João Pessoa, 03 de fevereiro de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A tentativa de evitar uma covardia contra um morador de rua que estava passando mal e era agredido por cinco jovens quase terminou em tragédia para o estudante de Desenho Industrial Vítor Suarez Cunha, de 21 anos, na madrugada de ontem. Ao tentar proteger o homem, que estava sendo chutado pelos agressores, na Praça Jerusalém, no bairro Jardim Guanabara, Ilha do Governador, o estudante foi espancado quase até a morte. Ele está internado com diversas fraturas na face em uma clínica particular.
Vítor conversava na Praia da Bica com o estudante Kléber Carlos Silva, de 20 anos e uma outra amiga, quando percebeu que cinco rapazes começavam a chutar um morador de rua no centro da praça. O episódio aconteceu por volta de 1h. Esse mesmo homem, segundo ele, já havia sido atendido por uma ambulância do Samu às 22h, no mesmo local onde houve a agressão.
Ao se aproximar de um dos agressores, pedindo que ele parasse, foi hostilizado, dando início à confusão. Vítor contou que, depois disso, começou a levar chutes e socos no rosto, quando caiu no chão. O estudante disse que só não sofreu danos maiores porque Kléber se jogou sobre ele no momento em que era agredido.
— Eu ainda reconheci um deles, e disse que a gente estava sempre por lá. Disse que era uma covardia o que eles estavam fazendo. Ainda tentei defender meu rosto com o braço. Até que acabei desacordando — contou.
Testemunhas
Vítor sofreu diversas fraturas na face e terá que ser submetido a uma cirurgia. Ao prestar depoimento na 37ª DP (Ilha do Governador), o amigo do estudante reconheceu dois dos agressores, revelando seus nomes aos policiais. Os cinco seriam de classe média.
Os dois suspeitos foram ouvidos ontem mesmo na delegacia. Eles negaram as agressões ao morador de rua, mas um deles admitiu que se envolveu em uma briga com Vítor. O delegado Deoclécio Francisco de Assis Filho disse que um terceiro agressor também foi identificado e dever ser ouvido nas próximas horas. Outras testemunhas estão sendo localizadas ouvidas.
Para amigo, cenas absurdas e inesquecíveis
"Eu não consigo esquecer aquela cena. Aquilo não sai da minha cabeça de jeito nenhum. Pareciam urubus em cima de uma carne podre". Kleber Carlos Silva de Souza viu, durante cinco minutos, o amigo Vítor sendo espancado por cinco jovens, enquanto um sexto impedia que ele se aproximasse muito. Momentos que ele descreve como totalmente absurdos e inesquecíveis.
— Meu amigo foi agredido sem piedade na minha frente. E eu ainda me sinto culpado, pensando se não poderia ter feito algo mais — lamentou.
Foi de Kleber a iniciativa de conversar com um dos supostos agressores de Vitor para pedir que ele e os amigos parassem de chutar um mendigo que estava alcolizado e passava mal no local. Como resposta do jovem, ele ouviu que, no dia seguinte, o pai dele iria caminhar pela praia e certamente não ia querer se deparar com o morador de rua.
— O que ele disse foi inacreditável. Tentei resolver apenas com palavras, e acabou se transformando em algo incontrolável. Já não gosto de ver eles (moradores de rua) sofrendo, vivendo na rua, ainda mais apanhando de pessoas que têm um vida muito mais favorável — contou Kleber.
Mãe de vítima diz que briga são frequentes
Trabalhando como assistente social, a mãe do estudante, Regina Celi Suarez, de 50 anos, disse que sempre ensinou seus filhos a tratarem bem a população de rua porque, segundo ela, os mesmos não são culpados por estarem vivendo naquela situação.
— Meu ensinamento acabou fazendo com que meu filho, ao tentar se fazer de justiceiro, fosse espancado brutalmente — lamentou.
Regina mora desde que nasceu na Ilha do Governador e disse que são frequentes confusões envolvendo jovens no bairro Jardim Guanabara, onde fica sua casa.
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