João Pessoa, 22 de abril de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Às vezes passamos por alguns lugares que prendem a nossa alma. Você já esteve em algum lugar, por exemplo, tão bonito, tão bonito, que teve a sensação de que quando saiu de lá sua alma ficou? E aí, pra ter a sua alma de volta, você precisa retornar diversas vezes. Promover o encontro do corpo com a sua essência. Eu já estive em lugares assim. Eles permeiam as minhas lembranças e, quando estou longe deles, a simples recordação me faz sentir tudo que sentia quando estava lá: cheiros, temperatura do ambiente, músicas que ouvi…
Chamam a isso de saudade. Mas acho que vai além. É como se você tivesse sido realmente marcado. Você voltou, mas deixou uma parte sua por lá. Pode até não lembrar de todos os detalhes, mas a linha do tempo que passa na nossa cabeça mostra um filme com tudo que significou mais. Lembro-me de um pôr do sol assim. Foi o mais lindo que já vi em toda minha vida. E olha que sou viciada em pores do sol. Não posso ver uma janela alaranjada, que já corro para observar. Não sei ao certo o motivo. Mas, é como se o sol estivesse conversando comigo, dizendo: estou indo… preciso descansar… mas amanhã volto, cheio de possibilidades. Enfim… voltando ao pôr do sol mais maravilhoso que já vi… foi realmente esplendoroso… e, pra completar tinha uma calçada, onde pessoas caminhavam, conversavam… e tinha o mar… pedras, barcos… definitivamente minha alma ficou por lá.
A vista de uma janela também já fez isso comigo. Nem era uma visão tão bela, se comparada ao pôr do sol. Se bem que poucas coisas se comparam a isso. Era uma paisagem urbana, com prédios, casas, pessoas indo e vindo, telhados, poucas nuvens no céu. Mas, por algum motivo, aquela visão tomou uma parte de mim. Neste caso, acho que sei o que aconteceu. Quando eu estava lá, disse para mim mesma: vou fotografar na minha memória este momento, cada detalhe… pois não quero esquecer. Vou te dizer… eu já quis esquecer. Não consegui. Não sei se você já passou por isto, mas a minha memória fez exatamente o que pedi pra que ela fizesse.
Acho que não voltarei a contemplar aquele pôr do sol. Posso vê-lo em fotos, inclusive, mas prefiro a lembrança que guardo comigo, ela vem carregada de sensações. Também não vou olhar pela mesma janela, disto tenho certeza. Mas lembrarei dos telhados, dos prédios, do céu, das construções ao horizonte.
Meu corpo nunca encontrará novamente a parte de sua essência que ficou por lá. Mas ele sente e sabe onde essa parte ficou. Corpo lacerado, profundamente recortado, bordas irregulares, vai vivendo assim e sabendo que ainda perderá muitas partes por aí.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
NOVA VAGA - 17/12/2024