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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Brincando com a sombra 

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publicado em 27/04/2024 ás 07h00
atualizado em 27/04/2024 ás 08h51

Sem sequer pensar, sem querer imaginar, quando soube que minha irmã mais velha está com princípio de Alzheimer, olhei para trás, lembrei de meu pai, que foi destruido por um câncer. Ele adorava ela.

Quando eu nasci, minha irmã tinha vinte e poucos anos, e foi ela quem ajudou a me criar.

Me vi descendo os batentes da casa da esquina da nossa família lá no sertão, e lancei meu olhar ao céu, tão lindo é o céu.

O tempo nos afasta ligeiro demais dos nossos, cada um vai para um lado e assim seguimos nos telefonemas. Minha irmã viveu mais tempo em Brasília, do que o Poder imagina ter, ao se estabecer ali. Não sei como se mora tanto tempo naquele lugar deserto, sem esquinas

Com flâmulas nas mãos, meu olhar triste entre a imagem dela e as flores do jardim da nossa casa, senti agonias, mas passou. O retrato dela está parede da varanda.

A paz e a esperança invadem-me, invade toda saudade que temos um do outro e me deparo com uma notícia dessa, de que os esquecimentos e as trocas de linguagens já estão bem nítidos. Eu peço a Deus que ela não se demore muito nas coisas esquecidas.

Cores multicores para ela, no devaneio impensado da minha vida sozinha. Lá longe sua estrada perimetral.

Sei que minha oração não faz sentido, mas sei que o amor  faz.

Uma luz celestial para ela, tão cândida e cheia de afazeres, que criou seus filhos, netos e a todos nós, os irmãos.

 O seu rosto no meu rosto. Coisas da vida. Nos confins do universo, eu mando ando um abraço pra ti.

Amanhã não sei mais, porque só o hoje prevalece.

Se ainda pudéssemos nos encontrar, eu a chamaria para brincar com nossas sombras, igual ao filme “Dias Perfeitos” – mas nós somos  tão imperfeitos…

Kapetadas

1 – Por pior ou melhor que pareça o dia de hoje, é bom lembrar: ele não veio para ficar.

2 – Mulher não precisa de data, precisa de protagonismo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB