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Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

Juro que é verdade

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publicado em 25/05/2024 ás 07h00
atualizado em 24/05/2024 ás 18h32

Em 1864 o General Melgarejo (foto)  derrubou o Presidente da Bolívia, José Maria de Achá. Pouco tempo depois o ex-Presidente Belzú, que por sua vez havia sido derrubado por Achá e estava exilado na Europa decidiu voltar ao país. Melgarejo mandou leva-lo ao palácio e lá deu-lhe dois tiros à queima roupa. Arrastou o corpo até a sacada e apoiou-se por trás do cadáver de modo que a multidão lá na praça pensou que Belzú havia retomado o poder e haja vivas ao ex presidente. Eis que senão quando Melgarejo soltou o corpo e apareceu na mesma sacada. Imediatamente a multidão passou a dar vivas a Melgarejo, que em seguida promulgou uma Constituição dando-se poderes para perseguir e matar opositores.

É pouco? É.

O tal do Melgarejo era admirador da França embora sequer conseguisse localizar Paris no mapa. Quando soube que a Prússia havia invadido a França, pegou ar. Para ele a Bolívia tinha o dever de salvar a civilização francesa. Convocou seus Generais para prepararem o envio de tropas à Europa. Um General ousou dizer que levaria muito tempo porque partiriam do oceano Pacífico em direção ao Atlantico. “Deixe de ser bobo, vamos pegar um atalho”, retorquiu Melgarejo. E partiu para a guerra, deixando no governo sua esposa (essa é uma outra história incrível, porém cadê espaço?). Enquanto montava a estratégia, descobriu que tinha 3 mil soldados, porém apenas 3 navios, nos quais cabiam apenas 600 pessoas. Problema nenhum, pensou ele. Reconfigurou os planos e decidiu embarcar pelo Atlantico, onde alugaria uns quantos navios. Planejou atravessar o Brasil pela Amazônia, porém pouco antes de sair do território boliviano soube que seu ídolo Napoleão III havia sido capturado pelos alemães e assinado a rendição. O pior da notícia; foi informado da neutralidade assumida pela Grã-Bretanha. A Rainha Vitória negara-se a ajudar os franceses. O homem ficou furioso e declarou guerra aos ingleses, expulsando o embaixador inglês que foi em lombo de burro até Buenos Aires de onde embarcou para dar as noticias à rainha. Vitória ficou possessa e disse que mandaria seus navios bombardearem a Bolívia. Porém, alertada pelo embaixador que a capital La Paz estava longe do litoral e a 3.600 metros de altitude, impossibilitando o bombardeio, a rainha Vitória tomou de tinta preta, dirigiu-se ao mapa e riscou a parte onde estava a Bolívia, esbravejando: “- A Bolívia não existe”.

Ao voltar a La Paz o General descobriu que sua bela esposa fugira para Lima com toda a grana que ele havia roubado. Logo depois foi deposto e seguiu para o exilio onde sua esposa solenemente o ignorou e posteriormente seu ex-cunhado o matou a tiros.

Este é apenas um dos muitos momentos capturados por Ariel Palácios no excelente livro “América Latina, lado B”, onde nosso continente não cansa de passar vergonha.

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