João Pessoa, 08 de abril de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Sabe aquelas pérolas cinematográficas que ficam perdidas dentro dos serviços de streaming e que você nem sabe que existiam até encontrá-las? Despretensiosamente e improvavelmente, você resolve assistir, mesmo sem indicação de quem já viu ou qualquer outra referência que te faça querer ver. Pois é, encontrei uma delas hoje. Coisa mais difícil de acontecer comigo! Parece que as coisas que têm que te alcançar simplesmente chegam. Eu precisava dele, por diversos motivos, e nem sabia!
O filme conta a história de Theodore, um solitário escritor que ganha a vida escrevendo cartas para pessoas que não conseguem expressar seus sentimentos. E ele é famoso por isto. A beleza das suas cartas, a forma sensível como ele consegue enxergar as pessoas e imaginar seus sentimentos é incrivelmente profunda e todos o admiram por tal destreza. Aí está o primeiro paradoxo que consegui encontrar no filme, pois, apesar de decifrar e exprimir como ninguém o que os outros sentem, ele próprio não consegue se compreender ou se expressar, fato que contribuiu para o final do seu casamento.
Em seus momentos de solidão profunda, tentando lidar com a perda de sua amada, Theodore inicia um relacionamento com um sistema operacional, dotado de inteligência artificial, chamado Samantha. Até que se apaixonam um pelo outro. É a ficção científica em contato direto com o drama romântico da maneira mais tocante que se possa imaginar.
A relação entre os dois desafia todas as definições de relacionamento e amor. E à medida em que Samantha vai transcendendo sua programação original, tomando forma não como “it” mas como “her”, Theodore confronta seus vazios existenciais e se depara com uma profunda compreensão de si mesmo e consequente crescimento pessoal. “Ela” também nos convida a uma reflexão sobre o futuro das relações humanas em um mundo cada vez mais saturado pela “virtualização” dos indivíduos.
De uma forma riquíssima (Oscar de melhor roteiro original merecidíssimo, na minha humilde opinião!), as relações íntimas entre humanos e sistemas de inteligência artificial são retratadas, pressupondo a importância da abordagem de questões como autonomia e privacidade na era tecnológica, a fim de que possamos fazer com que humanidade e tecnologia possam coexistir de forma ética e harmoniosa.
Vale muito a pena assistir!
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NOVA VAGA - 17/12/2024