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Paraibano da Capital. Tocador de violão e saxofone, tenta dominar o contrabaixo e mantém, por pura teimosia, longa convivência com a percussão, pandeiro, zabumba e triângulo. Escritor, jornalista e magistrado da área criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba.

PRESENÇA TÓXICA

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publicado em 03/06/2024 às 19h14

Na diversidade humana é possível encontrar tipos bastante curiosos. Alguns, entretanto, são mais interessantes, e se sobressaem , destacando-se da média. Os  chatos, por exemplo, não passam despercebidos em lugar algum. Guilherme Figueiredo estudou-os profundamente, e publicou suas conclusões em alentado volume, o “Tratado Geral dos Chatos”.  Nesse trabalho quase científico, o  autor de “As Excelências” ensina o processo de identificação dos chatos e como evitá-los, além de apresentar  classificação bastante útil, dos diversos tipos.

Em regra, os  chatos  são quase inofensivos, causam poucos danos passageiros. Podem estragar uma refeição, sentando-se à mesa sem convite, atrapalhar eventos , emitir opiniões não solicitadas sobre assuntos que não lhes dizem respeito, deteriorar conversas ,  tentar decidir o que é bom para a vida do interlocutor. Coisas desagradáveis, sem dúvida, mas, não letais.

Alguns degraus acima dos chatos – ou abaixo, se considerarmos as profundezas do inferno como referencial – encontram-se os tóxicos. Esses sim, se não forem interrompidos ou afastados da vida das vítimas, podem provocar danos permanentes. Pessoas assim, nefastas , são  mais comuns que pensamos. A literatura está repleta. A mãe da famosa  Dona Flor,  Dona Rosilda era um desses tipos. Segundo Jorge Amado, Dona Rosilda “quando não estava infernando a vida de alguém , sentia-se vazia e triste” . Vadinho sabia resistir, e conseguia reverter o jogo, irritando a velha. O  outro genro, entretanto, preferiu mudar-se para o Rio de Janeiro, decidido a não voltar, enquanto Dona Rosilda vivesse e empesteasse a Bahia.

Não se sabe ao  certo como surgem os tóxicos. Há quem diga que , desde cedo é possível perceber os sinais. Aquele pequeno pimpolho cujos pais fazem questão de levar em visita aos conhecidos, e detonam a casa inteira diante dos olhos aterrorizados do anfitrião, é um tóxico em potencial.

O tóxico não tem limites nem escrúpulos. Não quer saber se está sendo mal educado ou desagradável. Sente genuíno prazer em criticar o semelhante, apontar-lhe os defeitos , e convenientemente ignorar qualquer virtude que porventura tenha. Sempre enfatiza o negativo, o  lado ruim. Se uma situação qualquer apresenta nove aspectos positivos e apenas um negativo, o tóxico vai como uma flecha  em cima do negativo. Exalta-o, e, com olhar triunfante, mal disfarça a  satisfação.

Um dos momentos mais difíceis para o tóxico, todavia, é quando alguém obtém êxito, se dá bem na vida. Não importa se o sucesso tenha sido alcançado em decorrência do esforço, dedicação, renúncia e competência do vitorioso. O sucesso alheio, para o tóxico, é ofensivo, provoca-lhe mal estar e raiva. Bom mesmo, para o tóxico,  é ver alguém  se lascando. Aí sim, mal disfarçando um sorriso, dá-se ao luxo de ser condescendente, diante da desgraça do próximo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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