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Educador físico, psicólogo e dvogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Ex-agente Especial da Polícia Federal Brasileira, sócio da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. Autor de livros sobre drogas.

Drogas e os riscos para os educadores escolares

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publicado em 23/04/2024 ás 07h00
atualizado em 22/04/2024 ás 19h17

O meu “mister” com esta temática “drogas”, inevitavelmente me faz um frequentador assíduo das escolas, especialmente às públicas. Isso não significa que o problema seja maior nos educandários públicos. Embora seja necessário admitir que o uso indevido de drogas atinge todas as camadas sociais, na classe mais pobre este mal é bem mais devastador, haja vista as precariedades diversas a que essa parcela da população está exposta. Mas, é sabido que tal consumo indevido atinge a todas as classes sociais, da mais humilde à mais abastada financeiramente e ou intelectualmente. Mesmo assim, as discussões educativas em relação a esta temática, têm sido mais comuns nas escolas públicas. E assim sendo, poderíamos nos perguntar: por que tal problema não é abordado nas escolas particulares com a mesma frequência? Confesso que não tenho uma resposta segura pra esta pergunta, mas, segundo relatos de alguns educadores, uma das justificativas possíveis é que, geralmente os empresários (proprietários) das escolas privadas são muito zelosos com a preservação do bom conceito de seus estabelecimentos, e temem que o fato de promoverem campanhas ou ações educativas sobre drogas com seus alunos, possa passar a impressão para os pais destes jovens que aquele educandário está com problemas relacionados ao uso e ou tráfico de drogas. Assim, mesmo que tal fato esteja acontecendo, estas escolas tentam tratá-lo de forma mais discreta, ou até mesmo camuflá-lo.

Outro aspecto que certamente vale a pena considerar é que as escolas privadas, especialmente aquelas que promovem o ensino médio, estão sempre brigando pelos primeiros lugares no vestibular ou ENEM, ou seja, aprovarem o maior número possível de alunos nessa seleção para as universidades e, desta forma, priorizam apenas aquelas disciplinas clássicas deste concurso vestibular, deixando as discussões dos temas transversais, como o uso indevido de substâncias psicoativas, fora dos debates, salvo algumas exceções.

Devemos acrescentar também, que a maioria dos educadores e gestores escolares têm receio de abordar esta temática em sala de aula, seja por não se sentirem preparados no assunto, seja por medo de sofrerem algum tipo de represália ou violência por parte dos alunos usuários ou traficantes da comunidade.

Não é novidade que o combustível mais inflamável e gerador das violências na atualidade é o problema relacionado às drogas.  E, como já relatado, mesmo que o consumo destas substâncias seja comum em todas as classes sociais, o índice de violências é muito mais acentuado na classe pobre, que reside nas periferias desassistidas, pois as classes média e alta são mais assistidas e protegidas e, consequentemente, menos atingidas pelas violências relacionadas a este mal, até mesmo por conseguirem saldar facilmente suas dívidas com os traficantes.

A escola que no passado era um lugar destinado apenas ao aprendizado, socialização e lazer, tornou-se um ambiente tenso de desarmonias e medo, segundo relatos dos próprios educadores e alunos.

Há poucos dias, quando de uma dessas minhas participações numa escola de periferia em João Pessoa/PB, no turno noturno, que em geral é um dos mais problemáticos, me foi narrado por educadores e alunos daquele educandário um fato que por si só nos dá a noção da gravidade do problema. Foi adotado como norma daquele educandário o fechamento dos portões da escola a partir das 19 horas e 15minutos, e sua abertura apenas após o final das aulas. Tudo isso visando não apenas impedir a evasão de alunos e invasão de intrusos, mas também, e principalmente, dar mais segurança a todos.

Contudo, segundo o mesmo relato, é comum, o porteiro da escola ser procurado por alguns alunos que, de forma velada, entregam-lhe pequenos bilhetes, escritos por traficantes da comunidade, que exigem a liberação dos mesmos, antes do final das aulas, para que estes possam “trabalhar” no comércio ilícito de drogas.

Tais mensagens, ainda trazem ameaças explícitas a todos que de alguma forma descumpram ou contribuam para o descumprimento de tal ordem, sejam estes os alunos (auxiliares dos traficantes), professores, porteiros etc.

Diante de tal situação, o que fazer? Cumprir a norma da escola, não deixando ninguém sair? E colocar todos em risco? Ou abrir o portão e liberar aqueles alunos, que estão reféns do tráfico, para que possam sair quando convocados?

Como vemos não é uma questão de solução fácil e ou resposta pronta. Naquela ocasião apenas sugeri que a escola tentasse promover uma melhor integração desta com os pais, o conselho tutelar e a área de segurança pública.

É frustrante assistir o clamor de educadores, alunos, pais e comunidade em geral por mais proteção e segurança. Também é gritante a pouca capacidade e, às vezes, até a falta de vontade política do Poder Público em promover tais ações.

Ademais, não é incomum que, quando estas mesmas escolas tentam dividir tais angústias com os pais dos alunos, também não são ouvidas por estes, que na maioria das vezes preferem continuar omissos como dantes, delegando a responsabilidade apenas aos professores e gestores.

Assim sendo, esta pandemia de omissão transformou os educadores escolares e gestores em uma profissão de alto risco, pois tanto estes como os alunos, estão sempre expostos as violências dentro e fora das escolas.

 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB