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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

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publicado em 26/06/2024 às 07h00
atualizado em 25/06/2024 às 15h12
Passando por entre as serras, outrora caminhos de tropeiros, deixamos Serraria e entramos na paisagem urbana de Areia, passando pelos arredores, avistamos a vastidão dos canaviais pelas terras de Alagoa Nova. A paisagem onde Gonzaga antes caminha, nos recorda o tempo das caminhadas matinais quando se dirigia para as missas dominicais na cidade.
Quando Gonzaga aniversaria, fazemos esse percurso pela imaginação porque o tempo chuvoso nos recolheu à nossa casa. As lembranças das antigas caminhadas pelas paisagens do Engenho Vitória, com o registro fotográfico de Antônio David, andam conosco.
Durante a viagem, cada árvore na beira da estrada, da antiga morada de paredes largas e janelas dando para os horizontes e das todas casas de antigos moradores, o olhar que revelava os tempos idos e vividos pelo velho Avelino e dona Antonina.
Encurtamos o passo para contemplar o veio d’água que nunca seca, mantendo as semelhanças de 90 anos atrás, quando o menino Luiz carregava nas costas o galão com duas latas de frende com água doce e saborosa para reabastecer o pote mantido em um canta da cozinha.
Naquela viagem de dez anos atrás, o menino Luiz voltou a percorrer o pomar com as doces goiabas, sapotis, laranja-cravo, seriguela. O lugar do jirau onde a mãe cultivava coentro, tomate, hortelã da folha miúda, pimenta malagueta e cebolinha parecia ser o mesmo. O cheiro do café fervendo no fogão a lenha ainda inundava a sala.
Sempre calado, observava o amigo no seu caminhar lento pelo terreiro da casa, seu andar de camponês que nunca tirou o olhar do chão.
Assim como retorno ao sítio Tapuio que anda comigo, com meu caminhar lento, percorro as veredas e encostas de Alagoa Nova reveladas por Gonzaga nas suas crônicas e nas conversas. Sempre fui atrás de seus dotes literários para revelar meus sonhos.
São cinco décadas dele recolhendo as lições que Nathanael Alves não teve tempo de me repassar, sempre animadoras porque alimentadas pela amizade sem subterfúgios e pela literatura, pela leitura como alimento para a alma.
 A cada aniversário de Gonzaga Rodrigues é um retorno ao passado que construímos a partir dos nossos encontros no terraço do saudoso Nathan, nos primeiros anos da década de 1970, uma amizade reciproca, sem nunca querer cada em troca, por isso duradoura. Ambos me fizeram vislumbrar um futuro melhor na persuasão pela força das letras.
Durante todo esse tempo, nas minhas ansiedades literárias, recorro a ele. Como um filho a retirar o chapéu da cabeça e se inclina quando pede a benção, em sinal de reverência e respeito.
Desejava falar de Gonzaga Rodrigues como literato, do jornalista que transformou a crônica em literatura, sempre preocupado com a melhor leitura, mas terminei falando do meu apego a ele. Coisa de pai para com filho, avô e bisavô.
Neste momento que celebramos seus 91 anos, porque dele sempre recebi o abraço e o livro, um beijo do coração como se fosse em meu pai, que agora é saudade.
 (Nessa sexta-feira, dia 21/06, Gonzaga completou 91 anos de idade, nossa homenagem)

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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