoas de morar na orla, os bairros da praia não têm condições de abrigar a todos, e fatores como infraestrutura e proximidade do trabalho também têm tido peso na hora da escolha do local da moradia.
“Bairros que vêm apresentando uma infraestrutura com transporte e saneamento, próximo a escolas, farmácias e supermercados, mesmo afastados da praia, apresentam um crescimento na procura. O trânsito em João pessoa está cada vez mais intenso e toma o tempo das pessoas que precisam se deslocar pela cidade, sem contar com os custos. Essa comodidade também é levada em consideração”, comenta Marcos Ramos.
Já para o consultor imobiliário Ernani Santana, a violência é um fator que vem brecando a valorização de algumas áreas consideradas tradicionais quando o assunto é construção vertical. “O bairro de Manaíra, por exemplo, é um bairro bom, mas não apresenta progresso na valorização. Isso acontece por causa do índice de violência e insegurança do bairro. Lá, você está seguro no seu apartamento, mas quando sai da garagem, já não está mais”, diz.
Por outro lado, o ganho em infraestrutura do Bessa vem contribuíndo para a valorização dos imóveis. “As ruas eram de terra, não havia saneamento, uma verdadeira ilha do caos. Mas hoje, praticamente todas as ruas estão calçadas e saneadas, o que está atraindo mais investimentos do mercado imobiliário e valorizando a região”, explica Ernani Santana.
Gerentes e vendedores comentam valorização da zona sul
A expansão imobiliária dos bairros da zona Sul da Capital paraibana atrai cada vez mais empresas de fora do estado. O gerente da nova unidade da Teixeira de Carvalho no bairro dos Bancários, Eduardo Fernandes, diz que investimento foi feito exclusivamente para atender ao público que tem a região como principal opção de moradia.
Segundo ele, a valorização da área aconteceu de forma repentina. “A valorização dos Bancários nos últimos dois anos chega a superar os 60%. Antigamente, era possível comprar um imóvel por R$ 80 mil. Hoje, R$ 140 mil não compram mais”, explica o gerente.
Atualmente, além de empreendimentos de pequeno porte, com prédios de três ou quatro andares, sem elevador, já há os de grande porte, como os no estilo club residence, com mais de 20 andares, piscina, quadras poliesportivas, brinquedoteca e academia, entre outros serviços, já estão em construção no bairro.
“Os poucos apartamentos de R$ 140 mil que ainda restam no bairro estão em localidades mais afastadas, próximos ao Timbó, geralmente com dois quartos, sem suíte e sem varanda. Já os apartamentos entre R$ 140 mil e R$ 200 são, em sua grande maioria, quitinetes”, afirma Eduardo Fernandes. Segundo ele, apartamentos de três quartos podem ser encontrados na faixa de 200 mil, mas também podem ultrapassar os R$ 300.
O assistente de vendas da Ecomax, empresa potiguar que está há seis anos no mercado paraibano, Cesar Augusto Souza, diz que a parte considerada nova nos bancários, que corresponde à área entre Bancários e Água Fria, é um dos locais de maior valorização dos bairros da região. Segundo ele, esta é uma tendência do mercado, impulsionado pela expansão de faculdades, bancos e shoppings.
“Aquelas pessoas que podiam investir mais em uma moradia melhor e não queriam ficar presas à praia elegeram o Bancários como bairro e isto atraiu os investimentos. Hoje o bairro possui, desde pequenos apartamentos sem nenhuma infraestrutura de lazer, como residenciais completos”, diz César Augusto.
Outro exemplo de versatilidade de investimentos é o da MRV, construtora de Belo Horizonte (MG), que se prepara para o lançamento de seu segundo empreendimento em João Pessoa. Segundo o gerente de vendas da construtora, Maurílio Pessoa, a empresa possui tradição na construção de imóveis populares nas regiões Sul e Sudeste do País, e vem apostando na expansão da construção civil no Nordeste.
“Nossos empreendimentos são voltados para quem quer sair de casa ou para quem quer lagar o aluguel”, diz o gerente. Todos os imóveis da construtora possuem um ou dois quartos e custam entre R$ 79 mil e R$ 95 mil. Além do empreendimento Parque Jacumã, próximo ao bairro de Oitizeiro, a construtora planeja lançar em breve outro empreendimento similar, com área de lazer e estacionamento amplos, no Geisel, no antigo Bougainville.
Déficit imobiliário
“A Paraíba ainda precisa de 150 mil novos imóveis para atender a demanda por moradia”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de João Pessoa (Sinduscon-JP), Irenaldo Quintans. Segundo ele, estão disponíveis no mercado, atualmente, cerca de 6.000 apartamentos, entre imóveis novos e em construção. “O carro chefe da expansão do setor ainda é a classe média emergente, que além de mais acesso ao crédito, possui uma maior segurança na hora de comprar um imóvel”.
De acordo com Irenaldo Quintans, o mercado deve continuar aquecido nos próximos anos, garantindo novos empreendimentos. Ele afirma haver uma diversificação da construção civil em bairros tradicionalmente horizontais, como nas fronteiras paralelas à Avenida Epitácio Pessoa, a exemplo dos bairros de Jardim Luna, 13 de Maio e Bairro dos Estados, além da consolidação das edificações nos bairros do Bessa e Altiplano.
“O preço do metro quadrado da construção civil no estado varia de R$ 1.000 a R$ 6.000, de acordo com a localização, o acabamento e com os itens oferecidos pelo empreendimento”, diz ele. A diferença de preços chega a 500%.
Para o gerente de vendas da construtora Alliance, Luís Henrique, além da demanda por novas moradias, a rentabilidade e a segurança dos investimentos imobiliários são fatores que influenciam a manutenção dos bons resultados. “Verificamos um aumento dos clientes que desistiram de seus investimentos na bolsa de valores para investir na construção civil. Para muitos, além de instável, a bolsa deixou de render aos investidores o valor esperado”, afirma.
Segundo o sócio-cotista da imobiliária Teixeira de Carvalho, Paulino Teixeira, o desenvolvimento do mercado está ligado ao aumento da renda média do brasileiro, especialmente o da classe C, e o déficit habitacional no País também contribuíram para o aumento dos investimentos do setor, inclusive na Paraíba.
“É um cenário que contribui para a valorização de vários segmentos da economia, sobretudo, do mercado imobiliário. Estima-se também que o financiamento imobiliário alcance, em 2012, a marca de mais de R$ 150 bilhões, um aumento de 30% em relação ao ano passado, que já havia registrado um crescimento de 30% se comparado a 2010”, diz.
Correio da Paraíba
OPINIÃO - 06/11/2024