João Pessoa, 16 de abril de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Alguns dados estatísticos têm demonstrado que há uma tragédia silenciosa que está presente cada vez mais em nossas casas, afetando nossas joias mais raras, qual seja, as nossas crianças e adolescentes.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), um de cada sete jovens entre 10 e 19 anos padece de algum tipo de doença mental: transtornos emocionais e do comportamento, psicoses, transtornos da conduta alimentar, suicídio, autolesões e condutas de risco como o consumo de drogas ou as práticas sexuais de risco são as principais.
Assim, não dá para esconder, que a saúde mental das crianças e adolescente, parece estar cada vez mais comprometida. Todos os estudos recentes, atestam aumento dos casos de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), da depressão adolescente, e o pior, da taxa de suicídios em crianças e adolescentes em todo o mundo.
Mas o que está acontecendo e o que estamos fazendo de errado?
Entre outras causas, podemos afirmar que, as crianças de hoje, estão sendo estimuladas e superdimensionadas, mas são privadas dos conceitos básicos de uma infância saudável, tais como pais emocionalmente disponíveis e limites claramente definidos, responsabilidades, nutrição equilibrada, sono adequado, atividades físicas e jogos estruturados ou não, ao ar livre, espaços para brincar etc.
Nos últimos anos, as crianças estão sendo educadas por pais digitalmente distraídos e indulgentes, que deixam estas decidirem e governarem suas próprias vontades. Além, de estarem sendo expostas aos estímulos excessivos dos jogos eletrônicos de recompensa estimulatória instantânea e, consequentemente a estilo de vida sedentário e a ausência completa daqueles momentos chatos, também importantes para o amadurecimento de todos os seres humanos.
Talvez seja a hora de voltarmos a fazer o básico. Todos sabemos que amor e limites, embasados em regras bem definidas, são pilares indispensáveis para uma boa educação. Não podemos esquecer, que pais e mães, são os comandantes deste navio chamado família. Por vezes pode não parecer, mas os filhos se sentirão mais seguros sabendo que os pais estão no controle. É necessário oferecermos às crianças o que elas precisam e não apenas o que elas querem. Não podemos ter medo de dizer não aos nossos filhos quando necessário.
O ritmo de vida da sociedade moderna nos impõe muitos limites, mas precisamos nos esforçarmos para interagirmos com estes pelo menos uma hora por dia, fazendo atividades saudáveis, de preferência ao ar livre, como pequenos passeios, brincadeiras de corrida, jogos de tabuleiro e, se estes forem muito jovens para os jogos de tabuleiro, deixemos que criem suas próprias regras e estratégias para o jogo.
Outro aspecto educativo importante é que, sempre que possível, as refeições sejam feitas em família, sem o uso dos smartphones ou qualquer outra tecnologia que possa distrair os componentes da mesa.
O envolvimento das crianças e adolescentes nas tarefas de casa, do tipo arrumar os brinquedos, dobrar a roupa, arrumar a cama, ajudar a colocar a mesa, aprender uma receita de comida caseira, botar a alimentação do cachorro etc., são atividades que, além de construtivas, podem ser prazerosas para as crianças.
Neste rol de comportamentos e atividades que podem ajudar a alicerçar a saúde mental das crianças e adolescentes, deve estar inserida a implementação de uma rotina sobre a hora que estas devem ir para a cama e também acordar. A quantidade correta das horas de sono é muito importante para a saúde e bom humor de todos nós, e não menos para as crianças e adolescentes em idade escolar.
Também precisamos educar esses seres em formação, a assumirem responsabilidades. Não devemos protegê-los excessivamente contra qualquer frustração, pois os erros e algumas desilusões poderão ajudá-los a desenvolver a resiliência e a superar os desafios da vida. Ações do tipo carregar a mochila, lembrar de levar a tarefa da escola, descascar a banana ou laranja etc., são atividades que estes podem fazer por conta própria.
Devemos ainda nos empenhar em educá-los a saber esperar, a ter paciência quando a gratificação estiver atrasada. Não devemos nos sentir responsáveis por sempre manter as crianças entretidas, nem usarmos a tecnologia como solução para o tédio ou momentos de ociosidade destes. Os aparelhos tecnológicos não devem ser usados quando as crianças forem para a cama dormir, pois isto pode comprometer a quantidade e qualidade do sono.
Para tanto, pais e mães precisam exercer a função de reguladores, treinadores, ou para usarmos uma palavra mais contemporânea, de colts, emocionais dos seus filhos. Isto pode ser feito por meio dos bons exemplos. Como reza a sabedoria popular: “um exemplo vale mais que mil palavras”. Assim, estes podem ser educados com gestos e ações simples, como dizer um olá para as pessoas, a agradecer e a pedir desculpas, por exemplo, sem serem forçadas para isso.
Enfim, devemos lembrar que o maior legado que podemos deixar para os nossos filhos não é o dinheiro ou outros bens materiais, mas a educação, alicerçada em princípios éticos, morais e socialmente saudáveis. Só assim, podemos ajudar não só a estes, como a toda a sociedade.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
OPINIÃO - 22/11/2024