João Pessoa, 26 de maio de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Se a gente for pensar no tempo, o tempo esticado, daqueles que contribuíram para a cultura brasileira, o tempo que nos resta, é curto. É melhor pegar o beco, largar o celular, a mais nova guilhotina. Pouca gente sabe quem foi Sousândrade, muita gente não sabe. Nunca vai saber. Eis o tema.
O ousado Joaquim de Sousa Andrade, morreu há 122 anos e nesse tempo toda sua obra ficou para poucos. A Editora Anticítera está lançando uma coleção inédita dedicada à obra do poeta maranhense, o Sousândrade. São seis volumes. A coleção apresenta os livros que marcaram a literatura brasileira, O Guesa Errante, sua magnum opus, além de Harpas Selvagens, Harpas Eólias, Novo Éden, Harpa de Ouro e Liras Perdidas.
Dessa vez, os livros chegam com capas ilustradas pelo artista maranhense Anderson Bogéa, imagens que formam uma imersão na mente criativa de Sousândrade, revelando a evolução de seu estilo e o pensamento do tempo vivido, quando havia tempo para tudo.
A literatura de Sousândrade começou quando ele era jovem e teve o privilégio de estudar na Europa. Foi levado pela corrente do romantismo, mas com uma poesia inovadora. Sua arte está na complexidade linguística, essa afirmação acadêmica, que não costumo usar no meu texto.
Organizado pela especialista Luíza Lobo, o poema O Guesa Errante foi reintroduzido ao público em 2023, em nova edição, com 600 página e segue a publicação original londrina. O Guesa Errante é um poema épico forte, que narra a estrada de um jovem indígena pelas Américas, simbolizando uma crítica às opressões coloniais. Ou seja, mais atual não existe.
Nesse poema Sousândrade se apropria do caos, de um verso em rodopio, de uma linguagem certeira e híbrida, que é em si mesma uma quebra da linguagem, uma coisa que eu gosto muito, quebrar o texto, fragmentar, num combate com a língua dentro da própria língua – ora, que é o quer e o que pode, essa língua CV? Dica – mate o seu “sextô”
Numa tensão bartlebyana, jamais uma tensão flutuante, o poeta surge quando torce a língua materna e insere outros idiomas, fragmenta, urra, gagueja, hibridiza, cria cacofonia, dissonância e contraste, choque, aspereza e concisão, ou seja, o fim, mas já passamos do fim.
O que é bartlebyana? É uma síndrome cruel que faz os escritores desistirem para sempre de escrever. O nome “Mal de Bartleby” foi dado pelo espanhol Enrique Vila-Matas, a partir do conto “Bartleby, o escrivão”, de Herman Melville, o mesmo autor de “Moby Dick”. Sacam? Na história, o melancólico Bartleby trabalha em um escritório em Wall Street e, estranhamente, ao ser indagado sobre qualquer tarefa a ser realizada, responde: “Eu preferia não fazer”.
Sousândrade foi perfeito… e prefeito de São Luiz do Maranhão. Sem tirar onda, Sousândrade não mandou derrubar nenhuma árvore – se fosse o prefeito de João Pessoa hoje, certamente, não deixaria bares e restaurantes jogar fezes no mar – poxa, quem é do mar também enjoa, né?
Kapetadas
1 – Se os americanos só descobriram Machado de Assis em 2024, não saberão da minha existência é nunca, nem depois que eu escrever um best-seller atonal.
2 – Ô mundo, se eu me chamasse Raimundo, faria turismo com aviões, navios, trens, ônibus e carros. A Rússia faz com tanques.
3 – A ilustração a colorida é de Waniel Jorge artista Digital Generalista
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
OPINIÃO - 22/11/2024