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Caymmi, um homem de afetos, vira filme dirigido por Daniela Broitman

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publicado em 29/06/2024 às 11h57
atualizado em 29/06/2024 às 15h57

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Está em cartaz neste domingo, (30) no Cine Banguê do Espaço Cultural, o longa-metragem “Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos”, da diretora Daniela Broitman.  Sessão Às 15h. Quem gosta de Música Popular Brasileira MPB, e conhece a obra do imenso Caymmi, não pode perder essa viagem pela vida e obra do cantor e compositor baiano, que influenciou gerações de músicos.

O documentário estreou em   abril no Rio e São Paulo, na semana em que Dorival Caymmi completaria 110 anos, uma celebração para esse imensurável legado que o artista deixou para a cultura brasileira

Não custa lembrar que Dorival Caymmi conquistou o mundo na voz de Carmem Miranda e consagrou a música brasileira no exterior com seu primeiro sucesso, “O que é que a baiana tem?”. Inovador que só ele, conseguiu,  na maneira de compor as letras e de tocar o violão, uma referência e até hoje,  uma fonte de inspiração que não seca. “Muita gente gravou Caymmi”, diz Daniela Broitman.

O filme é todo conduzido por canções e descobertas, emoções – é o retrato de Dorival Caymmi na parede do mundo, como um cronista do cotidiano, que narra nos versos os costumes, anseios, a gastronomia baiana e a graça da sua, nossa gente nordestina, especialmente a história dele.

O filme de Daniela Broitman traz uma entrevista inédita com Caymmi,  (84 anos),  com confidências, e revela sua afetividade pelas coisas mais simples da vida. Estão lá os pescadores baianos e a espiritualidade no candomblé, todas as histórias de amor e são muitas.

A narrativa se completa com a fala dos filhos Dori, Nana e Danilo Caymmi; os amigos Caetano Veloso e Gilberto Gil; a ex-nora e compositora Ana Terra; o neto Gabriel Caymmi; o produtor e amigo Guto Burgos e a cozinheira e confidente, Cristiane de Oliveira. Imperdível!

Caymmi pelo mundo

Após sua primeira exibição na Mostra Competitiva do É Tudo Verdade, “Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos” – sucesso total com participação em mais de 20 festivais – entre eles, os renomados DocLisboa Festival Internacional de Cinema (Portugal) e Bafici – Buenos Aires Festival Internacional de Cine Independiente (Argentina), o longa venceu o Prêmio de melhor filme do Júri Popular e o Prêmio Especial do Júri no In-Edit Festival Internacional do Documentário Musical, ganhou o Crystal Lens Award no Inffinito Brazilian Film Festival (EUA) e rendeu à diretora uma homenagem no Recine (Rio de Janeiro). Também foi convidado a participar da Womex, a maior conferência do cenário musical global.

Cineasta e jornalista, com mestrado da University of California – Berkeley, Daniela Broitman trabalhou como repórter nos jornais Folha de São Paulo e O Estadão, onde fez parte da equipe que criou o Caderno Zap!, vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo.

Em entrevista ao MaisPB, ela fala de mil coisas sobre o filme, coisas incríveis, como encontrou Cristiane de Oliveira, que trabalhava na casa da família Caymmi, mas a gente não conta, leiam a entrevista e assistam ao filme – (o trailer está no final da entrevista) – que só passa neste no domingo, no Cine Banguê.

MaisPB – Quando começou o projeto do filme Caymmi?

Daniela Broitman  – Depois de “Marcelo Yuka, no Caminho das Setas” meu longa, com esse grande artista, músico brasileiro, comecei a pensar e elaborar o projeto do filme  sobre a vida e obra de Caymmi.

MaisPB – Quanto tempo até o filme chegar na ilha de edição?

Daniela Broitman – Olha, o embrião começou mesmo há dez anos. Demorou, porque a capacitação da verba – eu usei o dinheiro da premiação do meu filme Marcelo Yuka, o investimento que ganhamos da Agência Nacional de Cinema, que saiu em 2016 e a partir daí, eu comecei a movimentar o projeto, cuja produção levou quase cinco anos. E veio a pandemia, a paralisação de todos os projetos.

MaisPB – E teve outro edital que você ganhou, né?

Daniela Broitman – Sim, o filme é coprodução da  Spcine (uma empresa de cinema e audiovisual de São Paulo). É uma realização da Videoforum Filmes ( minha produtora) coprodução da Spcine  e do Canal Brasil

MaisPB – Vamos falar das imagens de Caymmi na residência Marcelo Machado?

Daniela Broitman – Essas imagens eram de uma produtora que não existe mais. Elas são importantes para o filme:  além delas existem outrras imagens inéditas do aniversário dos 80 anos dele, as imagens da Casa do Tom. As imagens da Casa do Tom são diferentes das que estão no DVD.

MaisPB – Como foi o encontro com Gil e Caetano?

Daniela Broitman – Foi muito bom conversar com eles. Eu quero muito que Caetano veja o filme, ele e familiares. O  Gil diz lá no filme uma coisa linda, que “enquanto ele existir, existirá Caymmi”.

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MaisPB – Foi muito bom ter feito esse filme, né?

Daniela Broitman  – Sim. Foi um mergulho na obra de Caymmi, muito profundo, me fez muito bem saber mais sobre a vida, porque Caymmi é um poeta da vida, altamente espiritualizado. Eu aprendi muitas coisas fazendo o filme, de me aprofundar na obra desse artista, das imagens com ele e sobre ele, de ouvir as canções de Caymmi, que elevam a nossa frequência, falando em termo de física quântica –  as canções dele trazem  essa vibração alta, uma frequência nas alturas, pelo menos pra mim. Me deixam num estado quase meditativo, o estado que ela vivia, contemplativo.

MaisPB – Ficou alguma coisa fora no filme?

Daniela Broitman – Ficou muita coisa fora do filme, não só dos depoimentos de Caymmi mas além dos entrevistados todos, Gil, Caetano, Ana Terra, Gabriel e Cristiane, Dori, Danilo, Nana e Guto. Eu conversei com cada um cerca de duas horas. E aí entram cinco minutos de cada um no filme – esse é o grande sofrimento para quem está dirigindo o filme, é tipo A Escolha de Sofia.

 MaisPB – Vamos falar de seus filmes anteriores, “Marcelo Yuka, no Caminho das Setas” , que é sobre música, é muito importante, já que o novo é com a música de Caymmi?

Daniela Broitman – Eu já fiz 4 filmes – A Voz da Ponta – A Favela Vai ao Fórum Social Mundial”, “Meu Brasil” e “Marcelo Yuka no Caminho das Setas”. O filme sobre o músico fundador da banda O Rappa, que foi exibido nos cinemas, GNT, Canal Brasil, TV Brasil, Netflix e outras plataformas, e conquistou pela minha produtora Videoforum Filmes o Prêmio de Incentivo à Qualidade do Cinema Brasileiro (Ancine).

 MaisPB – O filme do músico Marcelo Yuka, que levou 9 tiros, num assalto no Rio de Janeiro? Tem essa parte no filme?

Daniela Broitman –Sim, é uma parte pequena do filme, mas sim. Esse filme é bem importante, porque junta os dois gêneros, que eu estava trabalhando com questões ligadas à justiça social, música e arte. O Yuka se transformou num ativista social pela paz. Ele já era autor de muitas canções, como Minha Alma, que é Paz Sem Voz Não é Paz é Medo, e outras que estouraram na banda. Muitos artistas gravaram essa canção.

MaisPB – Uma cena muito bonita no filme, foi a participação da Cristiane Oliveira, que trabalhava na casa da família Caymmi. Vamos falar sobre esse momento?

Daniela Broitman – Eu já estava querendo encontrar a Cristiane, quando eu soube dela, eu queria muito que ela participasse do filme. Durante a pesquisa, a gente não a encontrava de jeito nenhum, ninguém tinha o contato dela. Foi mágico nosso encontro.

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MaisPB – Como assim?

Daniela Broitman –  Fomos para Minas entrevistar Nana, na cidade na  casa em Pequeri, que foi onde Dorival Caymmi morou com a mulher e os filhos. Fui com minha equipe filmar o Dori em Petrópolis, e depois, para Pequeri (antigamente era chamada de São Pedro de Pequeri) Nós tínhamos uma entrevista com Nana na parte da tarde, chegamos pela manhã e fomos conhecer a cidade. Resolvi filmar a estação do trem quando chega uma moça e pergunta – “o que vocês estão fazendo aí, filmando o quê?  – eu disse que era um filme sobre Caymmi. Ela disse “Ah, seu Dorival?”, eu trabalhei na casa dele….”

MaisPB – Ué, o personagem chegou até você?

Daniela Broitman – Eu a abracei e disse que há meses procurávamos por ela, que não acreditou. Gostaria de fazer uma entrevista com você: podemos gravar agora? Ela só  pediu para se arrumar e já começamos a filmar. Foi incrível  – a única entrevista em que a gente usa só uma câmera, porque não estava planejado. Muito feliz de ter encontrado a Cristiane. A gente até achou que era “Pai Dorival” que estava nos iluminando. E foi…

Fotos – Desirée do Valle, Leo Bandeira, Jacques Cheuiche e Julia Kurc

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