João Pessoa, 28 de maio de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

 Vamos cuidar na vida

Comentários: 0
publicado em 28/05/2024 ás 07h00
atualizado em 28/05/2024 ás 08h11

Josefa de Holanda tem 100 anos. A cabeça melhor que a minha, é claro. Uma lucidez impressionante.

Todos os dias ela leva a cadeira e vai sentar na calçada da praia do Cabo Branco, no entardecer. É um deslumbre, um desenho, indomável, um amor que cultivo. Sim, ela está de passagem, ela é ela e deixa ela lá.

A calçada da praia é o ponto de partida para conversas universais que, ao mesmo tempo, nos insere na paisagem. Eu estou lá, ela também.

Eu e Josefa de Holanda tínhamos uma amiga em comum, que partiu nesse maio laranja, amarelo, nublado. Na hora pensei: o que vou conversar com minha amiga Josefa, sobre a morte da nossa amiga?

Cabe sua imagem num quadro, igual quando o artista  Flavio Tavares pintou Dona Canô, mãe de Caetano Veloso, que mandei para ela pelo Correio, o tal Sedex. Ela adorou. Ela que eu digo, é Dona Canô. Para quem não sabe eu tenho carta de Dona Canô, iaiá e ioiô.

Dona Josefa de Holanda não para. Andou fazendo um curso de pintura no Sesc Lagoa, depois dos 97 anos e lá também faz o maior sucesso. .
Ela é uma dama! Não titubeia.

Dona Josefa é espécie guia porque senão eu teria me perdido das dores perdidas. Só ela ela sabe que eu sou um personagem, eu não existo. E não quero me afastar dela.

O truque da vida é deixar-se levar como um voo.

Quando cheguei para Dona Josefa de Holanda e falei que estava triste com a morte da nossa amiga – minha e dela, ela olhou bem pra mim e disse: “Deixe ela lá”.

Isso dela dizer deixe ela lá, me fez entender mais do que nunca – se ela morreu, deixe ela lar.

A morte é um desvio, uma viagem, adeus.

Kapetadas

1 – Tudo depende, independentemente de qualquer coisa.

2 – Sem dúvida nenhuma, a melhor citação da vida contemporânea é: “então é isso, gente!”

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

Leia Também