João Pessoa, 14 de abril de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Daqui a nove dias, serão 522 anos que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil por acaso, mas nem por acaso, o navegador espanhol Vicente Yñez Pinzón levou os créditos dessa descoberta. Nem nós, às cegas do sol, haveremos de redescobrir o Brasil, não por falta de programa ou passagens, mas porque não é fácil um país que ainda é selvagem, rico, pobre, com cinturões de misérias, muita violência, roubalheira e a coisa toda.
Na política somos otários e o Brasil vem num pé quebrado, apesar das vastas inteligências. Tem muita gente dando no pé. Assim também tem sido a saída de emergência de navegações perdidas, no escavado espaço entre as tocas e o ninho das cobras. Dessa mata, não sai coelho.
A resistência entre os que produzem cultura e a procura de uma nesga de sol, ou um lugar para sobreviver, gente de todas as cores, estamos longe dessa descoberta malabarista chamada Brazil.
A incerteza de haver fronteira entre nós e o Vale do Sicílio, onde a preguiça reina por essas bandas, e o desemprego aumentando, bacanais comem pelas beiras, o rechaçar do invasor estrangeiro, que chega por aqui, aqui mesmo em João Pessoa, e compra diversos apartamentos, terrenos e abrem negócios da China.
Onde vamos reatar a certificação da identidade? E existe isso? Prosseguir o aleatório destino, fugir do bando dos mentirosos, não perseguir a felicidade do outro.. Hesitar, lamentar, chorar de barriga cheia, salários repatriados, gente que ganha tanto, mas só recebe a metade – são coisas dos brasis encobertos.
O tempo do povo hospitaleiro já foi, hoje predomina os cochichos, nunca mais o aperto de mão. Olhar nos olhos do brasileiro desonesto, ladrão, ser seu cúmplice e seu olheiro, habitar o seu mundo no vício e no descompasso, tá foda.
O mais detalhado Brasil, é um programa fajuto, sequer uma plataforma e precisa de um bafejo de sorte, de um sopro sobrenatural, de um pequeno trunfo escrito nas estrelas. Escrito nas estrelas é careta, né?
Mares cheios de ricos e enchentes de podres, muita troça – do sertão a Rocinha e nunca se sabe se chega, ou quando chega, ou não chega, mas a formação das facções em todas os estados se prolifera e mandam ver, nas nossas ruas e passeios públicos.
Matar virou um hábito, homens matando as mulheres, virou rotina. E essa incerteza, esse disse-me disse, esse pequeno sopro que enfuna as veias abertas, digo velas do barco do Cabral, da proa ao caos, total.
522 anos. Não temos muito que comemorar, mas aqui se comemora qualquer coisa, até uma menstruação atrasada que dá sinal, salva a lavoura, de que não é hora de abortar. Quantas garotas brasileiras são mães aos 14 anos? Quem descobriu esse Brazil?
Não há espaço para mais ninguém, os cargos já foram preenchidos, apadrinhados. A barca está cheia? É esse bafo de má sorte que nos atropela o destino, que nos empurra para o passado, que ficará bem pior no futuro. Ah, o Brazil é o país do futuro.
Viver no Brasil como se nada tivesse acontecido, como se nada estivesse acontecendo… Como se o bateu não levou, bateu assas e não voou, estivéssemos sempre à deriva. E a geladeira? Não, nada disso, nem todos os santos, sonhos, pois o Brasil ainda não foi descoberto por Cabral.
O primeiro nome do Brasil, como consta na carta de Pero Vaz de Caminha, foi Ilha de Vera Cruz. Teria sido melhor?
Kapetadas
1 – Vamos sugerir uma nova polarização pro Brasil. Deixe a sua aqui.
2 – Sabe Kant, na “Crítica do Juízo”, diz que o riso é o resultado da “súbita transformação de uma expectativa tensa em nada”. Então, vamos rir, de olhos de bem abertos
3 – Ilustração – “Desembarque de Cabral” , pintura de Osacar Pereira da Silva
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OPINIÃO - 22/11/2024