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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Viagens sem Gulliver 

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publicado em 30/06/2024 ás 08h29

Só tive dois textos censurados em toda minha vida de jornalista – um, sobre o tiro que o governador Ronaldo Cunha Lima deu em Tarcísio Burity, no Guliver Tambaú, no século passado – esse, foi no Jornal Correio da Paraíba.

O outro foi no Jornal O Norte, quando escrevi sobre o poema “Sexta-feira à noite” de Marina Colasanti, publicado em 1968, no seu livro de estreia “Eu Sozinha”, que anunciava que os homens penetram em suas mulheres como colocam o carro na garagem, o dedo no nariz.

No primeiro, um pequeno texto com restos da cena do Gulilver, que o Correio da PB censurou. Naquele tempo, o poder mandava nos meios de comunicação.  Mandava?

O outro texto, escrito em 1983, eu escavava o machismo com uma picareta – focado no poema que Marina Colasanti escreveu com superioridade. A cada verso um punhado de terra na cara dos machistas, que ainda hoje trazem em si a herança paterna, enquanto as mulheres cresceram tanto, mas tanto, que de tanto tentarem se libertar do mundo masculino, chegaram lá. Algumas…

No primeiro verso, “Sexta-feira à noite, os homens acariciam o clitóris das esposas com dedos molhados de saliva. O mesmo gesto com que todos os dias contam dinheiros papéis documentos e folheiam nas revistas a vida dos seus ídolos”

Tem um conto genial de Dalton Trevisan, no livro “Cemitério de Elefantes” cuja obra foi relançada pela Editora Record, sobre o casamento de Bento com Santina. Na noite de núpcias, B descobre que S não era mais virgem, que havia sido abusada por um primo, mas o marido não aceita, e devolve Santina aos pais. Menos mal, Trevisan não matou a personagem.

Presos a uma cena remota, muitos homens não aceitam o tema, quando se trata da evolução da mulher. Vamos imaginar que o aumento de feminicídio, abrange uma grande parte de homens que vivem à margem. Ledo engano.

O segundo verso do poema de Marina Colasanti vai mais dentro – “Sexta-feira à noite, os homens penetram suas esposas com tédio e pênis. O mesmo tédio com que todos os dias enfiam o carro na garagem o dedo no nariz e metem a mão no bolso, para coçar o saco”

No terceiro verso, a poetisa suaviza, mostrando as mulheres procurando o príncipe encantando. Vamos pensar que sim, que as mulheres ainda procuram seu príncipe, mas não existe essa figura. É outra vibe.

A vida calada não faz sentido. Como está na canção do ex-baterista do Rapa, Marcelo Yuka, “paz sem voz, não é paz, é medo”

Eu fixo meu texto na memória. Tudo flutua, tudo passa. Durante anos guardei essa história dos dois textos censurados, sem a menor vontade de escrever sobre esse assunto. Qual assunto? Ah, o poema de Marina Colasanti, para que outras pessoas possam conhecer sua arte.

Apesar de ainda estarmos na caverna, não somos os únicos sobreviventes do clássico naufrágio imaginário do autor  Jonathan Swift,  (Viagens de Gulliver) , que tinha como objetivo criar um retrato da natureza humana e atacar sua mesquinhez.

A ventania continua, mas as mulheres não estão mais à deriva.

Kapetadas

1- Acredite se quiser: existem muito mais posições para praticar abstinência do que para fazer sexo.

2 – A maconha tem efeitos incríveis em diferentes pessoas. Nos usuários, pode provocar prazer e euforia. Nas autoridades caretas, medo e paranoia.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB