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Saudades da crônica de Martinho Moreira Franco!
Como tantos outros, não coligiu seus textos publicados nos jornais num volume que permitisse relê-los, ao sabor do critério da vontade e da estesia que a arrumação de suas palavras na frase despertava no leitor.
Coisas da cidade de Philipeia de Nossa Senhora das Neves, sobretudo suas tardes, seus logradouros, suas árvores e suas águas se faziam presentes no texto leve, lírico, poético, próprio para embalsamar os domingos com o aroma original de quem recupera o invisível no visível.
O cinema, a música, a literatura, entre outras expressões do gênio humano, eram motivos recorrentes na pauta de seus interesses de cronista do cotidiano. Ele, Gonzaga Rodrigues, Francisco Pereira da Nóbrega, Carlos Romero, Luiz Augusto Crispim e Otavio Sitônio Pinto compuseram, em certa idade do jornalismo literário, a pequena galeria dos mestres do gênero.
Todos deixaram seus livros como que fugindo ao imperativo da efemeridade que caracteriza a página jornalística. Todos, menos ele. Que pena!
Outros, nem tanto na vertente da crônica, porém, na esfera mais elástica do articulismo cultural, também seguiram na mesma trilha e nem sequer uma brochura nos deixaram, para que pudéssemos rever suas ideias, seus temas preferidos e o comportamento singular de cada estilo exercitado.
Antônio Barreto Neto é um deles, embora Sílvio Osias tenha procurado preencher essa lacuna com o livro que organizou em torno de sua crítica cinematográfica. Aí, podemos retomar a leitura de seus textos críticos, focalizando, com a argúcia e a elegância que lhe eram peculiares, os grandes filmes das escolas americana e europeia.
Visto o filme, era um prazer de fundo pedagógico rastrear as palavras de Barreto em sua análise precisa e esclarecedora, capazes de, em dois ou três parágrafos substanciais, elaborar interpretações que nos enriqueciam a visão acerca deste ou daquele aspecto ou detalhe configurados na trama narrativa dos filmes que comentava.
Texto impecável, alto poder de síntese, propriedade vocabular, cultura humanística, disposição receptiva, capacidade heurística e criatividade crítica constituíam, entre outras, as virtualidades de suas sistemáticas colaborações.
Outro que gostaria de reler, sobretudo diante das temáticas literárias e filosóficas, era Arlindo Almeida. Este foi meu contemporâneo à época do curso Clássico, lá no Colégio Estadual da Prata, em Campina Grande.
Nas aulas de filosofia do Professor Vinícius, era o mais preparado e nos deixava perplexos com a refinada taxa de informação sobre autores e obras na tradição da filosofia ocidental. O mestre o louvava diante de nós e também se admirava com aquele jovem de tanto saber e com tanta intimidade com Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino, Kant, Schopenhauer, Nietzsche, Sartre e tantos outros.
Relendo velhos arquivos que conservo do jornal O Norte e velhas páginas do Correio das Artes, deparo-me com a pena inteligente, ao mesmo tempo ácida e sensível, deste irmão mais velho de Agnaldo Almeida, e sinto que algo de precioso se perdeu no tempo. Muitos de seus artigos a respeito da arte, da ciência, da filosofia, da literatura poderiam muito bem constituir um ou dois volumes que preservasse o legado de suas ideias e a agudeza crítica de seu pensamento.
Agnaldo Almeida também já se foi, não nos deixou nada em forma de livro. No entanto, sempre li, no dia a dia dos jornais impressos, suas páginas de indiscutível valor a transbordar da fugacidade do tempo e da circunstância, detentoras daquele olhar especial que só o autêntico jornalista possui. Dos que ainda estão por aqui, penso em Carlos Aranha e Kubistchek Pinheiro. Naquele, pela transversalidade temática de “Essas Coisas”, pelos insights estéticos, sobretudo, quando o assunto é música ou comportamento. Neste, pelo verbo ambivalente, temática plural e heterodoxa, capacidade de pensar crítica e poeticamente os artefatos e atores da cena cultural.
Se eles não nos deixarem pelo menos um livro, farão parte, infelizmente, desse elenco dos que fazem falta.
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TURISMO - 19/12/2024