João Pessoa, 28 de maio de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Josefa de Holanda tem 100 anos. A cabeça melhor que a minha, é claro. Uma lucidez impressionante.
Todos os dias ela leva a cadeira e vai sentar na calçada da praia do Cabo Branco, no entardecer. É um deslumbre, um desenho, indomável, um amor que cultivo. Sim, ela está de passagem, ela é ela e deixa ela lá.
A calçada da praia é o ponto de partida para conversas universais que, ao mesmo tempo, nos insere na paisagem. Eu estou lá, ela também.
Eu e Josefa de Holanda tínhamos uma amiga em comum, que partiu nesse maio laranja, amarelo, nublado. Na hora pensei: o que vou conversar com minha amiga Josefa, sobre a morte da nossa amiga?
Cabe sua imagem num quadro, igual quando o artista Flavio Tavares pintou Dona Canô, mãe de Caetano Veloso, que mandei para ela pelo Correio, o tal Sedex. Ela adorou. Ela que eu digo, é Dona Canô. Para quem não sabe eu tenho carta de Dona Canô, iaiá e ioiô.
Dona Josefa de Holanda não para. Andou fazendo um curso de pintura no Sesc Lagoa, depois dos 97 anos e lá também faz o maior sucesso. .
Ela é uma dama! Não titubeia.
Dona Josefa é espécie guia porque senão eu teria me perdido das dores perdidas. Só ela ela sabe que eu sou um personagem, eu não existo. E não quero me afastar dela.
O truque da vida é deixar-se levar como um voo.
Quando cheguei para Dona Josefa de Holanda e falei que estava triste com a morte da nossa amiga – minha e dela, ela olhou bem pra mim e disse: “Deixe ela lá”.
Isso dela dizer deixe ela lá, me fez entender mais do que nunca – se ela morreu, deixe ela lar.
A morte é um desvio, uma viagem, adeus.
Kapetadas
1 – Tudo depende, independentemente de qualquer coisa.
2 – Sem dúvida nenhuma, a melhor citação da vida contemporânea é: “então é isso, gente!”
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OPINIÃO - 22/11/2024