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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

O X da questão

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publicado em 05/04/2024 às 07h00
atualizado em 04/04/2024 às 15h37

Há um movimento decorrente dos novos tempos que avança demasiadamente sobre o vocabulário, encurtando-o, escravizando-o, reduzindo-o, empobrecendo-o, restringindo a capacidade de pensamento que se realiza, indubitavelmente, à proporção da riqueza vocabular.

Não falo da necessidade de clareza e simplicidade na escrita. Isso é necessário e belo, por suposto. Contraria-me essa tendência que caminha avassaladora sobre a linguagem, castrando-a e que se irradia por diversos  segmentos da cultura.

Também não defendo a escrita empolada, palavras estrambóticas dispostas inoportunas e impropriamente, como aquelas malditas peças do juridiquês inútil ou o retorno da linguagem rebuscada e confusa do Barroco. Alto lá.

Na música, as letras são paupérrimas, melodias piores, ritmos deficientes. Diga-o bem certas músicas miadas, monotemáticas, repetitivas e maçantes. Na Literatura, a coisa está  mais feia. Os redatores de texto, como o word, por exemplo, assediam os escritores, propondo um vocabulário rasteiro. Em breve, a inteligência artificial viciada pela linguagem do tic toc e de outras redes sociais irá se compor em um universo de um pouco mais de 500 palavras e olhe lá.

Veja-se que há redes sociais que só admitem 120 caracteres para a enunciação da mensagem.  Com poucas palavras, menos ideias, menos mundo, maior facilidade de dominação, a vertigem da velocidade que não aceita o pensamento crítico.

Esse é o X da questão: chegará o tempo em que as pessoas não terão palavras para expressar suas emoções. Nesse momento, todos estarão com os seus olhos bem pregados admirando o nada e o inútil, roboticamente escravizados.

Trata-se de um movimento amplo, o império do digital, a compressão do tempo. Privilegia-se textos curtos, livros de poucas páginas, as mesmas palavras, as construções linguísticas forjadas na informalidade. A isso chamam simplicidade.

Paradoxo da modernidade. Busca-se reduzir a complexidade pela criação de complexidade maior. Evita-se tudo que for palavras que excedam ao conhecimento mediano com seu universo reduzidíssimo de palavras para compor a vida em mundo cada vez mais complexo e contingente. Que loucura!

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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