João Pessoa, 08 de fevereiro de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Incapacitado de agir sob o marco das Nações Unidas, o governo americano estuda diferentes opções para ajudar a oposição síria a acabar com o regime de Bashar al-Assad, inclusive a possibilidade de armar os rebeldes, apesar do risco de acelerar uma guerra civil já em gestação. Barack Obama, que citou a destituição de Assad como um passo imprescindível para a solução da crise síria, discutiu na terça-feira com seus principais assessores de segurança as diferentes alternativas de que dispõe para alcançar este objetivo. O presidente americano terá que agir com energia e evitar, ao mesmo tempo, a propagação do conflito que poderia ter perigosas repercussões numa região muito instável.
A grave deterioração da situação humanitária, com mais de 6 mil mortos até agora, e o bloqueio por parte de Rússia e China no Conselho de Segurança da ONU obriga os EUA a tomar mais decididamente a iniciativa para não dar uma imagem de passividade diante do que pode acabar sendo uma prova sobre a capacidade de liderança internacional de Obama. Depois de tudo o que foi dito por membros do governo, incluindo o presidente, a permanência de Assad no poder só seria interpretada como uma derrota de Obama e um triunfo de Rússia e China.
O governo americano está, portanto, pressionado a agir, mas não conta com muitos instrumentos para isso. Descartada, ao menos agora, uma intervenção militar direta nos moldes da que ocorreu na Líbia, os EUA se veem limitados a uma ação diplomática e ao apoio direto e indireto à oposição síria. O governo americano, que prefere evitar sua participação direta no envio de armas aos rebeldes da Síria, parece disposto a tolerar ou incentivar que outros países façam isso, como Arábia Saudita, Qatar e Turquia.
– Muitos sírios que estão sendo atacados por seu próprio governo estão começando a se defender, e é de se esperar que seja assim – declarou Hillary Clinton.
A entrega de armas aos insurgentes estaria moralmente justificada para compensar a ajuda que a Rússia dá neste campo ao regime de Assad, mas representa um perigo evidente de transformar um levante popular numa guerra civil que poderia ser mais longa, sangrenta e de final incerto. É preciso levar em conta, além disso, o efeito que teria no estado permanente de tensão com o Irã, que poderia estar interessado em qualquer pretexto internacional para romper seu isolamento.
Para os EUA, um dos princípios de sua atuação na Síria, de acordo com a doutrina Obama, é de não tomar medidas solitárias. Se conseguir apoio, pode empregar diversas meios, além das armas, para fotalecer o papel da opisção. Obama parece estar considerando o aumento das sanções econômicas sobre o regime e, assim como no caso da Líbia, a realização de uma conferência internacional sobre a Síria.
O objetivo, como explicou Hillary, seria tanto de enfraquecer a posição de Assad quanto de deslegitimar o comportamento de Rússia e China. Nas circunstâncias atuais, fazer tudo isso à margem do Conselho de Segurança não supõe um grande prejuízo para a imagem dos EUA.
Mas, para especialistas, o envio de armas para a oposição pode provocar mais caos na Síria.
– Duvido que armar a oposição seja uma opção válida. Por um lado, seria dar asas a uma guerra civil já em andamento. Por outro, ninguém parece saber ao certo quem são as diferentes facções da oposição, nem seus objetivos – explica as analisa política Cristina Manzano, do grupo de estudos Fride.
O Globo
OPINIÃO - 22/11/2024